segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Tarcísio de Freitas, um extremista oportunista nada patriota que repete o radicalismo de Bolsonaro

 No desfile de 7 de setembro de 2025, o governador de São PauloTarcísio de Freitas, recuperou a retórica que marcou o discurso de Jair Bolsonaro no mesmo feriado, quatro anos antes. Em meio a um público mobilizado, Tarcísio declarou: “Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. […] Ninguém aguenta mais tirania de um ministro como Moraes. Nós não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer”. O tom inflamado e a escolha da data remetem diretamente ao estilo de mobilização bolsonarista que transformou o feriado nacional em um palco político.

Do ICL Notícias:

POLÍTICA

BOLSONARISTA E NADA PATRIOTA

Governador repete radicalismo de Bolsonaro


Por Cleber Lourenço

No desfile de 7 de setembro de 2025, o governador de São PauloTarcísio de Freitas, recuperou a retórica que marcou o discurso de Jair Bolsonaro no mesmo feriado, quatro anos antes. Em meio a um público mobilizado, Tarcísio declarou: “Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. […] Ninguém aguenta mais tirania de um ministro como Moraes. Nós não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer”. O tom inflamado e a escolha da data remetem diretamente ao estilo de mobilização bolsonarista que transformou o feriado nacional em um palco político.

A fala guarda paralelos claros com a manifestação de Bolsonaro em 2021, quando o então presidente declarou em São Paulo que não cumpriria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, e chegou a chamá-lo de “canalha”. Naquele ano, Bolsonaro ainda afirmou que “só Deus” poderia tirá-lo de Brasília, em um recado explícito de enfrentamento direto ao Supremo Tribunal Federal. A semelhança não está apenas nas palavras, mas também na estratégia de transformar o embate com o Judiciário em instrumento de mobilização da base mais radical.

Outro elemento simbólico das manifestações foi o uso de bandeiras dos Estados Unidos por apoiadores de Bolsonaro e Tarcísio. A exibição desses símbolos estrangeiros no Dia da Independência do Brasil evidencia alinhamento político-ideológico com pautas externas e demonstração de desprezo pelo sentido histórico da data. Para analistas, a cena reforça o caráter paradoxal do bolsonarismo, que mistura nacionalismo retórico com referências internacionais para sustentar sua narrativa

Assim como Bolsonaro, Tarcísio escolheu o 7 de setembro para ampliar o tom de confronto institucional. Em 2021, o ato foi a antessala da tentativa de golpe que se construiria nos dois anos seguintes. Ministros reagiram em discursos públicos e a crise só foi atenuada após recuos posteriores do próprio Bolsonaro. Em 2025, as declarações de Tarcísio soam como continuidade dessa mesma estratégia, mas agora deslocadas para um governador que tem ambições nacionais e que se movimenta de maneira cada vez mais aberta no tabuleiro eleitoral rumo a 2026.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em ato em Copacabana. . (Foto: Mauro Pimentel/AFP) Bolsonarista

Tarcísio de Freitas repete discurso golpista de Bolsonaro em 2021 (Foto: Mauro Pimentel/AFP)

O discurso tem efeitos políticos claros: reforça a ligação com a base bolsonarista mais radical, mantém o STF como alvo simbólico de mobilização e posiciona Tarcísio como herdeiro da narrativa de confronto contra o Judiciário. Ao repetir quase literalmente as falas de Bolsonaro, o governador sinaliza que pretende ocupar esse espaço político no processo que antecede a eleição presidencial. Para aliados, o gesto mostra que ele está disposto a consolidar sua imagem como sucessor natural do bolsonarismo. Para críticos, é mais uma evidência de que a retórica autoritária não apenas sobrevive, mas se fortalece em figuras que aspiram à Presidência.

A comparação das duas falas não deixa claro o ataque institucional ao Judiciário. Em 2021, Bolsonaro foi apenas um pouco mais direto: “Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais”, afirmou, na ocasião.

“Ou esse ministro [Alexandre de Moraes] se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o seu povo. Mais do que isso, nós devemos, sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade”, berrou Bolsonaro, então.

A repetição do roteiro também levanta alertas sobre riscos institucionais. Em 2021, a radicalização da retórica presidencial ajudou a tensionar a relação entre os Poderes e precedeu a escalada golpista de 8 de janeiro de 2023. Agora, em 2025, a retomada desse discurso em data simbólica reacende temores de que a insubordinação aberta ao STF continue sendo utilizada como ativo eleitoral. A escolha de repetir o mesmo enredo quatro anos depois reforça a percepção de que o bolsonarismo encontrou em ataques ao Judiciário um eixo central de sua mobilização política, seja pela voz de Bolsonaro ou pela de Tarcísio.

Analistas políticos avaliam que o discurso pode produzir dividendos eleitorais entre a base mais fiel, mas também tende a gerar novos embates institucionais. O Supremo já demonstrou no passado que não recua diante de ataques, e a insistência de governadores e líderes nacionais nesse tipo de retórica amplia o risco de crises prolongadas. O cenário se agrava porque, em um ambiente de pré-campanha presidencial, cada gesto é lido como sinal de posicionamento e de estratégia. Ao repetir a cartilha de Bolsonaro, Tarcísio reforça tanto a adesão à base mais radical quanto a aposta no confronto como instrumento de ascensão política.

Assim, o 7 de setembro de 2025 acaba funcionando como uma reedição do 7 de setembro de 2021: a mesma data, os mesmos alvos, a mesma retórica de desafio ao Supremo. A diferença central está na voz: em vez do presidente em exercício, é um governador em ascensão quem assume a linha de frente do embate. O efeito, no entanto, é semelhante — reacender os conflitos institucionais e testar os limites da democracia brasileira em pleno ciclo eleitoral.

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