segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A espionagem dos militares é ainda mais grave: a ação quer atingir o Vaticano e ONGs, por Mauro Lopes



Antes de ler o importante texto de Mauro Lopes, veja o vídeo incisivo de Paulo Henrique Amorim, em seu canal Conversa Afiada, sobre os motivos fascistóides dos militares e bolsonaristas contra a Igreja Católica, visando atingir também o Papa Francisco:





Por Mauro Lopes, editor do 247 

  O escândalo da espionagem que o governo Bolsonaro está realizando contra a Igreja Católica no Brasil, admitido abertamente pelo ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, numa entrevista sem precedentes, é ainda mais grave: a ação não se restringe ao território nacional e à Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB). O Itamaraty, comandando pelo extremista Ernesto Araújo, está sendo mobilizado para que a espionagem alcance o Vaticano e organizações ambientais internacionais.


À experiente repórter Tânia Monteiro, que há mais de 30 anos cobre o setor militar em Brasília, o general Heleno foi direto: "queremos neutralizar isso aí". Ele se referia ao Sínodo sobre a Amazônia, que o Papa Francisco convocou em 15 de outubro de 2017 e que terá como momento culminante um encontro mundial em Roma, em outubro deste ano. Para lá acorrerão bispos e cardeais de todo o planeta. Mas o evento convocado pelo Papa não se restringe à Igreja Católica. Representantes de diversas igrejas cristãs participarão do encontro, além de convidados de outros caminhos de espiritualidade, como os budistas, organizações ambientais internacionais, e líderes indígenas e de movimentos sociais de toda a Amazônia.
"Vamos entrar a fundo nisso", afirmou o general. Ir fundo, no caso, é envolver o governo brasileiro numa operação de espionagem ilegal em território nacional e estrangeiro para bisbilhotar reuniões, encontros, documentos, estratégias e planos que são todos públicos ou que são traçados para se tornarem públicos a seguir. Com uma lógica paranoica, que vê inimigos em toda parte, Heleno e os militares que o rodeiam imaginam que há uma trama contra o Brasil. “Achamos que isso é interferência em assunto interno do Brasil”, disse Heleno. Por um viés ideológico, o general tenta transformar num tema "brasileiro" um evento que volta-se para toda a região amazônica envolvendo nove países e pessoas preocupadas com o destino da floresta e do planeta em vários continentes.
O Sínodo da Amazônia acontece sob o lema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O governo Bolsonaro prepara-se para ele como para uma guerra. Como anotou a presidente do PT numa nota sobre o assunto ao final deste domingo, com sua ação, o governo abala ainda mais a já fragilizada democracia brasileira e "a imagem do Brasil ao redor do mundo". De admirado, o país passa a ser visto com repugnância em todo canto. 

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