Se usar o nome de Deus de forma tão infame fosse crime, o ginásio do Maracanãzinho teria se transformado num presídio de segurança máxima
O que deveria ser o lançamento da candidatura de Bolsonaro à reeleição, se transformou num culto evangélico neopentecostal tendo a primeira dama da república, Michelle Bolsonaro, como a pastora responsável por apascentar o rebanho bolsonarista presente ao evento. A mulher que nunca conseguiu explicar porque o Queiroz depositou 89 mil reais em sua conta, agora tenta nos convencer de que Deus tem um projeto de libertação para o país através do segundo mandato do seu amado “rusband”. Porque não basta ser fascista, tem que usar o nome de Deus para legitimar o fascismo de suas ideias.
No entanto, cá entre nós, dona Michelle que já não é lá muito convincente como primeira dama, é muito menos ainda como cabo eleitoral do marido. O momento da sua pregação religiosa foi, no mínimo, patético. Se observarmos o vídeo com a devida atenção, perceberemos o constrangimento que toma conta da linha de frente do bolsonarismo presente no palco. Evocando a suposta facada que o presidente teria levado durante a campanha de 2018, ela revela que entregou a recuperação do marido nas mãos do senhor e disse que daria glórias a Deus, independentemente se ele sobrevivesse ou morresse. A julgar por tudo de ruim que ele tem feito em seu governo, a maioria da população teria dado glória a Deus pela segunda opção.
Com direito a mugidos de “aleluia” vindo da plateia, Michelle diz que somos uma nação rica e próspera, a qual Deus ama e ensinou os bolsonaristas a amarem e a cuidarem dela. Isso explica o inferno que estamos vivendo desde primeiro de janeiro de 2019. Eu não sei a que deus Michelle se referia, mas seja lá quem for, esse amor que colaborou com a morte de quase 700 mil pessoas durante a pandemia, e que levou 33 milhões de pessoas a passarem fome, é totalmente dispensável. A primeira dama também apelou para o ufanismo e exaltou o sentimento de patriotismo e o orgulho nacionalista, que teria sido resgatado nos brasileiros após a eleição de Bolsonaro. Chamando o Brasil de “terra santa” e “escolhida por Deus”, ela declara que Deus tem promessas para esta naç&ati lde;o.
Eu confesso que, ao mesmo tempo, fico curioso para saber quem é o deus de Michelle e dos bolsonaristas, morro de medo de saber quais outras promessas ele ainda teria feito para o país, caso Bolsonaro se reeleja. Talvez, o apocalipse esteja nessa lista. O delírio egoico e narcísico de Michelle Bolsonaro atinge o seu clímax quando ela encarna uma versão feminina de Jesus, e atribui às próprias orações de “joelhinhos dobrados”, a chegada de tais promessas ao Brasil. Ou seja, Michelle anunciou o seu messianismo e a sua esquizofrenia ao mundo. De modo que os profissionais da saúde mental, quase que por um dever cívico, deveriam fazer uma análise clínica do seu discurso.
O grau de distopia contido nas falas da mulher de Bolsonaro é preocupante. Principalmente, quando ela diz que Bolsonaro, “além de ser lindo”, tem um coração puro e limpo, é um escolhido de deus e que tem recebido desse mesmo deus, sabedoria e discernimento para governar. Mas que diabo de deus é esse? Que loucura é essa? Já estaria tudo suficientemente infernal, mas faltava ela dizer que o desejo de reeleição não é um projeto de poder como muitos pensam, mas um propósito de libertação e cura para o nosso Brasil. Bem que o deus de Michelle poderia ter implementado esse propósito durante a pandemia, dando sabedoria para o presidente comprar a vacina em tempo hábil, e, assim, evitar centenas de milhares de mortes. Pena que o discernimento que o deus de Michelle deu ao seu marido, só o fez debochar do sofrimento da população e a ignorar as mortes que ele poderia ter evitado.
Finalizando o seu culto ao deus desconhecido, ela declara que “o Brasil é do senhor” e diz que na Bíblia existem várias passagens que falam sobre a nossa nação. Sim, o Brasil está na Bíblia de Michelle Bolsonaro, e eu não sei mais o que escrever depois de ter ouvido isso. Apesar de sua risível colocação ter me dado uma ideia de quem seja o deus do bolsonarismo. Ela ainda ensina que para interceder pelo governo, não precisa muito. Basta obedecer ao mandamento do senhor que manda “orar pelas autoridades instituídas” e tudo vai dar certo. Como eu disse no início do artigo, o fascismo precisa de um deus todo poderoso para legitimar a perversidade contida em suas ideias. E Michelle invoca a autoridade do seu para legitimar a barbárie, a maldade, o preconceito , a fome, a violência e a morte como propósito de crescimento para a nação.
Se usar o nome de Deus de forma tão infame fosse crime, o ginásio do Maracanãzinho teria se transformado num presídio de segurança máxima. Canalhas! Canalhas! Canalhas! O inferno, se existir mesmo, tem a obrigação de lhes reservar o lugar mais quente da hospedaria. Essa gente não presta! Não valem o frango com farofa que Bolsonaro come e espalha feito um porco pelo chão. Como chegamos a um nível tão baixo? Resta-nos interceder pelo Brasil nas urnas, para que as palavras do deus de Michelle e dos bolsonaristas não se cumpram nessa terra. Que a partir do dia 2 de outubro, eles, junto com esse deus violento e assassino, sejam varridos para o lixo da história e nunca mais voltem a nos perturbar.
Que Deus nos livre do deus de Michelle Bolsonaro!
Fonte do texto: 247
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