sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Denise Assis: Um general “pianíssimo” para um governo nem tanto

 

“Cerca de dez dias depois, só agora o ministro da Defesa, Fernando Azevedo – no auge da crise do deputado bombado – encontrou o rumo da sala do presidente do STF para falar das confissões do general Villas Bôas”, observa Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia


Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo

Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

Depois de agudos e estridências, o momento político é para ser tocado em modo “pianíssimo” – música com muito fraca intensidade de som. Não é preciso ser nenhuma “pitonisa” para saber que a Câmara dos Deputados, na tarde desta sexta-feira (19), irá optar pela manutenção da prisão de Daniel (o quê???) Silveira. De onde vem tal informação?

Da atitude do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo. Ao procurar o presidente do Supremo Tribunal Federal – que estancou os “arroubos bolsonaristas” rumo à transgressão progressiva e ao fascismo desenfreado numa votação coesa de 11 X 0 – Luiz Fux.

Para os que não se lembram (tudo tem passado tão veloz), o livro do general Villas Boas, revelando que contou com o apoio de todo o alto comando no golpe continuado de 2018, chegou à mídia no dia 10 deste mês. Há nove dias, portanto. Impossível que não tenha sido inserida no clipping do Planalto uma resenha da obra de Villas Boas. Ainda assim, Azevedo só agora – no auge da crise do deputado bombado – encontrou o rumo da sala do presidente do STF para falar das confissões do general.

Para comparar em termos de lentidão, só mesmo com o ministro Edson Fachin, que levou três anos para considerar a pressão do general sobre o Supremo como “intolerável”. Perdeu, ministro. Depois disto já houve uma eleição, que levou ao palácio, com o seu voto favorável ao que pediu o tuíte de Villas boas – a prisão de Lula – e Bolsonaro chegou ao governo trazendo consigo um exército de “300” bombados, descerebrados e monotemáticos: violência acima de tudo.

O que Azevedo fez, na verdade, foi atravessar a rua para fazer um voto de redução de danos, a chamada “água na fervura”. Foi prometer o que nem mesmo ele sabe se consegue cumprir. Fazer refrear os ímpetos de Bolsonaro para cima dos poderes que têm a obrigação de contê-lo, todas as vezes que ele, tal como ensinou a Daniel Silveira, ultrapassar os limites do tolerável, da constitucionalidade. O general Fernando agiu como “moleque de recado” da turma que parece mais preocupada em continuar comprando os seus litros de uísque 12 anos, o bacalhau de finíssima qualidade e recebendo o “a mais” nos soldos no final do mês.

A continuar na escalada que vinha até então – de costas para as 230 mil mortes pela pandemia, a assombrosa e incontrolável subida dos combustíveis e o preço do gás de cozinha e no interregno do auxílio emergencial – a curva de desaprovação de Bolsonaro daria um mergulho, colocando em risco o futuro imediato e os planos para 2022.

Não convenceu, ministro Azevedo, o seu “desmentido”, ao ministro Fux, sobre um tema que já estava fazendo a curva para sair da pauta. Todos nós agora sabemos como o golpe foi urdido e não há álcool 70% que mate o vírus da conspiração que contaminou as mãos dos seus participantes.

O que, de fato, o senhor foi fazer no gabinete do presidente do STF foi erguer a bandeira branca, para evitar o que estava gritando na sociedade. Vocês estavam tentando atropelar as instituições, engolir o STF e passar o trator com tudo. O recuo foi estratégico. A derrota, deliciosa. Resta saber se os senhores vão continuar sustentando e comportando de forma coerente, de modo a demonstrar que: 1 – não participaram da redação do general Villas Boas; 2 – que vão se comportar dentro dos limites da Constituição de 88, que vocês odeiam, porque nasceu com ampla participação da sociedade, mas que juraram respeitar. Agora, nos resta ouvir os nobres deputados.

O conhecimento liberta. Saiba mais.

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