quinta-feira, 27 de abril de 2023

Está na hora de apurar e punir os ataques da cúpula militar ao regime democrático. Artigo de Mário Vitor Santos

 

Brasileiros têm direito de suspeitar que por trás do vazamento da CNN que incinerou Dias há a intenção de limpar GSI para alguém mais confiável ao alto comando.

www.brasil247.com - Gonçalves Dias no Palácio do Planalto durante ataques de 8 de janeiro

Gonçalves Dias no Palácio do Planalto durante ataques de 8 de janeiro (Foto: Polícia Federal | STF | Joedson Alves/Agência Brasil

O presidente já recebeu o general Marco Antonio Amaro dos Santos para uma conversa sobre o futuro do Gabinete de Segurança Institucional, como informa a coluna Painel,  da Folha de S.Paulo. A reunião foi de apenas dez minutos, na presença de Rui Costa (Casa Civil) e do chefe de gabinete Marco Antônio Ribeiro, o Marcola.

 Não houve convite, como  o próprio Amaro reconhece, mas noticia-se que uma outra reunião ficou acertada agora, na volta da viagem de Lula à Europa.

 Há uma associação de boas vontades para facilitar a nomeação de Amaro ao cargo que até recentemente fora ocupado pelo general Gonçalves Dias, o GDias, homem que se é evidentemente ingênuo, demonstrou fidelidade total ao presidente da República e gozava da estima deste.

GDias foi derrubado por um vídeo malignamente editado pela CNN com a intenção evidente de implicá-lo como cúmplice das depredações dos golpistas no Palácio do Planalto.

 Quando, pela divulgação da íntegra não adulterada  das imagens, ficou claro que GDias, em momento algum se solidarizou com a escumalha que vagava ensandecida pelo Planalto, ele já tinha sido defenestrado, por motivo secundário. Ao que se sabe, ele não comunicara ao presidente ter estado em palácio na ocasião. E mais: teria informado não haver imagens das câmeras colocadas na antesala do presidente.

 É plausível especular sobre as diversas possíveis intenções de GDias, ao ocultar e mentir. não excludentes entre si. Poderia querer esconder seu erro de avaliação e  sua passividade diante da invasão.  Poderia querer reunir informações e evidências sobre subordinados.

 O fato é que o GSI estava e está infestado de militares bolsonaristas remanescentes da gestão de um dos mais empedernidanente reacionários colaboradores de Bolsonaro,  o general Augusto Heleno.

 Nomeado às pressas para sanear a lambança, o ministro interino, Ricardo Capelli, vem apontando exatamente para os generais Heleno e Braga Netto pela infestação de militares golpistas implicados no apoio à destruição do Palácio. Não se sabe por que essa gente flagrada nos vídeos segue solta.

 Com tantas provas da participação de generais do Exército nos fatos, é estranho que o presidente Lula, o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, o chefe do Exército,  Thomas Paiva, e o interino Capelli se unam na defesa de mais um general para a chefia do GSI.

 Se não fosse extinto, o GSI deveria ser mantido à distância dos militares, ainda mais de quem é indicado pelo Alto Comando do Exército, instância que unificadamente decidiu  hospedar em área militar acampamentos golpistas ao longo de semanas e meses.

 Quem pode ainda duvidar dos desígnios dos generais da cúpula do Exército?

 A sociedade brasileira tem direito de suspeitar que por trás do vazamento da CNN que incinerou Dias há a intenção de limpar a área no GSI para alguém mais confiável ao alto comando.

 A apuração sobre a participação da cúpula militar nas manifestações antidemocráticas e na tentativa de golpe, inclusive na invasão aos  palácios, é muito mais importante ainda do que a investigação e o julgamento, que correm com rapidez, da ralé que arruinou o Planalto,  o Congresso,  o STF.

 Neste inquérito,  se levado a cabo com coragem, o país terá afinal que acertar as contas com o cerne das turbulências institucionais que geraram a ditadura militar e o fenômeno Bolsonaro.

 Qualquer tergiversação com o esclarecimento,  doa a quem doer, desse aquadrilhamento da estrutura superior da força armada com o crime implicará a contratação de novos golpes originados por patentes ocultas no interior do  aparelho de Estado, mas sempre atentas a novas estocadas contra a democracia.


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