quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Luiz Alberto Moniz Sodré sobre o caos pós-Golpe de Temer, Bancos, Globo e elites, com introdução de Leonardo Boff


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  Luiz Alberto Muniz Bandeira é tido como um dos mais argutos analistas políticos do Brasil. Escreveu este texto para Valter Pomar e copiado para mim, porque,  ja há tempos, entretenho frutuosa troca de correspondência, da qual sempre aprendo muito. Sua última obra A desordem mundial é uma minuciosa análise da atual situação do mundo especialmente sob o império norte-americano. Foi apreciada neste meu blog. Nesta reflexão-protesto põe às claras o golpe que foi perpetrado contra Dilma Rousseff com todas as características, bem detalhadas por ele, de um golpe de estado. Irrompeu o caos no Brasil, com um presidente acusado por formação de quadrilha e pelo desmonte da nação e de seus bens públicos essenciais, postos a leilão para o capital mundial. Somos cidadãos e amamos nossa pátria. Não fazer nada seria mais que omissão, seria trair a memória de nossos maiores que lutaram para fundar uma nação independente e soberana. Moniz Sodré não quer uma intervenção militar, no estilo e um golpe militar. Mas simplesmente postula uma ação de um poder mais alto, previsto na Constituição para defender o bem público e a soberania nacional. Cabe a ele criar um mínimo de ordem dentro de uma realidade política  apodrecida, detestável e sem qualquer moralidade. Importa punir os comprovadamente corruptos, apresentar uma reforma política que resgate o Estado Democrático de Direito e se elabore um projeto político de desenvolvimento com inclusão social e cuidado para com a natureza. E por fim eleições diretas livres para eleger representantes dos sinteresses gerais com participação popular, portanto, uma democracia enriquecida, democracia participativa e, no meu entender, sócio-ecológica. Publicamos  o texto do mestre Moniz Sodré como material de reflexão buscando luzes em que no-la pode fornecer com autoridade de quem resistiu à ditadura, foi preso duas vezes e viveu anos no esconderijo e anonimato, trabalhando incansavelmente em textos de análise política, especialmente, da realidade norte-americana. Leonardo Boff.

Meu querido Valter Pomar,

Insisto, em nada tenho ilusão. Sei que tudo pode acontecer, se houver uma intervenção militar. Mas o fato é que, se Dilma Rousseff foi deposta por um golpe de Estado, e de fato foi, não mais existe Estado de Direito nem democracia no Brasil. Acabou a Constituição. O governo, que só conta com a simpatia de cerca de 3% da população, realiza "reformas" para as quais não teve mandato. O Congresso, corrompido e desmoralizado, assumiu poderes constituintes com os quais não foi eleito. Nada do que ocorreu e está a ocorrer é constitucional. Nada tem legitimidade. E o golpe de Estado foi dado exatamente para a execução de tais reformas: trabalhista, previdenciária, terceirização, redução do Estado, com a venda das empresas públicas, impedir os gastos públicos por 20 anos etc. E as forças econômicas, nacionais e estrangeiras, que estão por trás do presidente de fato Michel Temer e do seu sinistro ministro da Fazenda, o banqueiro Henrique Meirelles, farão tudo para que não haja retrocesso na execução do seu projeto, modelado pelo Consenso de Washington.

Falar em Constituição, agora, é que é uma grande ilusão. As liberdades são relativas, como durante o regime militar, porém nem imprensa alternativa existe mais como naquele tempo. Toda a mídia repete o mesmo e o alvo é o ex-presidente Lula, com judiciária a condená-lo, sem provas, apenas para efeito de repercussão na imprensa e desmoralizá-lo. Quanto mais ele cresce nas pesquisas mais me parece que as poderosas forças econômicas nacionais e estrangeiras, que sustentaram o golpe do impeachment da presidente Dilma Rousseff, tentarão tirá-lo de qualquer forma das eleições. Tenho até dúvidas de que as eleições ocorrerão. Temer e demais cúmplices sabem que, ao descer a rampa do Planalto, sem imunidade, podem ser presos e enviado para a Papuda.
A insatisfação no meio militar é enorme, conforme exprimiu o Antônio Olímpio Mourão. E teve toda razão o deputado Aldo Rebelo, do PC do B, quando recomendou o diálogo com os militares. O proto-nazifascista Jair Bolsonaro não é representativo das Forças Armadas. É minoria.
A intervenção militar pode ocorrer. Como se desdobrará é difícil imaginar. O ideal seria que fosse como a do general Henrique Teixeira Lott em 1955. Mas não creio, em face do Congresso que aí está. O importante é impedir que o patrimônio nacional – Eletrobrás, Eletronuclear, Petrobrás e pré-sal, bancos estatais – seja dilapidado, entregue aos gringos: é evitar que o desenvolvimento do Brasil, com a inclusão, não seja interrompido; é impedir a entrega aos gringos de uma parte da Amazônia maior que a Dinamarca. Claro que não defendo regime de exceção, mas regime de exceção é o que já existe no Brasil, com um verniz de legalidade. O que ocorreu no Brasil, com a derrubada da presidente Dilma, foi golpe de Estado, como, na Ucrânia, com a destituição do presidente Wiktor Yanukovytch, na madrugada de 21 para 22 de fevereiro de 2014, por uma decisão de um Congresso comprado. A Constituição deixou de existir.
Ilusão é pensar que, após realizar as reformas pretendidas pelo capital financeiro e o empresariado nacional, as forças, que se apossaram do poder, vão deixá-lo sem ser por um golpe de força. E, infelizmente, as forças populares já demonstraram a sua impotência. A nada reagiram.
Não desejaria que ocorresse intervenção. Todos sabem como começa, mas não quando termina. Porém, não estou a ver outra perspectiva no Brasil. É necessário impedir o desmonte do Estados nacional. E há-de chegar um momento em que o impasse político, com o agravamento da situação econômica e social, terá de ser pela força.
Com afetuoso abraço, Moniz
Von: Valter Pomar [mailto:pomar.valter@gmail.com]
Gesendet: Dienstag, 19. September 2017 22:29
An: SRI Professor Moniz Bandeira t-online.de
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