terça-feira, 27 de novembro de 2018

Vídeo de deputado do PSL eleito se soma às ameaças da ultra-direita a professores




A nova ameaça partiu do candidato eleito Daniel Silveira (PSL), o mesmo que quebrou a placa em homenagem à Marielle Franco (na foto, à esquerda) - Foto: Reprodução Twitter 
 
Jornal GGNDesde o resultado das eleições 2018, com a vitória do candidato da extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), três governadores de seu partido e uma bancada única que representará 15% de todo o Congresso Nacional, as ameaças dos próprios eleitos e de apoiadores do partido a professores vêm fazendo parte do noticiário semanal do país. Agora, foi a vez do deputado federal eleito Daniel Silveira (PSL) atacar a diretora de um colégio no Rio de Janeiro.
 
Depois do caso da deputada catarinense eleita do PSL, Ana Caroline Campagnolo, que estimulou no fim de outubro a perseguição a "professores doutrinadores" no estado, ainda no mesmo período um oficial de Justiça de Pernambuco, ex-tenente do Exército, Rogério Magalhães, convocou estudantes de Recife a mesma prática. 
 
"Estudante recifense, com a eleição de Bolsonaro, é possível que ‘professores’ doutrinadores façam de suas salas de aula verdadeiros palanques. Filme ou grave qualquer caso de doutrinação e nos envie pelo WhatsApp. Fixar ideologia política na cabeça dos alunos não é papel do verdadeiro professor", havia dito o oficial, em suas redes sociais.
 
Também no fim de outubro, professores da Universidade de Brasília (UnB) chegaram a cancelar aulas após serem ameaçados por um movimento que se intitulou "caça aos comunistas". Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma carta nomeando professores e alunos ameaçava "banir" estas pessoas do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, na primeira semana de novembro.
 
A carta intitulada "Doutrinadores e alunos que serão banidos do CFCH" chamavam os professores de "doutrinadores", "comunistas" e "ameaça à moral e aos bons costumes", e os alunos de "orientandos esquerdistas" e "exército de viados, travecos, feminazis, prostitutas e todos os tipos de degenerados". O caso teve que ser levado à Justiça, para investigação do Ministério Público.
 
Nesta semana, foi a vez do deputado federal eleito pelo PSL, Daniel Silveira, gravar um vídeo com ameaças à diretora do Colégio Estadual Dom Pedro II, Andrea Nunes Constâncio, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. "Iremos criminalizar e punir qualquer professor e diretor que esteja doutrinando adolescentes em escolas com ideologia socialista comunista", afirma, no vídeo.
 
Na ameaça, Silveira diz, ainda, que irá pedir uma auditoria da gestão de Andrea na escola porque ela criticou a permissão dada por funcionários para a entrada do parlamentar no colégio, sem autorização prévia. "Diretora, sou deputado federal e meu caráter é de fiscalizador. Posso entrar em qualquer estabelecimento sem permissão", disse, sem ser ainda deputado federal e defendendo ser capaz de uma competência que não é dele.
 
A responsabilidade por possíveis fiscalizações em gestão de colégios estaduais é do Tribunal de Contasl do Estado e da Secretaria estadual de Educação. Um parlamentar não tem essa competência. Ainda assim, mesmo que o tivesse, Daniel Silveira ainda não tomou posse.
 
"Vou solicitar uma auditoria na sua escola desde o princípio de sua gestão para ver se tudo está tão certinho", continuou, no vídeo. O candidato eleito a deputado federal disse que a visita ao colégio tinha como objetivo "a modernização do sistema de nota, falta e presença" e "ajudar a vida dos professores".
 
"Todos os professores têm o meu respeito. Professores de esquerda têm o meu desprezo. Quero deixar isso claro", seguiu, nas ameaças. "Iremos criminalizar e punir qualquer professor e diretor que esteja doutrinando adolescentes em escolas com ideologia socialista comunista. Vocês não darão mais um passo sem a gente intervir e punir vocês", concluiu.
 
Assista ao depoimento, abaixo:
 
 
Em resposta, a Direção do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE/RJ), Núcleo Petrópolis, repudiou a postura e ameaças do candidato eleito e ressaltou que "o ainda aspirante ao cargo de representante do povo não goza das prerrogativas e atribuições de tal cargo".
 
"Tal fato só torna ainda mais absurdas as declarações e ameaças de Daniel Silveira contra a diretora do CENIP, pois, ainda que já estivesse ocupando o cargo de deputado federal, o mesmo não possui o poder de adentrar a qualquer momento em unidades escolares e salas de aula, a fim de constranger e ameaçar docentes e gestores escolares", completou.
 
"É evidente, portanto, o despreparo e desconhecimento do recém eleito quanto às suas futuras atribuições como deputado federal, bem como quanto ao papel da educação e a realidade das unidades escolares no estado do Rio de Janeiro, sendo certo que suas declarações e ameaças ferem diretamente as garantias fundamentais e liberdades democráticas previstas na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), além de atentar contra a dignidade da diretora citada e os princípios norteadores do Estado Democrático de Direito", concluiu a direção da SEPE Petrópolis.

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