segunda-feira, 13 de maio de 2019

Armando Coelho, advogado, delegado aposentado da PF e ex-representante da Interpol em São Paulo, escreve sobre " A Globo e o juizeco. Dois torpes silêncios e um só significado"


Antes falante, sorrindo até para relâmpago e luz de geladeira, o ex-juizeco tem fugido de perguntas e debates.


A Globo e o juizeco. Dois torpes silêncios e um só significado

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Melhor assim. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu dar entrevista e a TV Globo calou. Consumado o “Ele Sim”, milicianos, golpistas, fascistas e as mulas sem partido estão em festa até hoje. Talvez para testar a temperatura política, o golpe sustou a censura. A PF até tentou melar abrindo a fala para seus cúmplices midiáticos, mas não colou. Lula falou, e quem imaginava um ser acuado e deprimido, se deparou com a jararaca viva sem perder a ternura. Indignado, revelou sua obsessão por justiça aos quatros cantos do mundo.
Houve quem se queixasse do silêncio da TV Globo e suas falanges. Mas, repercutir para dizer o quê ou encher a bola de quem? Não era matéria dela. Sem contar que Lula, nas preliminares, desceu a ripa na criminosa Orcrim Contra a Humanidade, destacando seu papel no golpe, o caráter entreguista no aliciamento explícito e implícito para levar gente às ruas com o fito de derrubar Dilma Rousseff. Aliás, ela deve estar rindo de soslaio com a prisão de Michel Temer, e pensando: o judeu que ajudou os nazistas a incinerar seus irmãos estava entre os últimos a serem queimados. Mas teve o mesmo destino dos que ajudou a queimar.
A Globo calou. Ótimo. Fiquei imaginando a emissora repercutindo, editando criminosamente as falas de Lula e colocando seus sibaritas e sacripantas para comentarem, tentando reeditar o ódio propulsor do golpe de 2014 e da fraude eleitoral de 2018. A Globo com banco de horas-ódio farto contra Lula. Há, de qualquer modo, um memorável e bem calculado silêncio, ainda que sobre isso paire mistério. Os porões do Sistema Globo guardam ossadas de golpes, falcatruas e traição à Pátria em proporções inimagináveis.
Tão bom quanto o silêncio dos Marinhos, só mesmo o silêncio do ex-juizeco de Curitiba. Vive silente sobre a bandalha na qual se meteu ao entrar no picadeiro do Palhaço Bozo. Está caladinho, vendo o Bozo dar comida aos leões.
Dar comida aos leões é expressão do próprio Bozo. Segundo ele, sem lubrificar bancadas – seja com dinheiro, cargos, verbas para emendas e ou troca-troca, as coisas não andam no Congresso Nacional. Mas, o juizeco está em silêncio e deve ganhar mais um prêmio pela condenação do Lula. Bozo acabou de anunciar que vai indicar mesmo o Marreco de Maringá para a Corte Suprema. Não obstante, o capitão do mato do golpe disse para a BBC de Londres que não houve troca-troca, pois quando começou a investigar Lula, o Bozo não era candidato.
Como assim? Em que momento a corja do poder assumiu que houve golpe no Brasil? Em que momento a súcia golpista assumiu jogo sujo em investigações, delações sob coação, votos combinados, pautas maliciosamente antecipadas, julgamentos criminosamente adiados para manter a prisão política de Lula? Por que alguém assumiria troca-troca, antes, durante ou depois do golpe?
Antes falante, sorrindo até para relâmpago e luz de geladeira, o ex-juizeco tem fugido de perguntas e debates. Entre pisca-pisca de olhos, ginges, trejeitos e risadinhas sem graça ele se cala. Recentemente, foi questionado pelo deputado Paulo Teixeira, sobre legalidade e imparcialidade. Disse que não iria responder, pois o assunto do momento era segurança pública. É. Ele não viu e nem vê relação de “conge e conja” entre esses dois assuntos e segurança pública. Já silenciou sobre encontros secretos com fabricantes de armas, sobre a valorização das ações dessas empresas, sobre Queiroz…
Confesso certo regozijo ao ver o marreco não poder cassar a palavra de quem o inquire. Ele não perde a bazófia, mas já não pode constranger testemunhas, réus, interlocutores. Não pode, por exemplo, cassar a palavra do deputado Paulo Teixeira (PT), que jogou na cara dele como o mundo civilizado combate a corrupção preservando empresas e empregos. O senhor desempregou 330 mil pessoas na indústria de construção civil, disse. Quase mudo, o marreco tem ouvido perguntas sobre as ilegalidades nas gravações de conversas da ex-presidenta Dilma Rousseff, prisão de Lula, das quase 300 conduções…
Com visível desconforto, teve que ouvir de outro Paulo (Pimenta) – o que aconteceria se o Serviço de Inteligência dos Estados Unidos não soubesse que mafiosos residem no condomínio fechado do Trump? Foi uma alusão aos vizinhos do Bozo, ao mesmo tempo mostrando vínculos entre o crime organizado e o poder a qual o marreco serve.
Pimenta fez o ex-juizeco engolir seco que envolvidos no assassinato de Marielle Franco eram vizinhos do Bozo. Falou do cheque depositado na contra da esposa do Coiso, da onda de suspeita que ronda sua família, empregos fantasmas, armas ilegais apreendidas nas barbas do Comandante da Nação – hoje padrinho do ex-carrasco de Curitiba. Teve de ouvir o que milhões de almas inquietas gostariam de escancarar e desmascarar sobre a maior farsa jurídico-político e lesa-pátria de nossa história.
É pouco, mas há um lavar de almas nas recentes falas do Lula, no silêncio da Globo e nas perguntas que o marreco não responde. São silêncios com o mesmo significado, resumíveis na palavra concupiscência, que significa ganância (por poder, prestígio, dinheiro ou cobiça), exagerado apreço por bens materiais.
Falo de dois silêncios com um quê de culpa, de ímpio, de cumplicidade, de farsa, de preconceito, de retrógrado, de moralismo sem moral, de traição à Pátria (deixo ao leitor ampliar a lista). Há um quê de torpe, que quanto mais se destrincha um lado, mais o outro revela a grandeza e sabedoria do preso político Luiz Inácio Lula da Silva. Para vergonha de seus algozes, claro!
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.




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