quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A Era da Desfaçatez dos "vem pra rua", "não é por vinte centavos" e "MBL", por Jean Pierre Chauvin




Era da Desfaçatez, por Jean Pierre Chauvin
Dia desses, com mais cota de tempo e voragem, arrisco-me a dissertar sobre a era que este país (país?) vive com maior sofreguidão desde 2013. A(o) internauta se recorda? Àquela altura, o lema "não é por vinte centavos" logo se confundiu com o tenebroso lugar-comum "o gigante acordou", reverberado feito hino de torcida baixa no verde-amarelismo fake do prédio torto da Paulista, nas ruas e nos quatro pavimentos da estação.
Quase ninguém se perguntou, direito, porque a Presidenta eleita (e, depois, removida) nada fez para conter a invasão de cbfistas no Planalto, orgulhosos feito os seres que protagonizam a violenta cena que abre o filme 2001, cinquenta anos atrás. Ah...quanta diferença da atitude de uma estadista com o que sucedeu meses depois, durante a con-gestão temerária, em que os índios foram tratados como se formassem um bando de reclamões sem causa (nem terra). Não faltou jornal (que hoje padece com o monstro criado) a sugerir que os índios "atacaram" primeiro e o des-governo apenas "respondeu" à barbárie de arco e flecha.
Tudo em nome da "ordem", ou seja, do velho hábito de destilar e reinstaurar o antipetismo, adormecido desde o segundo mandato de FHC - o poliglota entreguista. Leitores de manchete e sujeitos que se orgulham do estatuto de assinantes passaram a fazer dos jornais fonte inquestionável de todo e qualquer argumento. Desde que o editor, o colunista, o repórter, o estagiário e o revendedor atribuisse à referida legenda partidária todos os males da nação (nação?), voltaríamos a pensar "igual" e, assim, "nossa bandeira jamais seria vermelha".
Neste cinco anos, nós contra-argumentamos, pessoalmente e por escrito. Tentamos demonstrar, de variadas formas, que havia gente muito mais questionável (e que nada tinha feito por esta terra, senão rifá-la aos gringos). Alguns nos levaram a sério. Outros propuseram questões que demandavam reformular o pensamento.
Mas, a maioria - por preguiça, pressa ou ignorância - determinou-se a ignorar os gritos de ódio de deputados e senadores e reafirmaram a necessidade de perpetuar as eternas medidas de "austeridade", no país "quebrado" por aquele partido. Ter eleito e reeleito Lula. Ter eleito e reeleito Dilma só valeu, com muitas ressalvas, e desde que o "mercado", a "mídia" tradicional", o caro executivo e o caríssimo judiciário estivessem acomodados sob o manto fake da democracia nacionalista.
Eles (não nós) alardeiam subserviência aos Estados Unidos (quem não entendeu que Trump é protecionista em/de seu país?). São tão terraplanistas e anti-laicizantes e hipócritas e contra o povo daqui (seremos povo, cancelada a noção de nação?) que nem para imitar têm competência. Se no des-governo daquele que protagonizou o "grande acordo nacional" (nacional? Mas, e o papel dos EUA, ontem teoria da conspiração; hoje, escancarado?) a desfaçatez era anunciada e replicada, agora o grau chegou ao segundo desnível.
Se eu acreditasse em céu e inferno, estaria a rezar dia e noite. Na falta da consolação providencial e de um bode expiatório, no cafofo quente da terra, recorro às Letras (essa área de conhecimento que virou perfumaria institucional) para dizer, com um poeta que viveu entre os séculos XIII e XIV, que estamos a descer os círculos dantescos, rumo à quentura para além (ou aquém?) dos trópicos. Nada mais literal, tendo em vista a propalada recusa do país em sediar aquele encontro mundial em defesa do meio ambiente.
Durante algum tempo, acreditei que valia a pena apontar que "eles" estão abaixo do senso comum. Cheguei a acreditar que a razão e, na falta dela, o bom senso, voltariam a nortear os conterrâneos que dividem (dividem?) esta terra de todos, exceto nossa. Então, reparei que o estado laico e a etiqueta "marxismo cultural" foram banalizados pelo discurso tosco dos novos senhores (senhores?). Melhor seria dizer que esses sujeitos atuam como grileiros, numa terra em que o mote da corrupção pretende justificar a cegueira generalizada, a hipocrisia e a incapacidade de autoexame.
Tudo em nome da "ordem" muy particular que prometem re-instaurar. Há tempos tenho dito que, na falta de um projeto de revitalização nacional, os três poderes (eles podem o que, mesmo?) agem como átomos. Cada um por si e todos contra o povo. Ora, ora, "povo". Desde quando há cabimento em falar no "povo", quando o projeto em curso objetiva anular qualquer resto de identidade e soberania?
Nós avisamos. 
Você pode continuar a sorrir, enquanto nos acusa de estarmos com dor de cotovelo. Faço-lhe um pedido: não nos subestime. Não descemos tão baixo quanto os entreguistas do país e os assalariados desta necolônia - que desejam para si mesmos o fim da seguridade social. Nem comentei quão oportuno e parcial é o discurso moralista da nova era velha "brasileira". Decerto, não serviria para nada, mesmo. 
Não se esqueça de celebrar a fraternidade natalina e o dia de branco, especialmente se você foi um desses que incentivou a criminalização das diversidades e desprezou as diferenças; se fingiu não reparar no que sentem, pensam e fazem as pessoas de seu convívio. Amém.

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