William Burns, único alto funcionário do governo de Biden a manter algum contato com o atual presidente brasileiro, teria feito essa recomendação no ano passado, segundo a agência Reuters
GGN. - O governo de Jair Bolsonaro foi advertido pelo diretor da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) sobre o erro em atentar contra o sistema eleitoral.
A informação surgiu nesta quinta-feira (5/5), em reportagem da agência Reuters, assinada pelos jornalistas Gabriel Stargardter e Matt Spetalnick.
O alerta foi feito durante encontro que teria acontecido em uma reunião a portas fechadas ocorrida em Brasília, em julho do ano passado, quando Bolsonaro recebeu uma comitiva liderada pelo próprio William Burns – que, segundo a matéria da agência estrangeira, além de diretor da CIA é o único alto funcionário do governo de Joe Biden que mantém uma relação de maior proximidade com o atual governo brasileiro.
Fontes anônimas escutadas pelos jornalistas da Reuters, e que tiveram acesso ao conteúdo da reunião, asseguram que, em um determinado momento, a delegação estadunidense teria recomendado aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente deveria frear sua campanha para minar a confiança no sistema eleitoral brasileiro.
Na época o presidente brasileiro já promovia sua campanha para questionar a segurança das urnas eletrônicas e exigir o chamado “voto impresso”, que permitiria uma contagem paralela de votos durante a apuração.
A fonte não confirmou se o próprio diretor da CIA foi quem expressou a mensagem, mas afirma que ele era parte da conversa durante a qual ela foi entregue aos representantes do governo brasileiro – os quais seriam, segundo a matéria, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem, então diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Durante a mesma visita, segundo a matéria, também houve um jantar, no qual Burns teria conversado com Heleno e com o então ministro da Casa Civil (atual Secretário Geral da Presidência) Luiz Eduardo Ramos, para falar sobre as mesmas preocupações, a respeito do discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. A fonte afirma que os ministros tentaram tranquilizar o diretor da CIA, que teria insistido em ressaltar o perigo democrático presente na campanha de Bolsonaro.
“Burns estava deixando claro que as eleições não eram um assunto com o qual eles deveriam mexer”, assegurou a fonte anônima da Reuters, que acessou o conteúdo da reunião.
A reportagem da agência também disse que procurou fontes da CIA, que teriam se recusado a fazer comentários sobre a informação. Também enviou perguntas ao gabinete de Jair Bolsonaro, que sequer deu retorno à solicitação.
A visita de Burns a Brasília, ocorrida seis meses após o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, foi o primeiro gesto de aproximação do atual governo estadunidense, liderado por Joe Biden, com Jair Bolsonaro – que, recordemos, apoiou abertamente a reeleição do ex-presidente Donald Trump, derrotado nas urnas pelo mesmo Biden.
A matéria da Reuters lembra que Bolsonaro é “um nacionalista de extrema direita que idolatra Trump, ecoou as alegações infundadas de fraude do ex-líder dos Estados Unidos nas eleições de 2020. Ele também lançou dúvidas semelhantes sobre o sistema de votação eletrônica do Brasil, chamando-o de passível de fraude, sem fornecer provas. Isso levantou temores entre seus oponentes de que Bolsonaro esteja semeando dúvidas para seguir o exemplo de Trump, e não reconhecer uma possível derrota nas eleições em 2 de outubro”.
“Em várias ocasiões, Bolsonaro aventou a ideia de não aceitar os resultados e atacou repetidamente o tribunal eleitoral do país. Na semana passada, em seu último ataque, Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, sugeriu que os militares deveriam realizar sua própria contagem paralela de votos ao lado do tribunal”, escreveram os jornalistas estadunidenses.
A matéria também afirma que duas das fontes escutadas alertaram para uma potencial crise institucional se Bolsonaro perder por uma margem estreita.
A Reuters também lembra que Biden e Bolsonaro não realizaram nenhum encontro formal desde a posse do presidente estadunidense, em janeiro de 2021. O brasileiro, ademais, foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória do líder do Partido Democrata sobre Trump, nas eleições do ano anterior. Se espera que o primeiro contato pessoal entre Biden e Bolsonaro aconteça em junho deste ano, durante a Cúpula das Américas, que acontecerá em Los Angeles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário