segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Luis Nassif e o Xadrez do partido militar: o golpe fardado está próximo da vitória com a indicação de José Múcio para a Defesa

 

A indicação de Múcio para Ministro da Defesa será a confirmação tácita de que o golpe foi vitorioso.




Por Luis Nassif (no Jornal GGN)


Vamos complementar o “Xadrez do dia 31 de dezembro de 2022” com a peça que faltava. No Xadrez anterior, apontei duas razões hipotéticas para a movimentação em frente os quartéis: a criação de um clima para explodir em 31 de dezembro, tirando os militares do quartel; ou um mero esperneio para manter a militância mobilizada.

Vamos a duas consequências mais objetivas, que explicam melhor a insistência em manter a mobilização à porta dos quartéis.

Peça 1 – as negociações com o Alto Comando


A cada dia que passa consolida-se a percepção de que a maior parte dos manifestantes acantonados na porta dos quartéis são familiares de militares. É o que poderia explicar, por exemplo, a presença dos tais homens de preto armados, possivelmente para oferecer segurança aos manifestantes.

Segundo fonte bem informada sobre os movimentos militares, a intenção das manifestações seria pressionar o novo governo para manter em mãos dos militares as definições sobre o Ministro da Defesa e do Alto Comando. O candidato dos militares para o comando do Exército é o general Estevam Cals Theophilo Gaspar, comandante de Operações Terrestres.

Inicialmente, Lula montou um grupo de trabalho informal, para se aconselhar. Há uma proposta do grupo, de indicação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, assessorado por um Grupo de Trabalho encarregado de estudar as Forças Armadas e propor um plano de ação para sua profissionalização e despolitização..

No meio do caminho, entrou o Ministro do Tribunal de Contas da União, José Múcio Monteiro, fazendo lobby em favor de Aldo Rebelo.

Ainda no governo Dilma, Aldo tornou-se a quinta coluna dos ruralistas e dos militares. A extraordinária ingenuidade do PT impediu-o de ver o boicote de Aldo – então Ministro dos Esportes – na defesa da Copa do Mundo. Foi o primeiro grande embate nas redes sociais, após as manifestações de 2013. E Aldo não apenas não participou como boicotou a defesa do evento.

Em outro episódio, na discussão da lei ambiental, Aldo agiu radicalmente em favor dos ruralistas. Conseguiu colocar todo o movimento ambientalista contra Dilma e não agregou ao governo um centímetro de apoio dos ruralistas, já que a vitória deles foi atribuída exclusivamente a Aldo. Hoje em dia, Aldo se alinha com a direita conspiratória das Forças Armadas e dos ruralistas, tendo recebido apoio do general Villas Boas à sua candidatura ao Senado.

Sendo impossível a indicação de Aldo, o Alto Comando passou a pressionar pelo nome de Múcio Monteiro, egresso da Arena, com vínculos com o governo militar, com boa relação com os militares, na condição de ministro do TCU,  mas, também, com folha de serviços prestados ao governo Lula, na lógica do presidencialismo de coalizão.

Primeiro, Lula indicou Múcio para o Grupo de Transição da Defesa. Agora, anuncia-se a dissolução do grupo e a possível indicação próxima de Múcio para Ministro da Defesa.

Segundo observadores de dentro, a contrapartida dos militares, à indicação de Múcio, seria a desmobilização das manifestações na porta dos quartéis. Ainda é uma suposição. Mas, confirmando, revelaria interferência direta do Exército nas manifestações.

Para os observadores de dentro, o envolvimento de Lula com questões internacionais o está impedindo de se debruçar de forma mais aprofundada em temas centrais, dos quais um dos mais delicados é o Ministério da Defesa.

Lula não teria se dado conta, ainda, que a indicação de Múcio pode ser o primeiro grande desastre da transição, pois traria de volta o velho Lula de 2002, disposto a concessões em temas tabus. E a desmilitarização e profissionalização das Forças Armadas é um dos pontos centrais do grande arco civil em apoio ao seu governo.

Peça 2 – as negociações com Bolsonaro


Outra informação alarmante foi sobre possíveis negociações do Ministro Gilmar Mendes com Jair Bolsonaro, aconselhando-o a desmobilizar as manifestações, em troca de uma postura mais condescendente do Supremo Tribunal Federal em relação aos seus crimes.

Ou seja, tenta-se repetir, mais uma vez, o maior dos erros da redemocratização: a flexibilização da Lei da Anistia para englobar crimes contra a humanidade e a democracia, cometidos por militares. Entraram na Lei até crimes praticados após sua aprovação, como a tentativa de atentado no Riocentro e o assassinato da secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro.

O pesadelo Bolsonaro foi filho direto do “jeitinho” brasileiro e da submissão do poder civil ao que o jornalista Fábio Vitor batizou de “poder camuflado”. A indicação de Múcio vai manter inalterada essa estrutura de poder. Até que se reúnam condições para o próximo golpe.

A indicação de Múcio para Ministro da Defesa será a confirmação tácita de que o golpe foi vitorioso.

Agora há pouco, em entrevista ao Metrópole, o general Hamilton Mourão Filho não poderia ter sido mais claro:

“Julgo que seria muito bem visto pelas Forças Armadas. Tenho muito apreço e respeito pelo ministro Múcio, com quem tive ótimo relacionamento quando ele estava no TCU”.

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