sábado, 9 de julho de 2022

E agora com vocês mais um capítulo da série bolsonarismo Global, por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

Ao dar mais dinheiro para a Rede Globo, Bolsonaro sacramentou a convivência pacífica incivil entre ele e o clã Marinho

E agora com vocês mais um capítulo da série bolsonarismo global

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Essa charge que circula no Facebook captou bem toda as fases das relações entre o Führer bananeiro. Após tomar posse na presidência, Bolsonaro ameaçou e ofendeu jornalistas da Rede Globo. Ele atacou a agenda da empresa e tentou reduzir a importância dela dando dinheiro às redes de TV dominadas por evangélicos. Quando disse que não renovaria a concessão da TV Globo ele praticamente urinou na companhia. Depois, o mito recuou e decidiu dar uma fortuna à Rede Globo com a esperança de comprar o apoio eleitoral dos herdeiros de Roberto Marinho.

Qual é o significado dessa estranha união entre o gayzismo global e o anti-gayzismo bolsonarista*? Há 4 anos a Rede Globo se posiciona como se fosse oposição ao governo Bolsonaro, mas a verdade é que em nenhum momento a empresa chamou a população para a rua para derrubá-lo como fez com Dilma Rousseff. O espetáculo de corrupção bolsonarista foi explorado pelo jornalismo global, mas com uma ênfase muito menor do que aquela utilizada nos casos do Mensalão e da fraudulenta Lava Jato.

De maneira geral, podemos dizer que a Rede Globo conviveu com Bolsonaro. Por outro lado, apesar dos ataques que fez à empresa, o Führer bananeiro não tomou nenhuma medida real para impor a censura da programação televisiva. Apesar das aparências, podemos dizer que o anti-gayzismo bolsonarista e o gayzismo global conviveram de maneira pacífica.

Ao dar mais dinheiro para a Rede Globo, Bolsonaro sacramentou a convivência pacífica incivil entre ele e o clã Marinho. Portanto, devemos supor que ele acredita que ganhará mais eleitores não evangélicos do que os eleitores evangélicos que ele perderá em virtude de financiar o gayzismo global. Suponho que como parte desse acordo entre cavalheiros canalhas, o Jornal Nacional intensificará seus ataques contra Lula e diminuirá o tempo de cobertura negativa destinada ao governo Bolsonaro.

No passado, o clã Marinho tinha o poder de construir um candidato e levá-lo à presidência mediante artifícios jornalísticos, retóricos e imagéticos. Na fase atual, a Rede Globo tentará interferir na eleição manipulando o percentual de rejeição dos dois principais candidatos para evitar uma vitória de Lula no primeiro turno. Um segundo turno entre ambos provavelmente aumentaria o poder de barganha** da Rede Globo e dos banqueiros que nela anunciam.

Se não for possível impedir a vitória de Lula, a direita fará qualquer coisa para tentar manter as conquistas que obteve após o golpe de 2016. Essa é a leitura que eu faço da inusitada união entre dois extremos aparentes que tem em comum duas coisas: o amor à corrupção institucionalizada e o ódio ao PT.

Os interesses do respeitável público obviamente não entram nos cálculos políticos da Rede Globo ou nas equações eleitoreiras de Jair Bolsonaro. O respeitável público não existe. A única coisa que conta num acordo entre cavalheiros canalhas é o poder de seduzir, enganar e manipular os corações e mentes dos eleitores daqui até a eleição.

A novela da Lava Jato provavelmente será requentada e reciclada, com ataques moderados ao STF. Se desistir de ser candidato, Sérgio Moro poderá voltar a ser galã de telejornal e garoto-propaganda do anti-petismo global/bolsonarista. Todos os cavalheiros canalhas têm um preço e aquele ex-juiz está desempregado.

Uma parte dos pastores provavelmente vai reagir mal à união entre gayzismo global e o anti-gayzismo bolsonarista. Muitos deles, porém, continuarão ao lado do mito porque eles não estão realmente interessados em religião e sim em exercer uma parcela de poder para enterrar a mão fundo no orçamento da União.

O pacto mefistofélico assinado pelo clã Marinho não chega a causar estranhamento. A Rede Globo nasceu apoiando ditadores e torturadores. Ela cresceu elogiando o regime político autoritário, assino, bestial, violento e excludente criado pelo Exército em 1964. Bolsonaro é um filhote tardio da ditadura e, portanto, um aliado histórico do gayzismo global.

Alles gute? Auf keinen Fall.

O que é bom para Bolsonaro e para o clá Marinho obviamente não será bom para a esmagadora maioria da população brasileira. Será preciso redobrar o esforço para eleger Lula no primeiro turno.

* utilizei as expressões gayzismo global e o anti-gayzismo bolsonarista para fazer jus ao discurso utilizado pelo presidente e seus apoiadores fanáticos

**  eufemismo para poder de chantagem econômico, político e financeiro

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br.

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