sexta-feira, 7 de junho de 2024

Em artigo, Chico Alencar comenta ‘retórica da ofensa’ da extrema direita golpista bolsonarista no Congresso

 

O clima de agressividade instalado pelos políticos da extrema direita no Congresso Nacional levou parlamentares a protagonizarem nos últimos dias cenas de selvageria, com ofensas de todo o tipo e até embate físico.

Do siste do Instituto Conhecimento Liberta:




O clima de agressividade instalado pelos políticos da extrema direita no Congresso Nacional levou parlamentares a protagonizarem nos últimos dias cenas de selvageria, com ofensas de todo o tipo e até embate físico.

Com isso, o debate político fica completamente prejudicado e o aprofundamento de questões importantes para o país fica interditado.

Exercendo seu quinto mandato de deputado federal, Chico Alencar (PSOL-RJ) expressa em artigo para o ICL Notícias o sentimento que tem ao voltar para a Câmara após um intervalo de quatro anos e encontrar o Parlamento no estágio atual.

Leia o texto a seguir:

Pior fica?

Chico Alencar*

Em 1991, Ulysses Guimarães, parlamentar desde o início dos anos 50, cunhou a frase célebre: “acha ruim a composição atual do Congresso? Espere a próxima: será pior, e pior, e pior… “.

Na minha experiência como deputado federal — bem menor que a de Ulysses — dá para afirmar que o presidente da Assembleia Constituinte (que nos legou a mais democrática Carta Magna de nossa História) — tinha conhecimento de causa e razão.

O escritor José Eduardo Agualusa disse, dia desses, um tanto desencantado, que “enquanto a direita perde a civilidade, a esquerda perde o sonho”.

Isso pode explicar, ao menos em parte, a decadência parlamentar do Brasil. A extrema direita, em ascensão no Brasil e no mundo, é por natureza truculenta, rasa. Coloca o argumento da força no lugar da força dos argumentos. É movida a distopia.

Já a esquerda, na sua pluralidade, tateia na busca por ressignificar o socialismo, ainda atordoada com a queda do Muro e o fim da URSS.

Alguns setores aqui preferem o adaptacionismo, a inevitabilidade do sistema do capital financeirizado, o pragmatismo do abandono de ideias mudancistas.

Congresso Nacional que saiu das urnas de 2022 é majoritariamente conservador. Nas pautas da ortodoxia econômica, vota com o governo. Em todas as demais — ambientais, de costumes e cultura, de direitos humanos e segurança pública — não só faz ferrenha oposição como propõe, e aprova, sucessivos retrocessos.

Discussão na sessão que manteve o mandato do deputado André Janones

Bolsonaro saiu do governo mas o chamado bolsonarismo não saiu da sociedade e mesmo das ruas.

No Parlamento, sua retórica é a da ofensa pessoal e da adjetivação raivosa — “comunistas!”; “bandidos”; “inimigos da família”; “lixo!” — e do negacionismo — “vacina obrigatória não!”, “extremos climáticos sempre existiram”; “sem agrotóxicos haverá fome”.

O corolário é proclamar que as tratativas e atos golpistas desde 2022 foram “apenas cogitações dispersas”, e que o 8 de janeiro “foi manifestação de senhorinhas com Bíblia na mão, atrapalhada por depredadores infiltrados”.

Agora, na iminência dos “cabeças” do golpismo se tornarem réus, articulam para tentar passar uma “anistia” que será, na realidade, um salvo-conduto para atentados ao nosso frágil Estado Democrático de Direito.

Sinal dos tempos: a degradação do debate político é alimentada pela disfunção cognitiva do universo das redes virtuais – tantas vezes nada virtuosas – e das fake news. As tais “narrativas” dão às falsidades e engôdos status de dogma, no senso comum.

O deputado palhaço Tiritica, ao disputar uma cadeira na Câmara pela 1a vez, em 2010, rimou: “pior não fica”.
Errou: tem ficado.

Mas não é condenação. Assim como quadras sombrias da nossa História foram vencidas — o próprio nazifascismo e, no Brasil, a ditadura empresarial-militar iniciada com o golpe de 1964 — os nossos Legislativos superarão — com o tempo, educação política, partidos programáticos e veículos de informação críticos — o fisioligismo, a mediocridade e a gangsterização.

Tudo começa com cidadania horizontal, povo organizado, consciência de classe. E voto consciente de Sua Excelência, o(a) eleitor(a).

*Chico Alencar é professor de História e deputado federal (PSOL/RJ), cumprindo seu 5⁠º mandato

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