Relatório aponta participação direta de militares nos atos golpistas, como já alertado pelo jornalista Luis Nassif
Do Jornal GGN:
O relatório final sobre os atos terrorista de invasão as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro, aponta à inexistência de um plano operacional de segurança por parte da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para evitar o atentado premeditado. O documento foi elaborado pelo interventor na segurança pública do DF, Ricardo Cappelli, e remonta os fatos entre os dias 6 e 9 de janeiro que teriam facilitado a invasão dos golpistas.
Conforme o jornalista Luis Nassif alertou no “Xadrez da tentativa de conter a intentona militar”, a invasão bolsonarista teve participação direta dos agentes de segurança, seja por omissão ou influência, especialmente a do ex-chefe do Departamento de Operação (DOP) da Polícia Federal do Distrito Federal, coronel Jorge Eduardo Naime Barreto.
Na ocasião, segundo o relatório, o responsável por fazer o planejamento operacional de segurança era justamente o coronel Naime, que estava de “dispensa recompensa entre os dias 03/01/2023 e 08/01/2023”, junto com outros seis subordinados, como comandantes de batalhões e dois chefes de áreas da PMDF.
Com isso, “não houve a elaboração prévia de Planejamento Operacional nem Ordem de Serviço emitido pelo Departamento Operacional da PMDF em relação aos fatos do dia 08/01/2023”, diz o documento.
O relatório mostra que havia apenas um Plano de Ações Integradas, da Secretaria de Segurança Pública, mas que não destaca as ações para batalhões de choque da polícia, “o que foge ao padrão operacional de manifestações anteriores”.
Neste cenário, não é possível saber qual o efetivo da PMDF estava na Esplanada dos Ministérios no início dos atos golpistas. Documentos internos, no entanto, apontam que haveria 555 policiais militares na área fato que “parece não estar em sintonia com as imagens captadas pelas câmeras de videomonitoramento da SSPDF”, diz outro trecho do relatório.
“A despeito das informações existentes, o quantitativo de militares dispostos no terreno foi insuficiente para conter o acesso dos manifestantes, principalmente no que tange a linha de revista localizada na via N1 na altura do Buraco do Tatuí, permitindo que manifestantes rompessem o dispositivo e entrassem com materiais proibidos na Esplanada e na linha de contenção na Avenida das Bandeiras, o que resultou na invasão do Congresso Nacional”, continua o texto.
O relatório também aponta que somente às 15h, do dia 8 de janeiro, o efetivo de prontidão do Complexo Administrativo da PMDF, que estava de sobreaviso desde o dia anterior, foi acionado para conter a invasão. “Houve, portanto, um intervalo de aproximadamente duas horas entre o início da manifestação e a tomada de providências operacionais de reforço para reprimir as ações em andamento”, afirma o documento.
Já imagens do circuito interno Supremo Tribunal Federal (STF), divulgadas na última quarta-feira (25), ainda demonstraram que a “atitude passiva e ausência de qualquer planejamento pelo DOP —Departamento de Operações da PM— expuseram o STF de maneira inaceitável”, diz o material.
Com isso, o relatório destaca que a “intervenção federal foi necessária para retomar o controle da Segurança Pública no Distrito Federal e, assim, garantir a segurança dos prédios que representam as instituições democráticas”.
Como uma das primeiras medidas anunciadas “resultaram na exoneração do comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira; do comandante do Choque, major Gustavo Cunha; do chefe de Departamento de Operações, coronel Jorge Eduardo Naime Barreto; dos subchefes do Departamento de Operações, Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra e Clovis Eduardo Condi; do comandante do 1º Comando de Policiamento Regional, Marcelo Casimiro Rodrigues. Todos diretamente ligados à operação desencadeada no dia 08 de janeiro”.
Falta de liderança
O ex-comandante da PMDF, Fábio Augusto Vieira, preso por determinação do STF, também tem destaque entre as 62 páginas do relatório de Cappelli.
Segundo o interventor, Vieira atuou durante os atos de 8 de janeiro, fazendo ligações e solicitando reforço no policiamento, mas sem sucesso, uma vez envolvido pelo Departamento de Operações.
“Embora estivesse operando pessoalmente no campo, as evidências indicam que o coronel perdeu a capacidade de liderar seus comandados diretos, uma vez que suas solicitações por reforço não foram consideradas nem atendidas prontamente”, diz o relatório.
O papel de Torres
O documento ainda mostra que, no dia 6 de janeiro, a inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF entregou um relatório sobre os riscos da manifestação para o então chefe da pasta, Anderson Torres.
“Pode-se concluir que não houve falta de informações e alertas sobre os riscos da manifestação”, diz o relatório.
Sendo assim, a junção dos fatos apresentados no novo material sustenta a versão do ex-secretário-executivo da Segurança Pública do DF, Fernando de Sousa Oliveira, apresentada à Polícia Federal, que o então chefe e bolsonarista deixou o Brasil sem lhe repassar “diretriz” de segurança.
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