sexta-feira, 24 de junho de 2022

Bolsonaro ligou para Milton Ribeiro com “pressentimento” sobre ação da Polícia Federal. Reportagem de Cíntia Alves

 

Diálogo indica que Bolsonaro pode ter antecipado a operação, preparando o ex-ministro para a chegada da PF


Diálogos travados entre Milton Ribeiro e sua filha contêm indícios de que Jair Bolsonaro procurou o ex-ministro, mais de uma vez, para possivelmente antecipar informações sobre a ação da Polícia Federal, que investiga o esquema dos pastores no MEC.

As conversas foram grampeadas pela PF no âmbito da operação Acesso Pago, que investiga o papel de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, em um esquema de facilitação de distribuição de verbas do FNDE, tendo pastores evangélicos como intermediários de prefeitos.

O grampo, feito com autorização da Justiça, mostra Ribeiro contando à filha que Bolsonaro está com um “pressentimento”: “ele acha que vão fazer uma busca e apreensão.”

OS DIÁLOGOS

Ribeiro relatou à filha que recebeu uma ligação de Bolsonaro preocupado com as investigações da PF.

“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”

Na conversa, Milton Ribeiro diz que costumava enviar mensagens com versículos da Bíblia para Bolsonaro. A filha então pergunta se a ligação do presidente era uma forma de dizer que queria parar com as conversas.

“Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, afirmou o ministro.

O diálogo foi encerrado quando a filha avisou que estava ligando do telefone “normal”. Ribeiro ainda destacou que Bolsonaro fez a ligação durante sua viagem aos Estados Unidos.

O repórter Bruno Tavares, da Globo, obteve acesso exclusivo ao diálogo captado pela Polícia Federal.

CASO VAI PARA O SUPREMO

A Justiça do Distrito Federal já enviou, a pedido do Ministério Público Federal, o inquérito do caso Milton Ribeiro para o Supremo Tribunal Federal, já que agora o escândalo envolve Bolsonaro, que tem foro privilegiado.

O MPF viu indícios de interferência no trabalho da Polícia Federal, além de possível vazamento de dados sigilosos em benefício do ex-ministro, ensejando no crime de advocacia administrativa, entre outros. O caso será analisado pela ministra Cármen Lúcia.

Na GloboNews, onde o diálogo foi noticiado, os jornalistas fizeram uma comparação entre a conversa de Ribeiro com a filha e a ligação entre Lula e Dilma Rousseff, vazada por Sergio Moro na Lava Jato. “É muito grave”, disse Gerson Camarotti na tarde desta sexta, 24.


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