terça-feira, 9 de julho de 2019

A PGR, pela dignidade da instituição, deve alterar a composição da Lava Jato, por Francisco Celso Calmon




A manutenção da prisão de Lula e eventual desfecho fatal de sua vida será responsabilidade direta das instituições, da grande mídia e parcelas da sociedade



Foto: Lula Marques
Por Francisco Celso Calmon no GGN
A rosca do Moro, não sei, talvez, quem sabe
A democracia que estava sendo construída está agonizando, uma nova custará a aparecer, e nesse intervalo estamos a viver o lusco-fusco da ideologia fascista.
Como um país imenso como o Brasil ficou de quatro para a “republiqueta” de Curitiba? Quanta fragilidade de nossas instituições terem ficado subjugadas a uma mera força-tarefa, isto é, a um grupo de trabalho do MPF de Curitiba.
A mídia que fora o apoio logístico ao golpismo inaugurado em 2016, que construiu a figura do super-justiceiro Sérgio Moro, dá credibilidade às revelações do The Intercept ao examinar o material e publicá-las. Cabe-lhe, por dever ético, desfazer a imagem criada e reconhecer seu erro ou vai esperar 50 anos como o Globo fez em relação ao apoio dado ao golpe de 64?
Se o Moro ainda que fosse bem-dotado intelectual e profissionalmente, mas é medíocre, chulo, apedeuta, e a mídia o fez, as instituições se amedrontaram e acovardaram, e o mais grave: por omissão ou participação estão cúmplices do desmonte do Estado Democrático de Direito e encolhimento da economia nacional.
Moro possui armas perigosas: 1 – a mentira; 2- a corrupção, 3- o despudor; 4 – o arrepio às normas e leis, 5 – a desqualificação dos contrários, sendo que esta última arma ele já usou e usa contra advogados, jornalistas, a OAB e partidos.
Na ditadura militar as pessoas eram sequestradas e os seus familiares iam em busca delas nas unidades de repressão, como os DOIs-CODIs e DOPS, e as respostas nunca eram assertivas e verdadeiras. O deputado Alencar Furtado pronunciou um discurso, em 1977, denunciando, que lhe custou a cassação e ficou para a história: “O programa do [antigo] MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não haja lares em prantos; filhos órfãos de pais vivos — quem sabe — mortos, talvez. Órfãos do talvez ou do quem sabe. Para que não haja esposas que enviuvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez.”
As armas do Moro são letais à dignidade e à vida das pessoas, bem como, a saúde das instituições, particularmente no presente quando detém a titularidade do Ministério da Justiça tendo a PF subordinada.
As últimas revelações são contundentes em demonstrar que o ex-juiz Sérgio Moro manipulou, fraudou e intoxicou o devido processo legal ao ajudar um dos lados, o MPF, para atingir o seu próprio objetivo político de excluir Lula da disputa eleitoral. Excluí-lo e silenciá-lo!
Sem o Moro o Bolsonaro não chegaria à presidência.
Não chegaria à presidência se tivesse sido respeitado o direito político de Lula, mesmo aprisionado, de dar entrevistas, gravar áudios e vídeos para a campanha do Haddad.
O que resta aos violadores do direito Moro&Dallagnol, senão responderem judicialmente pelos seus atos e politicamente serem afastados de suas funções no âmbito da Justiça?
Não é o momento para tirar férias e nem se recusar a comparecer à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, é chegado a hora, sim, de serem afastados de suas funções, antes de prosseguirem a contaminar as instituições e enxovalhar internacionalmente o país.
Moro está sendo enroscado e a sua rosca não tem final à vista.
As revelações não devem levar a uma associação mecânica ao processo Lula, antes deve, sim, evidenciar substantivamente que Moro não reúne condições de permanecer no M. da Justiça.
Não apoiei a Lava Jato em momento algum, mas entendi o equívoco de pessoas esclarecidas a terem apoiado, porque o objetivo que alardeava de combate a corrupção somos todos a favor.  Os meios de combate-la é que nos distingue, como também nos distingue a compreensão das causas de origem e fomento.
No atual quadro das revelações da promiscuidade Moro&Dalagnol e asseclas, o que ficou insustentável é a manutenção desse grupo epiceno na lava jato. A PGR, se comprometida com as normas constitucionais, as leis e a ética, não deve mais fazer como o avestruz, pela própria dignidade da instituição e do combate a corrupção, deve, no mínimo, alterar a composição da força-tarefa autodenominada lava jato.
Quando se esquece o passado a probabilidade de errar no futuro é enorme. Esquecer que o ministro Lewandowski tem as digitais no impeachment da Dilma, que Gilmar Mendes  impediu  Lula de  assumir a Casa civil no governo Dilma, que os ministros Luiz Fux e Edson Fachin foram considerados pelo grupelho da lava jata como aliados, e não levar ao pé da letra a articulação do golpe com o Supremo e tudo, pode estar ocasionado miragens.
A manutenção da prisão de Lula e eventual desfecho fatal de sua vida será responsabilidade direta das instituições, da grande mídia e parcelas da sociedade brasileira.
Só o povo arranca o Lula do cárcere.
Quem mandou matar Marielle, cadê Queiroz, quem banca Adélio Bispo?
Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

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