sábado, 11 de maio de 2019

Brasil de Bolsonaro e Argentina de Macri: tragédias neoliberais, por André Motta Araújo



Dois resultados catastróficos, pobreza crescente, desemprego, fechamento de fábricas, concentração de renda para os privilegiados e a elite, um pequeno núcleo rentista bem de vida, uma grande massa sem esperança.

Do GGN:


Brasil e Argentina: tragédias neoliberais

por André Motta Araújo

Dois países muito diferentes, mas com política econômica seguindo a mesma escola de pensamento. Dois resultados catastróficos, pobreza crescente, desemprego, fechamento de fábricas, concentração de renda, um pequeno núcleo rentista bem de vida, uma massa sem esperança.
Ah, dirão os ignorantes, então você quer uma nova Venezuela? Pensam eles que só existem, no mundo, dois caminhos: ou é Maduro ou é a Escola de Chicago.
POLÍTICA ECONÔMICA É UMA MESCLA DE INSTRUMENTOS
Comandar a política econômica de um grande país exige CÉREBRO BRILHANTE, liderança para convencer, uso de ferramentas variadas a cada dia.
Não é para qualquer um, entre 100 bons economistas não se encontrará um Ministro, mas ser economista NUNCA foi a regra para comandar a economia de qualquer País, nem no Brasil, nem nos EUA. No Brasil, entre 97 Ministros da Fazenda da República, apenas 11 foram economistas, nos EUA no Século XX dois Secretários do Tesouro foram economistas. O perfil necessário é LIDERANÇA.
No Brasil, o mais versátil e mais criativo Ministro da Fazenda em períodos completamente diferentes e em circunstâncias dificílimas foi Oswaldo Aranha, que era tudo menos economista. Já Delfim Neto combinou espetacularmente o perfil de professor de economia com capacidade de liderança e convencimento, assim como Roberto Lavagna na Argentina, Donald Regan e James Baker nos EUA. Estes últimos, ambos advogados, tiveram outros cargos políticos, Regan foi Chefe da Casa Civil do Presidente Reagan (85-87) depois de ter sido um excelente Secretário do Tesouro (81-85), Baker foi Secretário de Estado de Bush pai (89-92) depois de ter sido Secretário do Tesouro de Reagan (85-88). Quer dizer, eram líderes ecléticos, para a articulação, para a diplomacia mundial, não eram limitados à economia, eram operadores de política.
POLÍTICA ECONÔMICA NOS GOVERNOS DILMA E CRISTINA KIRCHNER
Foram em ambos os governos RUINS por falta de liderança e capacidade nos comandos da política econômica. O Ministro Guido Mantega era um bom professor de economia, mas não um brilhante comandante da economia. No governo de Cristina Kirchner foram cinco maus Ministros, alguns desconhecidos como portadores de qualquer tipo de capacidade técnica ou política e muito menos prestígio internacional, escolhas péssimas.
Países emergentes requerem um OPERADOR TIPO MAESTRO com comando micro e macro, não basta ser formulador, é preciso capacidade política para comandar. Delfim tinha essa capacidade técnica e política e sabia comandar, assim como Oswaldo Aranha. Não é coisa fácil, não se consegue sempre, às vezes falha, mas é um perfil raro e necessário e é o que define o sucesso ou fracasso da política econômica e não seguir uma “escola”, que pouco vale.
JK teve um político clássico, Jose Maria Alkmin. Políticos são geralmente ótimos Ministros da Fazenda porque sabem liderar e comandar.
A RECEITA NEOLIBERAL PARA PAÍSES EMERGENTES
A impropriamente chamada “escola neoliberal” como política econômica foi tentada em alguns países emergentes de governos medíocres. Não se aplica esse tipo de fórmula em países avançados, onde a política monetária é usada como um fole ou uma sanfona, se expande e se contrai para garantir o emprego e o crescimento, sem seguir “mandamentos” como os estratificados neoliberais que comandam esse “bunker da burrice”, o Banco Central do Brasil, instituição que, desde 1994, é incapaz de apresentar alguma ferramenta operacional no caminho do emprego e do crescimento e algo novo na sua política monetária. Porque não expandir a emissão de moeda, congelada há vinte anos, invés de emitir dívida pública, que é moeda com juros?
Dentro de certos limites, em uma economia estagnada há cinco anos, há espaço para expandir moeda e crédito SEM INFLAÇÃO em boa escala, criando renda e demanda e assim fazendo crescer a economia e a arrecadação, QUE ESTÁ CAINDO MÊS A MÊS.  Para executar uma política dessas é preciso um piloto exímio, calibrando o fole todo dia, expande um pouco, vê o efeito sobre a inflação, se nada acontece expande mais, é uma calibragem dia a dia, não é um plano de “escola”, é uma operação a quente, hora a hora. Dá para fazer uma grande expansão monetária sem inflação dada a ociosidade na economia, a expansão aplicada em obras paradas, em novas obras de saneamento, em moradia popular, puxando o emprego, renda e crescimento.
É espantosa, inacreditável a mediocridade, a mesmice, a retranca, a pasmaceira das direções do Banco Central nos últimos 20 anos. Gente sem sangue, sem alma, sem vibração, sem projeto de País, sem preocupação com o desemprego e a miséria da maioria da população, burocratazinhos de mercado, segurando centésimos de um por cento em seus índices de inflação. MAS É SÓ ISSO? BANCO CENTRAL NÃO É SÓ ISSO. Banco Central está ligado ao futuro do País, a prosperidade e bem estar do povo, não existe para só garantir os lucros do fundo especializado em montagens câmbio-índices-juros de Nova York.
Hoje todos os bancos centrais, a começar do Europeu e do FED estão preocupadíssimos com o crescimento, NÃO É SÓ COM A ESTABILIDADE.
Como o Brasil cometeu em 1994 a loucura de entregar de porteira fechada o Banco Central ao “mercado”? Não teve, desde 1994, um ÚNICO dirigente, mesmo nos governos do PT, fora do mercado, os presidentes e diretores foram 100% do “mercado”. Por que? Há no Brasil excelentes economistas sem ligações e compromissos com o “mercado”. Um novo governo pode restabelecer o controle de câmbio e colocar gente fora do mercado no BC. O FMI aceita, nos estatutos, controle de câmbio, não é crime.
O Brasil foi membro pleno do FMI de 1945 a 2013 com controle de câmbio, quem revogou o controle foi o governo Dilma. Hoje os bancos se autorregulam, não precisam pedir autorização do BC para remeter. Uma aberração, hoje o BC existe voltado para fora, para dar segurança cambial aos horrendos gestores de fundos “hedge” nova-iorquinos.
A mídia baba-ovo fala em dar previsibilidade quando é o contrário, o Banco Central tem que ter a arma de poder “surpreender” o mercado, ele deve mandar no jogo guardando a carta maior, não deve jogar para o mercado. O Banco Central tem que ter um lado, o País, e não estar sempre lambendo o mercado, como faz com o inacreditável boletim FOCUS.
Quem estruturou esse BC “do mercado” foi Armínio Fraga, ligado aos fundos de New York (até hoje). Ele implantou o boletim FOCUS, que diz ao BC o que o BC deve fazer para agradar ao mercado, e os “Working Papers”, discussões de teses publicadas pelo BC do Brasil em inglês, escritas por brasileiros, um viralatismo asqueroso e subserviente. Desde Armínio, o Banco Central do Brasil vive para o “mercado” (de fora) e não para o Brasil.
BRASIL E ARGENTINA
Macri foi saudado como salvador da economia Argentina, implantou o choque neoliberal a frio, sem nenhuma inteligência ou sensibilidade política, sempre seguindo os mantras dessa escola de horrores que a Argentina já viveu nas trágicas gestões de Martinez de Hoz e Domingo Cavallo. Não deram certo e abriram caminho para a volta do peronismo com os Kircheners.
A única gestão brilhante nesse período foi a de Roberto Lavagna, uma espécie de Delfim argentino, foi o primeiro Ministro da Fazenda de Nestor Kirchner (2002-2005) , conseguiu levantar a moratória e dar impulso à economia.
Kirchner inventou um enfrentamento com Lavagna porque sentiu nele um potencial candidato a sua sucessão e o fulminou. Foi um Ministro brilhante, eficiente, com projeto de Pais. Lavagna hoje com 77 anos é candidato potencial à sucessão de Macri. Seria uma ótima solução, mas argentinos não costumam correr o risco de acertar. A eleição de Cristina é uma possibilidade, se ela voltar, com os mesmos “golden boys”, o resultado será o desastre de sempre.
Além disso Cristina é uma liderança ruim, desagregadora, dela não resulta nada de bom, tem uma visão tosca da realidade.
A ECONOMIA DO BRASIL ATÉ 2022
Será um desastre absoluto com crescimento negativo mantida a mesma política monetária. A tal “reforma da Previdência”, se e como passar, não moverá um milímetro o crescimento do País, porque a reforma em si não tem nenhuma relação com crescimento e não será por causa dela que alguma coisa vai acontecer nesse quesito. “Ah, vai restabelecer a confiança”, dirão os inacreditáveis (pela ignorância) comentaristas econômicos da mídia brasileira.
Não é isso que move crescimento, é DEMANDA! Mesmo com bagunça, inflação, crise cambial. Investidor que gera empregos é da economia produtiva e este não está nem aí para previdência, está em busca de fregueses para seus produtos, convive perfeitamente com inflação e bagunça fiscal.
A crise de emprego está em um ponto limite, que é a falta de comida para o almoço, privatização, dívida pública. Previdência não resolve a curto prazo o problema da família sem comida, não venham com equações de Chicago explicar isso para o desempregado.
NEOLIBERALISMO BEM GERIDO É UM DESASTRE POLÍTICO PORQUE AUMENTA A RENDA DO RICO E DIMINUI A DO POBRE.
NEOLIBERALISMO MAL GERIDO É VENENO NA VEIA DE PAÍSES EMERGENTES, NÃO HÁ EXEMPLO HISTÓRICO DE ACERTO, É PORTA DE CRISE CERTA.
AMA

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