quinta-feira, 27 de abril de 2023

Deu a louca nos advogados e porta-vozes que defendem os Bolsonaro. Artigo de Ricardo Noblat

 

Só a crença no absurdo é capaz de salvar Jair e Michelle dos apuros em que se meteram


 atualizado 27/04/2023 7:53

Imagem colorida mostra Ex-presidente Bolsonaro deixa depoimento na Polícia Federal sobre o 8 de janeiro - Metrópoles

Em menos de 48 horas, eles ofereceram duas saídas bizarras para os perrengues que enfrentam
 o ex-presidente e a ex-primeira dama, ambos às voltas com o escândalo das joias milionárias 
ofertadas pela ditadura da Arábia Saudita; e no caso específico de Bolsonaro, também com 
a tentativa de golpe do 8 de janeiro.

As joias de Michelle, no valor de 16,5 milhões de reais, foram apreendidas pela Receita 
Federal. As de Bolsonaro, que entraram ilegalmente no país, apareceram dentro de um pacote 
entregue nas mãos de Michelle no Palácio da Alvorada. E o que seu porta-voz disse depois d
e ela ter dito que desconhecia as joias?

Que o pacote, cujo conteúdo Michelle ignorava, ficou fechado dois ou três dias, abandonado 
sobre uma pia da cozinha do palácio. Mais tarde foi aberto. Foi quando ela soube das joias 
presenteadas ao marido. Quanto às joias destinadas a ela, Michelle só ouviu falar por meio 
da imprensa. Não as pediu, nem recebeu.

A segunda explicação bizarra: foi “sem querer”, e sob efeito de morfina, que Bolsonaro, 
internado em um hospital americano, postou um vídeo no Facebook de estímulo tardio ao 
golpe que fracassara. Com a palavra, Paulo Cunha Bueno, um dos advogados que acompanhou 
o depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal:

“Esse vídeo foi postado na página do presidente no Facebook, quando ele tentava transmiti-lo 
pro seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente. […] A postagem foi feita de forma equivocada, tanto que pouco tempo depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e
 imediatamente a retirou”.

Postado em 10 de janeiro, o vídeo questionava a lisura e a confiabilidade das eleições 
presidenciais  de 2022. Acusava Lula de não ter sido eleito de maneira legítima pela população, 
mas sim por um conluio entre ministros de tribunais superiores. Bolsonaro recuperava-se de uma obstrução intestinal.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou à época que a conduta de Bolsonaro poderia ser enquadrada no delito de incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal e cometido por quem estimula a prática de infrações. E que tinha “o poder de estimular novas ações” contra os 
Poderes da República.


Ao incluir Bolsonaro nas investigações em torno do golpe, Alexandre de Moraes destacou um 
trecho da manifestação da PGR que diz que ele disseminou falsas informações “sobre as instituições judiciárias responsáveis pela organização dos pleitos, alegando que tramavam contra sua reeleição”.

Morfina não combina com obstrução intestinal, segundo médicos consultados pelo O Globo. É um medicamento usado contra diarreia e tem potencial de agravar o quadro de obstrução intestinal de Bolsonaro. Além disso, ela não provoca um quadro de confusão mental, a não ser se ministrada em doses elevadas.

Para a professora de farmacologia e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Smaili, 
a alegação é “estranha”:

“É uma argumentação ruim porque a morfina causa mais constipação, ao provocar uma diminuição 
na motilidade gastrointestinal.”


“Em relação ao sistema nervoso central, a morfina causa principalmente sonolência, uma certa depressão. Agora, confusão mental, só numa concentração muito alta”.

Bolsonaro já havia recebido alta do hospital quando postou o vídeo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário