quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O CADE não pode mais autorizar uma Boeing em ruínas a absorver a EMBRAER, entregue/doada por golpistas anti-nacionais. Texto escrito por Ion de Andrade


 Essa EMBRAER, orgulho nacional, seria comprada pela bagatela de 4,2 bilhões de dólares. Esse montante corresponde atualmente a 1/5 do mínimo estimado em perdas pela Boeing decorrentes de encomendas que poderão ser canceladas de aviões 737


O CADE não pode mais autorizar uma Boeing em ruínas a absorver a EMBRAER

por Ion de Andrade, no GGN

Breve histórico
Na sequência da fusão entre a Airbus e a Bombardier, a Boeing propôs à EMBRAER a criação de uma nova empresa, a Boeing Brasil da qual 80% pertenceria à Boeing e 20% à EMBRAER tendo em vista um melhor posicionamento no mercado. A porção militar da EMBRAER ficou de fora da fusão por interferência da Aeronáutica, mas toda a parte da aviação civil, produtora de tecnologia de ponta, florão da indústria nacional, deveria ser englobada pelo então gigante americano Boeing.
Essa EMBRAER, orgulho nacional, seria comprada pela bagatela de 4,2 bilhões de dólares. Esse montante corresponde atualmente a 1/5 do mínimo estimado em perdas pela Boeing decorrentes de encomendas que poderão ser canceladas de aviões 737 Max que talvez não venham mais a ter autorização para voar e se acumulam às centenas nos pátios da empresa nos Estados Unidos (400 aviões)… Como as perdas para a empresa não se limitam ao cancelamento dessas encomendas, isso significa risco real de que a EMBRAER talvez esteja sendo fundida à potencial massa falida da Boeing, ou sendo tragada num sumidouro de dimensões bilionárias.
A Boeing começou a ser desmascarada por suas práticas inseguras após dois acidentes recentes que mataram centenas de pessoas. O primeiro ocorreu em 29 de agosto de 2018 na Indonésia e derrubou um avião da Lion Air deixando 189 mortos e o segundo ocorreu em 10 de março de 2019 e derrubou um jato da Ethiopian Air Lines deixando 157 mortos.
 Os problemas
A Boeing tem hoje em torno de 400 aviões 737 Max estocados em seus hangares e pátios, sem autorização para entregá-los. O valor de cada um deles gira entre 55 e 100 milhões de dólares, o que aponta para um prejuízo caso o modelo não seja mais autorizado a voar superior a 20 bilhões de dólares (clique aqui)
Mas os problemas não param por aí. O ano de 2019 foi o pior dos últimos 30 anos para a empresa e os cancelamentos de pedidos foram maiores do que as encomendas que bateram recorde negativo.
Diversas empresas de aviação pelo mundo estão cancelando seus voos em virtude de preverem que não poderão voar com os seus 737 Max e serão milhares de voos cancelados. Isso significa, para além do prejuízo com os aparelhos cujas encomendas estão sendo canceladas, prováveis indenizações milionárias em virtude desses prejuízos de terceiros em dominó. E essa crise com as companhias de aviação não se resolverá apenas com uma autorização legal de voo para o 737 Max, (que talvez não venha) pois as empresas aéreas poderão desistir dele e seus passageiros poderão não mais querer voar nessas aeronaves.
O quadro mergulha suas raízes em algo que pode ser considerado ao menos como falta de transparência (para dizer o mínimo), pois o MCAS, um sistema de estabilização auxiliar do 737 Max, cuja existência se devia a necessidades suplementares de estabilização, era comumente desconhecido dos pilotos (clique aqui) e a Boeing, no caso da Lion Air, zombou da empresa informando que eram desnecessário treinamentos específicos para os pilotos.  
A homologação pelos órgãos de controle americanos foi estranhamente facilitada o que gerou a abertura de um processo contra a empresa no Departamento de Justiça daquele país, (clique aqui).
Esse projeto inseguro e pouco transparente matou centenas de pessoas em acidentes, portanto, razoavelmente previsíveis, pois sabe-se agora que os funcionários da Boeing, para além de tudo, consideravam que o projeto havia sido feito por palhaços, tão baixa era a sua credibilidade (clique aqui).  
Mas as desventuras em série não param por aí. A tão esperada cápsula da Boeing, a Starliner, encomendada pela NASA para o transporte regular de passageiros ao espaço, falhou no seu teste de dezembro adiando a conclusão do projeto e obrigando a empresa a mais despesas e testes.
No dia 14 de janeiro, por problemas de motor um outro Boeing despejou toneladas de combustível em cima de uma escola nos Estados Unidos afetando, segundo a imprensa americana 31 pessoas em terra.
Como não poderia deixar de ser, segundo a Bloomberg, a Boeing estaria atualmente negociando um empréstimo milionário em meio à crise com o 737 Max, o que obviamente sinaliza para riscos financeiros reais, caso os bancos não considerem seguro emprestar a uma empresa que talvez deva provar melhor a sua capacidade de se sustentar.
Diversos analistas acreditam que a Boeing será salva pelo governo americano, pois só ela fabrica certos componentes cruciais para a defesa. Mas o governo americano poderia salvar apenas a divisão militar, menos afetada pela crise do que a da aviação civil. E  esse é um problema para nós porque a nossa EMBRAER foi comprada justamente para integrar o segmento da aviação civil da Boeing.
A crise da empresa é tão profunda que a JP Morgan estima que o impacto da decomposição da Boeing venha a gerar impacto da ordem de 0,6% do PIB nos Estado Unidos…
Todas essas questões interferem diretamente no negócio, ocorreram posteriormente às tratativas com a EMBRAER, são supervenientes, e não podem, obviamente, deixar de ser consideradas na autorização da fusão das duas empresas pelo CADE sob pena de risco de grave lesão aos interesses brasileiros.
 O CADE simplesmente não pode mais, não tem mais direito de autorizar a fusão da EMBRAER com a Boeing porque as circunstâncias mudaram radicalmente!
Essa não é uma questão direita/esquerda. Trata-se da defesa do patrimônio nacional e de assegurar um lugar decente para o Brasil no contexto da produção de ciência e tecnologia aeroespacial.

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