Brasileiros têm direito de suspeitar que por trás do vazamento da CNN que incinerou Dias há a intenção de limpar GSI para alguém mais confiável ao alto comando.
O presidente já recebeu o general Marco Antonio Amaro dos Santos para uma conversa sobre o futuro do Gabinete de Segurança Institucional, como informa a coluna Painel, da Folha de S.Paulo. A reunião foi de apenas dez minutos, na presença de Rui Costa (Casa Civil) e do chefe de gabinete Marco Antônio Ribeiro, o Marcola.
Não houve convite, como o próprio Amaro reconhece, mas noticia-se que uma outra reunião ficou acertada agora, na volta da viagem de Lula à Europa.
Há uma associação de boas vontades para facilitar a nomeação de Amaro ao cargo que até recentemente fora ocupado pelo general Gonçalves Dias, o GDias, homem que se é evidentemente ingênuo, demonstrou fidelidade total ao presidente da República e gozava da estima deste.
GDias foi derrubado por um vídeo malignamente editado pela CNN com a intenção evidente de implicá-lo como cúmplice das depredações dos golpistas no Palácio do Planalto.
Quando, pela divulgação da íntegra não adulterada das imagens, ficou claro que GDias, em momento algum se solidarizou com a escumalha que vagava ensandecida pelo Planalto, ele já tinha sido defenestrado, por motivo secundário. Ao que se sabe, ele não comunicara ao presidente ter estado em palácio na ocasião. E mais: teria informado não haver imagens das câmeras colocadas na antesala do presidente.
É plausível especular sobre as diversas possíveis intenções de GDias, ao ocultar e mentir. não excludentes entre si. Poderia querer esconder seu erro de avaliação e sua passividade diante da invasão. Poderia querer reunir informações e evidências sobre subordinados.
O fato é que o GSI estava e está infestado de militares bolsonaristas remanescentes da gestão de um dos mais empedernidanente reacionários colaboradores de Bolsonaro, o general Augusto Heleno.
Nomeado às pressas para sanear a lambança, o ministro interino, Ricardo Capelli, vem apontando exatamente para os generais Heleno e Braga Netto pela infestação de militares golpistas implicados no apoio à destruição do Palácio. Não se sabe por que essa gente flagrada nos vídeos segue solta.
Com tantas provas da participação de generais do Exército nos fatos, é estranho que o presidente Lula, o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, o chefe do Exército, Thomas Paiva, e o interino Capelli se unam na defesa de mais um general para a chefia do GSI.
Se não fosse extinto, o GSI deveria ser mantido à distância dos militares, ainda mais de quem é indicado pelo Alto Comando do Exército, instância que unificadamente decidiu hospedar em área militar acampamentos golpistas ao longo de semanas e meses.
Quem pode ainda duvidar dos desígnios dos generais da cúpula do Exército?
A sociedade brasileira tem direito de suspeitar que por trás do vazamento da CNN que incinerou Dias há a intenção de limpar a área no GSI para alguém mais confiável ao alto comando.
A apuração sobre a participação da cúpula militar nas manifestações antidemocráticas e na tentativa de golpe, inclusive na invasão aos palácios, é muito mais importante ainda do que a investigação e o julgamento, que correm com rapidez, da ralé que arruinou o Planalto, o Congresso, o STF.
Neste inquérito, se levado a cabo com coragem, o país terá afinal que acertar as contas com o cerne das turbulências institucionais que geraram a ditadura militar e o fenômeno Bolsonaro.
Qualquer tergiversação com o esclarecimento, doa a quem doer, desse aquadrilhamento da estrutura superior da força armada com o crime implicará a contratação de novos golpes originados por patentes ocultas no interior do aparelho de Estado, mas sempre atentas a novas estocadas contra a democracia.
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