sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A tragédia pode ser evitada? Artigo de Josias Pires


"A descrença na política faz imenso mal para a democracia. Desvalorizado, injuriado, o afeto político fica disponível para pregações de demagogos, supostamente antissistema, porém encarnação de valores ultraneoliberais."



A tragédia pode ser evitada?, por Josias Pires


Seremos capazes de evitar a eleição de um candidato que propõe implantar a ditadura militar, que congrega gente saudosa das piores experiências da ditadura militar, das torturas, das relações com pistolagens e grupos de extermínio?  Com grupos de pessoas violentas, e que defendem a violência de Estado contra a oposição? E defendem a privatização de todas as empresas e instituições públicas, a exemplo das universidades, escolas de ensino médio, serviços de saúde, relações trabalhistas ainda mais extorsivas? 
Precisamos lutar até o último momento para que a tragédia possa ser evitada. 
Neste momento das eleições devemos refletir com toda atenção. Haddad, Ciro, Boulos, Marina e até Alckmin – ou pelo menos seus eleitores que vieram da luta contra a ditadura - são candidaturas que tem algum compromisso com a democracia. 
A descrença na política faz imenso mal para a democracia. Desvalorizado, injuriado, o afeto político fica disponível para pregações de demagogos, supostamente antissistema, porém encarnação de valores ultraneoliberais.
A violência e a segurança são questões cruciais, sim. A violência é elemento constitutivo da formação histórica do Brasil, país que passou 350 anos (1500-1888) de escravidão, cuja herança continua visível e profunda. Para enfrentar e vencer a violência é preciso reforçar afetos de solidariedade. 
É preciso investir na paz. A formação da polícia deve voltar-se para acabar com a mortandade de seres humanos. A matança de bandidos e policiais é barbárie a ser imediatamente interrompida. Assassinando jovens - milhares deles com enorme potencial de liderança e criatividade, se pudessem usufruir de políticas públicas e privadas favoráveis - estamos assassinando nosso futuro. 
É preciso acabar com esta coisa odiosa de torturar pessoas nas prisões. 
Torturar é ação (des)humana indigna. Torturador deve ser desautorizado. O objetivo deve ser acabar com as prisões. 
Precisamos de campanhas de desarmamento; e da ação das forças policiais para coibir a entrada de armas pelas fronteiras e coibir a circulação de armas no país. 
As energias e recursos do Estado devem ser direcionadas para os investimentos na formação e na manutenção do bem-estar dos brasileiros e na melhoria da infraestrutura do país: saúde, educação, geração de renda, cultura, transportes, produção econômica, cidadania, solidariedade. 
Precisamos de polícia humana, de Estado que pare de matar, pare de fazer guerra às drogas, controle este comércio; e invista com qualidade na formação das pessoas. A polícia precisa deixar de ser formada para ter ódio, ao contrário, o papel da polícia é prevenir e combater o crime com astúcia e inteligência. 
A estratégia do neoliberalismo é disseminar competição em todas as esferas da vida. No mundo oficial e no submundo a ideia é reforçar o indivíduo como capital humano ativado pelo desejo de consumir, de competir, de acumular, de fazer prevalecer seus interesses particulares. 
O futuro que promete os neoliberais é a tragédia de mais mortes e austericídio que sacrifica os mais pobres, e propõe a continuação da barbárie por outros meios.
É preciso estimular e fortalecer afetos de solidariedade, de defesa da liberdade e da promoção da igualdade. É um projeto antigo, que um dia se chamou liberal e que produziu as revoluções americana (1760) e francesa (1789) e estimulou o pensamento e ação política libertária em todo mundo ao longo do século XIX e seguintes. 
O liberalismo no Brasil do Império, assim como o da República, esteve inteiramente voltado para justificar e garantir a propriedade – particularmente de seres humanos - e excluir escravos e os mais pobres. 
Ao invés de liberalismo, o que tem prevalecido na cultura política brasileira são soluções autoritárias. Sempre tutelada – pelo Rei, pelo Imperador e desde a República pelos militares - nossa democracia ainda é incapaz de defender os interesses nacionais. O Brasil é uma nação inconclusa, a maioria da população continua excluída. Brasileiros expatriados em sua própria terra. 
 Vote Certo.
Fonte do texto: GGN

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