quinta-feira, 13 de abril de 2023

Rodrigo Tacla Duran já comprou passagem para vir ao Brasil e tem depoimento marcado para esta sexta com provas contundentes de extorsão supostamente praticados por Moro e Lava Jato

 

Advogado deve entregar provas da extorsão praticado por aliados de Moro e Dallagnol, mas, na última hora, Petrobras se uniu ao ex-juiz na acusação contra ele

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(Foto: ABr | Reprodução)

Artigo de Joaquim de Carvalho:

Antes de deixar a Espanha, para vir ao Brasil e depor no inquérito sobre a denúncia de extorsão que teria sido praticada por advogados ligados ao casal Sérgio e Rosângela Moro, e também a Deltan Dallagnol, Rodrigo Tacla Durán foi supreendido por uma decisão da Petrobras.

Seis anos depois de Sergio Moro abrir processo contra Tacla Durán, a Petrobras se habilitou em um dos autos como assistente de acusação.

Ou seja, a empresa da União atuará ao lado do Ministério Público Federal, que é representado no processo por um procurador que assumiu que mantém relação pessoal com Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato.

Durante a audiência de 27 de março na 13a. Vara Federal em Curitiba, o procurador da república Walter José Mathias Júnior disse que já havia telefonado para Deltan Dallagnol para conversarem sobre assuntos familiares que são comuns a respectivos filhos.

Os advogados da Petrobras terão papel equivalente ao dos advogados do escritório René Ariel Dotti, de Curitiba, nos processos da Lava Jato.

Desde dezembro de 2014, René Ariel Dotti tem contrato com a Petrobras para agir como assistente de acusação nos processos da Lava Jato.

O contrato com a Petrobras foi assinado em dezembro de 2014, na época em que a empresa era presidida por Graça Foster. A banca de René Ariel Dotti recebeu R$ 3 milhões à vista, e R$ 100 mil em cada processo em que foi admitida como assistente de acusação.

Moro aceitou o escritório de Ariel Dotti em todos os processos, e este acompanhava as principais audiências. No depoimento de Lula, em 10 de maio de 2017, Ariel Dotti atacou os advogados Cristiano Zanin e Fernando Fernandes, para prestigiar Sergio Moro.

Em razão do ataque, criminalistas de todo o Brasil realizaram algumas semanas depois um encontro de desagravo no restaurante Figueira Rubayat em São Paulo. Ali, ao mesmo tempo em que os advogados se solidarizavam com Zanin e Fernandes, além de Valeska Teixeira e José Roberto Batochio, foi oficializado o grupo Prerrogativas.

René Ariel Dotti faleceu em 11 de fevereiro de 2021, mas seu escritório continuou prestando serviço à Petrobras. Na ocasião, já tinha recebido da companhia cerca de R$ 15 milhões.

Também passou a defender um amigo de Sergio Moro, o advogado Carlos Zucolotto Júnior, denunciado por Tacla Durán como agente da extorsão.

O escritório René Ariel Dotti representou Zucolotto na Procuradoria Geral da República, quando esta negociava com Tacla Durán um acordo de delação.

As tratativas de Tacla Durán com a equipe de Augusto Aras não evoluíram, mas o escritório continua a representar Carlos Zucolotto Júnior.

No esquema denunciado por Tacla Durán, o papel de Zucolotto é chave. Entre março e abril de 2016, Zucolotto trocou mensagens com Tacla Durán por meio do aplicativo Wickr Me, que apagava 24 horas depois.

Tacla Durán printou as telas da conversa e as submeteu a uma perícia na Espanha, para comparar o print com o celular. Nas mensagens, Zucolotto exigia 5 milhões de dólares para obter benefícios no acordo de delação com a Lava Jato.

— Como foi? Fizeram alguma proposta já? — pergunta Zucolotto.

Tacla Durán responde:

— Querem contar em cima um monte de coisa, nada a ver, que não tenho responsabilidade.

— Entendo. Vou encontrar a pessoa por esses dias para melhorar isso com o DD — comenta Zucolotto.

DD é supostamente Deltan Dallagnol.

— Estão me pedindo 15 milhões de USD$ de multa com base num assunto normal, sem crime.

— É muita coisa isso. Me dá uns dias que vou fazer contato para que DD entre nessa negociação.

Em conversa posterior, Zucolotto diz:

— Tem como melhorar essa primeira… Não muito, mas tem um pouco — propõe Zucolotto

— Não entendi — responde Tacla Durán.

— Tem como melhorar um pouco essa primeira proposta. Não muito. Tem interesse? — complementa Zucolotto.

— Como seria? — pergunta Tacla Durán.

— Meu contato vai conseguir que DD entre na negociação— responde Zucolotto.

— Certo. E o que dá para melhorar? — indaga, mais uma vez, Tacla Durán.

— Vou insistir para que altere o fechado para o domiciliar. E diminuir a multa. Ok?

— Para quanto?

— A ideia seria diminuir para 1/3 do pedido e vc paga 1/3 de honorários para poder resolver isso. Entende?

— Ok. Mas pago para vc os honorários?

— Sim, mas por fora, pq tenho que resolver o pessoal que vai ajudar nisso. Fazemos como sempre: a maior parte vc me paga por fora. Entende?

— Vão te mandar a alteração da minuta com o valor. Caso o valor de fora esteja bloqueado, aí vc paga em R$. Quando vc ler, vai entender.

O que dá credibilidade ao relato de Tacla Durán é que, conforme a conversa entre os dois, a força-tarefa da Lava Jato enviou e-mail para o advogado dele, como constava do acerto prévio.

Portanto, o envio do e-mail confirma que  Zucolotto tinha força para fazer a Lava Jato se movimentar.

Tacla Durán apresentou os prints da tela que registra a negociação com Zucolotto, e apresentou à CPI da JBS, um ano e meio depois — em novembro de 2017. Detalhe: as telas foram periciadas pelo colégio de peritos da Espanha.

Mas antes disso, em junho de 2016, Tacla Durán transferiu para a conta do escritório de advocacia de Marlus Arns — do mesmo círculo de amizade do casal Moro e Rosângela —, pouco mais 612 mil dólares, o equivalente hoje a cerca de 3 milhões de reais.

Em junho de 2019, Tacla Durán apresentou o comprovante da transferência, em entrevista ao jornalista Jamil Chade, do UOL. “Paguei para não ser preso”, afirmou.

O pagamento teria sido feito em decorrência do acerto com Zucolotto, os tais cinco milhões de dólares pagos por fora.

Tacla Durán fez esta única transferência — faltavam, portanto, cerca de 4,4 milhões de dólares. Cinco meses depois, Moro decretaria a sua prisão.

Tacla Durán estava nos Estados Unidos, onde sua família tem um apartamento. Lá, tinha colaborado com o Departamento de Justiça, num processo contra a Odebrecht.

Apesar do decreto de prisão de Moro, viajou para Madri sem ser incomodado.

Na capital da Espanha, hospedou-se no Hotel Intercontinental, e foi preso alguns dias depois, em razão do mandado de Moro.

Três meses depois, foi solto e respondeu a um processo de extradição. Na primeira instância, o juiz espanhol decidiu que deveria ser entregue às autoridades brasileiras.

Na segunda e última instância, a extradição foi negada, em decisão unânime.

Pesou na decisão o fato de Tacla Durán ter cidadania espanhola, mas não só.

As acusações contra Tacla Durán eram decorrentes da delação de um empresário, Ricardo Pessoa, da UTC, e delações são mal vistas pela justiça espanhola, por conta do trauma que a ditadura do general Franco deixou.

Um ano depois, a Interpol — rede internacional de polícia — acolheu o recurso de Tacla Durán e retirou o seu nome da lista de procurados — na linguagem deles, cancelou o alerta vermelho.

Em outras palavras, jogou o mandado de prisão na lata do lixo, acatando a alegação — reforçada com provas, como entrevista de Moro à imprensa — de que o então juiz era parcial.

Tacla Durán tem depoimento marcado para a tarde de sexta-feira, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

O ex-advogado da Odebrecht tem passagem comprada para chegar ao Brasil na manhã desta sexta, mas ele só embarcará se tiver em mãos o salvo conduto do Supremo Tribunal Federal, para evitar que um juiz amigo de Moro decrete sua prisão.

Essa prisão  seria revertida na corte superior, mas, com salvo conduto, nenhuma ordem de prisão seria cumprida. O salvo conduto começou a tramitar a partir da decisão do juiz Eduardo Appio, que hoje é titular da 13a. Vara Federal de Curitiba, onde Moro era titular com poderes que eram, na prática, excepcionais.

Tacla Durán precisa também contar com segurança da Polícia Federal assim que desembarcar no aeroporto, já que foi incluído no Programa de Proteção a Testemunhas.

O adversário que ele não esperava é a Petrobras, hoje presidida por Jean Paul Prates, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Paul Prates não fala sobre o caso, mas apurei que a decisão da empresa de entrar no processo como assistente de acusação foi tomada pela gerência jurídica que remanesce na Petrobras da gestão bolsonarista.

A assessoria de imprensa da companhia, que é controlada pela União, diz que um novo gerente está em processo de nomeação, a partir de indicação de Prates. Seu nome passa, no momento, pela análise dos critérios de compliance.

Segundo a assessoria, o novo gerente deve passar um pente fino em mais de 90 ações criminais de interesse da Petrobras. O caso de Tacla Durán é um deles.

Estranho será ver a Petrobras ao lado do escritório dos amigos de Moro, o de Ariel de Dotti, na acusação a Tacla Durán. Seria o mesmo que ver o governo Lula, Moro e a Lava Jato sentados do mesmo lado nas futuras audiências na Justiça.

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