sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A Divisão do Exército do general Mourão, por Sergio Saraiva



"O Exército parece estar dividido. Isso não é exatamente novidade para quem conhece a história da nossa República. Se é assim, então, há o grupo do general Villas Bôas – legalista – e o grupo do general Hamilton Mourão - intervencionista. Para ficar no uso de um eufemismo."

generais
A Divisão do Exército do general Mourão
por Sergio Saraiva
GGN. - A posição do general Antonio Hamilton Mourão defendendo a possibilidade de uma intervenção militar no cenário político brasileiro causa espanto não somente relação ao aparente pouco cuidado para com óbvio efeito perturbador que teria no quadro de desgoverno nacional. Causa espanto principalmente por ser diametralmente oposta a posição expressa por seu superior hierárquico – o general Villas Bôas – comandante do exército.
Em 29 de julho de 2017, o Comandante do Exército - general Eduardo Villas Bôas - deu uma entrevista à Folha onde estabelece uma linha de conduta muito clara para a atuação do Exército, e por conseguinte, das Forças Armadas, em relação a atual crise.
A síntese dessa linha de conduta pode ser resumida na seguinte declaração:
“Neste momento, o que deve prevalecer é a Constituição Federal e todos, repito, todos devem tê-la como farol a ser seguido”.
Quando perguntado especificamente sobre intervenção militar, dadas as manifestações de alguns grupo favoráveis a essa ação, o general Villas Bôas não deixou dúvidas:
“Como tenho dito, vemos tudo isso com tranquilidade, pois o Exército brasileiro atua no estrito cumprimento das leis vigentes e sempre com base na legalidade, estabilidade e legitimidade”.
“O Brasil e suas instituições evoluíram e desenvolveram um sistema de pesos e contrapesos que dispensa a tutela por parte das Forças Armadas”.
Em relação às cobranças feitas às Foças Armadas quanto a sua participação na Ditadura de 64, o general Villas Bôas não se constrangeu nem quando confrontado com o termos “os erros e atrocidades que cometidas” e respondeu:
“A lei da anistia, compreendida como um pacto social, proporcionou as condições políticas para que as divergências ideológicas pudessem ser pacificadas. Ela colocou um ponto final naquela fase da história. Precisamos olhar para o futuro, atendendo ao espírito de conciliação”.
“É chegada a hora de consentir que o período que engloba 1964 é história e assim deve ser percebido”.
E quando questionado sobre quadro eleitoral concluiu:
“Está nas mãos dos cidadãos brasileiros a oportunidade de, nas eleições de 2018, sinalizar o rumo a ser seguido”.
Que dúvidas poderiam haver de que o Exército se portaria pela legalidade e, portanto, como fiador das eleições de 2018? Que dúvidas poderiam haver de que as forças militares consideravam que a crise política deveria ser resolvida pela sociedade civil?
Eis o porquê do espanto em relação às declarações do general Hamilton Mourão. Não que ele desconhecesse a posição do seu comandante – o general Villas Bôas. Suas palavras deixam claro que sabia:
"Primeira coisa, o nosso comandante, desde o começo da crise, ele definiu um tripé pra atuação do Exército. Então eu estou falando aqui da forma como o Exército pensa. Ele se baseou, número um, na legalidade, número dois, na legitimidade... E número três, não ser o Exército um fator de instabilidade, ele manter a estabilidade do país”.
Então, como alguém que “estava falando da forma como o Exército pensa” faz a seguinte declaração:
“Nós temos planejamentos, muito bem feitos. Então no presente momento, o que que nós vislumbramos ...ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso. E essa imposição não será fácil, ele trará problemas, podem ter certeza disso aí".
Em uma organização regida pela hierarquia e pela disciplina, tal qual as Forças Armadas, não existe espaço para tamanha diferença de posicionamento sobre um mesmo assunto.
Além disso, o general Mourão é um oficial em vias de passar para a reserva, está no topo e no final da carreira – deverá ser reformado em março de 2018. É, portanto, um oficial experimentado. Tampouco, foi surpreendido por uma pergunta impertinente e acabou por ser mal interpretado na resposta. Estava à vontade e seguro durante a palestra na maçonaria – onde deu as declarações que tratavam da intervenção da Forças Armadas.
Sobre o tamanho desse calculado ato de indisciplina já tratamos anteriormente – existe métodonisso.
O Exército parece estar dividido. Isso não é exatamente novidade para quem conhece a história da nossa República. Se é assim, então, há o grupo do general Villas Bôas – legalista – e o grupo do general Hamilton Mourão - intervencionista. Para ficar no uso de um eufemismo.
Que o grupo do general Mourão é poderoso dentro da arma, demonstra-o o fato de Mourão não ter sido punido após suas declarações.
Mas o que quer o grupo do general Mourão?
No dia seguinte, comentando a repercussão de sua palavras disse ao jornal Estadão: "não é uma tomada de poder. Não existe nada disso. É simplesmente alguém que coloque as coisas em ordem...”
O que fez com suas declarações foi dar um ultimato aos poderes constitucionais. Moveu uma peça. Espera agora um movimento correspondente do outro lado.
O que ocorrerá caso o movimento não ocorra na direção esperada? Que atitude tomará o grupo do general Villas Bôas?
Os bastidores do poder em Brasília devem estar agitados.

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia na arquibancada para, a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa.

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