terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O Nazista que mora ao lado, por Mauro Nadvorny, perito em Veracidade e administrador do grupo Resistência Democrática Judaica



O mundo em geral, e o Brasil em particular, precisam educar as próximas gerações para o terror que representou o regime nazista. O governo brasileiro está muito próximo das mesmas ideias. Trocam judeus, por comunistas, e apresentam o mesmo discurso

Do Brasil 247



(Foto: ADRIANO MACHADO - REUTERS)


Por ocasião da cerimônia que marca o 75º aniversário da libertação soviética do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, venho me fazendo a pergunta se uma pessoa pode ser nazista desconhecendo o mal que este regime causou para a Alemanha e o mundo. 
Como judeu, nazismo está associado a morte. O regime matou seis milhões de judeus e nunca vamos esquecer disso. Temos uma palavra que define nossa tragédia: Holocausto. Somente agora a população judaica no mundo chegou ao mesmo número de antes da segunda guerra, o que dá uma ideia do genocídio causado por eles.
Quando aprendemos sobre nazismo, nós judeus, praticamente esquecemos quem mais foi perseguido, morto e todo o mal que eles causaram ao mundo. Tentamos justificar com o fato de que fomos caçados e mortos por sermos judeus, onde nos encontrávamos, de forma metódica. Achamos que os demais morreram em consequência das batalhas militares ou em consequência dos efeitos colaterais dos bombardeios. Nenhuma bomba tinha um endereço para alguém específico, mas os nazistas foram nos nossos endereços, um a um para nos exterminar.
Estima-se às mortes de outros grupos perseguidos em 11 milhões. As vítimas incluem gays, padres, ciganos, portadores de deficiências mentais ou físicas, comunistas, sindicalistas, testemunhas de Jeová, anarquistas, poloneses e outros povos eslavos, e combatentes das resistências. 
Portanto, é preciso compreender que os nazistas perseguiam uma limpeza étnica, onde os arianos seriam a raça superior. Algumas raças poderiam ser toleradas, sempre que abaixo dos arianos, mas não os judeus que deveriam ser dizimados. Dois terços dos mortos na guerra eram civis. O número total de perdas em vidas fica entre 65 e 75 milhões.
Mas os nazistas não chegaram ao poder apenas desejando dominar o mundo a sua maneira. O Partido Nacional-Socialista tinha propostas para a Alemanha, e uma delas definia quem era considerado cidadão: “Apenas um membro da raça pode ser um cidadão. Um membro da raça só pode ser aquele que é de sangue alemão, sem consideração de credo. Consequentemente nenhum judeu pode ser um membro da raça.”
Uma vez definido quem era cidadão, destaco entre as propostas:
O direito de determinar as questões relativas à administração e ao direito pertence apenas ao cidadão. Por isso exigimos que todos os cargos públicos, sejam quais forem, tanto no Reich quanto no condado ou na municipalidade, sejam preenchidos apenas pelos cidadãos. Nós combatemos a economia parlamentar corruptora, a distribuição de cargos somente de acordo com as inclinações partidárias, sem considerações de caráter ou habilidades.
Todos os cidadãos devem ter direitos e obrigações iguais.
A primeira obrigação de cada cidadão deve ser trabalhar tanto espiritualmente quanto fisicamente. A atividade dos indivíduos não deve contrariar os interesses da universalidade, mas deve ter seu resultado no contexto do todo para o benefício de todos. Consequentemente, exigimos:
A abolição de rendimentos indevidos (de trabalho e emprego). Quebra da escravidão de aluguel.
Exigimos a nacionalização de todas as indústrias (previamente) associadas (trusts).
Exigimos uma divisão dos lucros de todas as indústrias pesadas.
Exigimos uma expansão em larga escala do bem-estar na velhice.
Exigimos a criação de uma classe média saudável e a sua conservação, comunalização imediata dos grandes depósitos e o seu aluguel a baixo custo para pequenas empresas, a máxima consideração de todas as pequenas empresas em contratos com o Estado, condado ou município.
Exigimos uma reforma agrária adequada às nossas necessidades, a provisão de uma lei para a livre expropriação de terras livres para fins de utilidade pública, a abolição dos impostos sobre a terra e a prevenção da toda especulação de terra.
O Estado deve cuidar da elevação da saúde nacional protegendo a mãe e o filho, criminalizando o trabalho infantil e encorajando o preparo físico, por meio do estabelecimento legal de uma obrigação de ginástica e esporte, e pelo máximo apoio a todas as organizações ocupadas com a instrução física dos jovens.
Quem desconhece os crimes nazistas e tivesse acesso a estas propostas, poderia de boa-fé, imaginar que estas propostas partidárias fizessem sentido nos dias de hoje, mesmo que datando de 1928.
Aí é que está o grande problema. Não existe uma educação para este passado sombrio. A maioria das pessoas desconhece o que foi o nazismo e o mal que ele causou para todo o mundo, não somente para os judeus.
Sendo assim, a ideia de que um secretário da cultura apresente uma proposta de um ministro nazista para o Brasil, não é de todo intrigante. Podemos ficar estupefatos a primeira vista, mas logo devemos buscar as causas para algo tão surpreendente.
A proposta foi feita a forma e semelhança do que fez Goebbels. Tudo ali foi premeditado e cuidadosamente preparado. Falar em coincidência é risível, para dizer o mínimo. Alvin se preparou para trazer a público o que ele realmente acredita, por exemplo, o Brasil ser o país da Ópera!
Ele se soma aos casos recorrentes de simpatizantes nazistas que já começam a se mostrar ostentando a Cruz Suástica, o que é proibido por lei.  
O mundo em geral, e o Brasil em particular, precisam educar as próximas gerações para o terror que representou o regime nazista. O governo brasileiro está muito próximo das mesmas ideias. Trocam judeus, por comunistas, e apresentam o mesmo discurso. 
Não há mais tempo a perder. É preciso cortar o mal pela raiz, afinal de contas, nunca se sabe com certeza quem mora ao lado.
O que é certo é que eles estão no poder!


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