quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Janio de Freitas: Funaro trouxe-nos Temer, o homem das docas



"Um presidente da República, no exercício (mesmo que ilegítimo) do cargo, só pode ser judicialmente responsabilizado por atos praticados durante o seu (apenas tecnicamente falando) mandato. E o decreto que Temer assinou sobre os portos, que teriam gerado benefícios para seus velhos amigos da empresa Rodrimar, no Porto de Santos, pode, ironicamente, se tornar mais perigoso para o usurpador do que a escandalosa mala de dinheiro de Rocha Loures." - Fernando Brito

Janio: Funaro trouxe-nos Temer, o homem das docas

portoarte
Um presidente da República, no exercício (mesmo que ilegítimo) do cargo, só pode ser judicialmente responsabilizado por atos praticados durante o seu (apenas tecnicamente falando) mandato. E o decreto que Temer assinou sobre os portos, que teriam gerado benefícios para seus velhos amigos da empresa Rodrimar, no Porto de Santos, pode, ironicamente, se tornar mais perigoso para o usurpador do que a escandalosa mala de dinheiro de Rocha Loures.
Explico: a promiscuidade entre a Procuradoria Geral da República e o “jotabeesseanos”coloca sob risco inegável a validade das provas escandalosas que escorreram das gravações de Joesley Batista e Ricardo Saud (veja o próximo post), enquanto a a Lúcio Funaro, embora se trate de outro notório bandido, não sofre questionamentos.
Ao lado das malas de Geddel, as docas de Santos – onde décadas de mando temerista deixaram histórias de arrepiar os cabelos –  são uma boca de poço aos pés de Michel Temer, como mostra Janio de Freitas em seu artigo de hoje, na Folha.

Tentar tirar Janot sugere dificuldade 
para desmonte factual das acusações

Janio de Freitas, na Folha
Celebremos.
Parecia, ou era mesmo, um dos assuntos guardados na área de proteção. Por certo, foi um dos motivos destacados para a pretensão de Michel Temer de afastar o procurador-geral Rodrigo Janot, mesmo vendo-o a poucos passos da porta de saída (a da frente, até aqui). Eduardo Cunha raspou no assunto, de leve, nas armadilhas que, sob a forma de perguntas, da cadeia mandou a Temer. Não houve resposta. Uma decisão virtuosa de Sergio Moro, mais uma, poupou Temer de ver-se ante pontos de interrogação intransponíveis. Mas Lúcio Funaro, o intermediário profissional, o atrevido e ameaçador, não falhou.
Michel Temer e Docas de Santos: tudo a ver, como diz o bordão. Rodrigo Janot mandou ao Supremo, com pedido de inquérito, a delação de Funaro sobre a emissão por Temer, em acerto de que participou Eduardo Cunha, de medida que resultou em concessões e vantagens contratuais para empresas na Companhia Docas de São Paulo, a Codesp de Santos.
Em mãos do ministro Luís Roberto Barroso, o inquérito foi autorizado. Esse avanço encerra a inércia ocupando-se de um só fato, mas há muito tempo Michel Temer é citado, não à toa, como “homem de Docas”. O que isso significa, o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário poderiam ter dito ao país, ou ao menos aos paulistas, há anos. Sem precisar de delação.
Outros assuntos também importantes, como a participação em subornos na construção de Angra 3, levaram a defesa de Temer a pedir ao Supremo a suspeição e o consequente afastamento de Janot. O que não é muito gentil com a futura procuradora-geral, se implica a suposição de que, com ela, a vida de Temer ficaria mais leve.
Sobretudo, porém, a pretensão de tirar Janot da visão de Temer sugere dificuldade para o desmonte factual das acusações. Já as referentes a fatos da atualidade, quanto mais ao passado que entrasse no inquérito.
Enfim, celebremos. Sem negar o risco de pasmo com uma conclusão que reponha o assunto no seu ninho de silêncio produtivo e imoral.

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