Em depoimento à PF, ex-comandante do Exército teria corroborado a versão de Mauro Cid sobre os intentos golpistas de Bolsonaro
Do Jornal GGN:
O general Freire Gomes, que esteve no comando do Exército em 2022, confirmou em depoimento à Polícia Federal (PF), a cronologia da fatídica “minuta do golpe”. Segundo o militar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) junto do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira apresentou a aliados duas versões do documento.
As declarações do general vão de encontro com o depoimento do brigadeiro Carlos de Almeida Batista Jr. , que corroboram a delação do ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, que revelou os intentos golpistas de Bolsonaro à PF.
Conforme apuração de Míriam Leitão, no Globo, o depoimento de Freire Gomes preenche “lacunas” e sustenta que Bolsonaro não só tinha o conhecimento, como mandou alterar um decreto que estabelecia a prisão do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, e realização de novas eleições no país.
Os elementos apontam também que os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica implicaram diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe.
As falas são confirmadas ainda pelos fatos, como a minuta do golpe que também foi encontrada no gabinete do ex-presidente dentro da sede do Partido Liberal. Além disso, dados de registros de celulares e de entrada e saída do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República complementam as versões. Confira:
Confira a cronologia da “minuta do golpe”
Dados de registros de celulares e de entrada e saída do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, complementam os indícios de que Jair Bolsonaro (PL) não só tinha o conhecimento como mandou alterar um decreto que estabelecia a prisão do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, e realização de novas eleições no país.
A Polícia Federal (PF) usou os registros da movimentação no Alvorada e dados de Estações Rádio Base (ERB) para corroborar a versão dos fatos delatada pelo tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro.
Conforme já noticiado pelo GGN, a partir da Operação Tempus Veritatis, deflagrada na última quinta-feira (08), Bolsonaro não só sabia da minuta do decreto de um golpe de Estado, como editou, pediu para ajustar o texto, e também apresentou sua versão aos comandantes das Forças Armadas, em novembro de 2022.
Agora, um documento obtido pelo blog de Andréia Sadi, no G1, traz à tona esses registros. Confira:
19 de novembro
Em reunião no dia 19 de novembro de 2022, 20 dias após o 2º turno da eleição e vitória do presidente Lula (PT), Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada o assessor da presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, o advogado Amauri Saad e o padre José Eduardo de Oliveira e Silva.
Os dados de controle e de saída da residência oficial e os dados de seus celulares, no histórico das Estação Rádio Base (ERB) da região do imóvel, indicam que Martins entrou pelo portão principal às 14h59, no mesmo horário que o padre José Eduardo. Mauro Cid estava no Alvorada desde às 8h34 da manhã.
Foi nesse encontro, que Martins apresentou ao ex-presidente a minuta de decreto que detalhava diversos “fundamentos dos atos a serem implementados” contra uma suposta “interferência do Judiciário no Poder Executivo”.
Este texto inicial, não só pedia a prisão de Moraes, como do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes; além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O documento também previa a realização de novas eleições.
Em delação, Cid afirmou que nesse encontro Bolsonaro teria determinado a Martins alguns ajustes na minuta deste decreto, permanecendo apenas com a prisão de Moraes e a realização de novas eleições.
7 de dezembro
Martins retornou ao Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro, com a minuta ajustada a pedido de Bolsonaro. Neste encontro, segundo a PF, o ex-presidente aprovou as alterações.
Neste dia, Bolsonaro pediu também uma reunião para apresentar a minuta ao então comandante do Exército, general Freire Gomes; ao comandante da Marinha, almirante Garnier Santos; e ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
Há registros no controle de entrada e saída de Freire Gomes, Garnier e Nogueira no Alvorada em 7 de dezembro. O então ministro da Defesa chegou às 8h25 da manhã, enquanto o general e o almirante chegaram às 8h34. Martins chegou neste mesmo horário.
Já o nome do advogado Amauri Saad não aparece no registro deste dia, mas a PF afirmou que conseguiu identificar que o celular do advogado aparece na ERB que abrange o Palácio da Alvorada, no mesmo período em que Martins, Garnier, Freire Gomes e Nogueira estiveram na residência oficial, o que indica que o advogado possa ter entrado no Alvorada sem ter sido registrado.
No dia 7 de dezembro, os registros de entrada e de saída do Alvorada ainda mostram a visita de Tércio Arnaud, o ex-assessor de Bolsonaro considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”. Ele entrou às 7h26 e saio às 20h49, ou seja, esteve no horário em que se tratou sobre a minuta.
9 de dezembro
Em 9 de dezembro, a investigação aponta que Bolsonaro fez alguns ajustes na minuta do decreto para enxugar o texto.
Nesse dia, Bolsonaro se reuniu no Palácio da Alvorada com o general Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante de Operações Terrestres e que estava disposto a cumprir as determinações relacionadas ao golpe se Bolsonaro assinasse o decreto.
Dados encaminhados pelo GSI comprovam a presença do general no Palácio do Alvorada, chegando às 18h25 e saindo às 19h18.
Já Cid ficou entre 9h45 e 20h23 no Alvorada nesse dia. Dentro desse período, ele mandou uma mensagem ao comandante do Exército, Freire Gomes, pelo aplicativo de comunicação UNA, usado pelo Exército.
No mesmo dia, o ex-presidente falou com apoiadores na frente do Alvorada depois de semanas de silêncio após perder a eleição presidencial. Na ocasião, Bolsonaro já preparava ânimos e dava indicativos de golpe.
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