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sábado, 18 de fevereiro de 2017

Do 247 e Opera Mundi: Ao denunciar o Golpe (e na cara dos golpistas), o escritor Raduan Nassar, que ganhou o maior prêmio da lingua portuguesa, lavou a alma do Brasil


RADUAN LAVA ALMA DO BRASIL

Do 247.- Ao receber o Prêmio Camões nesta sexta-feira, 17, o escritor Raduan Nassar, autor de Lavoura Arcaica, reconhecido internacionalmente como um dos maiores escritores brasileiros, denunciou o conluio entre os poderes para perpetrar o golpe contra a presidente Dilma Rousseff e o avanço do autoritarismo no Brasil; Raduan disse que o STF está "coerente com seu passado à época do regime militar"; "O mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado. O golpe estava consumado! Não há como ficar calado"; leia a íntegra do discurso e assista ao vídeo
Do Opera Mundi - O escritor Raduan Nassar, autor de Lavoura Arcaica, recebeu nesta sexta-feira (17/02) o Prêmio Camões, concedida pelos governos de Brasil e Portugal e um dos principais reconhecimentos da literatura em língua portuguesa.
Após o discurso do escritor, o ministro da Cultura do governo Michel Temer, Roberto Freire, se irritou e criticou Nassar, chamando-o de "histriônico" e dizendo que "quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura".
Freire chegou a sugerir que o escritor deveria ter recusado o prêmio. Durante sua fala, o ministro foi vaiado e ouviu gritos de "Fora, Temer!" (leia mais aqui).
Leia, abaixo, a íntegra do discurso de Raduan Nassar:
"Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua. 
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr. Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado".
(Publicado originalmente em Carta Capital)

terça-feira, 7 de junho de 2016

Um prêmio internacional para o escritor brasileiro anti-golpe Raduan Nassar


Ao atribuir maior prêmio da literatura lusófona ao escritor brasileiro, júri reconhece importância de uma obra incomum e amplia isolamento internacional de governo ilegítimo.

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Camões para Raduan: refinado, recluso e antigolpe


Por Isabel Lucas e Luís Miguel Queirós, no Público (Portugal)
O Prêmio Camões 2016 foi atribuído nesta segunda-feira, por unanimidade, ao escritor Raduan Nassar, de 80 anos, o 12.º brasileiro a receber aquele que é considerado o mais importante prêmio literário destinado a autores de língua portuguesa. O júri sublinhou “a extraordinária qualidade da sua linguagem” e a “força poética da sua prosa”.
“Através da ficção, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso”, justificou o júri, acrescentando que “muitas vezes essa revelação é agreste e incômoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu”. O júri realçou ainda “o uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão”.
Com apenas três livros publicados – os romances Lavoura Arcaica(1975) e Um Copo de Cólera (1978) e o livro de contos Menina a Caminho (1994) –, a exiguidade da obra não impede que Raduan Nassar seja há muito considerado pela crítica um dos grandes nomes da literatura brasileira, ao nível de um Guimarães Rosa ou de uma Clarice Lispector.
Se a singularidade de Nassar lhe garantiu desde cedo um círculo de admiradores fiéis, e se os seus romances alcançaram algum sucesso internacional já na primeira metade dos anos 80, quando foram traduzidos para francês, espanhol e alemão, a popularidade da sua obra aumentou significativamente com a adaptação cinematográfica de Um Copo de Cólera, em 1999, numa realização de Aluizio Abranches, e deLavoura Arcaica, em 2001, num filme de Luiz Fernando Carvalho.
Já este ano, Raduar Nassar foi um dos 13 escritores escolhidos para a longlist do Man Booker International Prize, com a tradução inglesa de Um Copo de Cólera, mas não chegou à lista de seis finalistas, que incluiu o angolano José Eduardo Agualusa.
Nassar é conhecido pela extrema raridade das suas aparições públicas, o que veio conferir um peso particular à sua presença, junto de Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto em Brasília, a 31 de Março, num Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia. “Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje, sem pudor, como detentores da ética mas serão execrados amanhã”, afirmou então, citado pela Folha de S. Paulo. Embora o reconhecimento da qualidade do autor seja francamente consensual, esta sua recente intervenção vem também dar à sua escolha para o prémio Camões deste ano uma inevitável dimensão política. Com um valor pecuniário de cem mil euros, o prêmio foi anunciado ao fim da tarde de segunda-feira no Hotel Tivoli pelo secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, após a reunião do júri, que este ano incluiu a professora e ensaísta Paula Morão e o poeta e colunista Pedro Mexia, os professores universitários, críticos e escritores brasileiros Flora Süssekind e Sérgio Alcides do Amaral, e ainda o autor moçambicano Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo, e a ensaísta são-tomense Inocência Mata, atualmente radicada em Macau.
Um lado secreto
Raduan Nassar foi informado de que lhe tinha sito atribuído o prémio no valor de cem mil euros por Miguel Honrado. Ao telefone, ter-se-á mostrado “surpreendido e satisfeito”, contou o presidente do júri, Sérgio Alcides do Amaral. “Ele é muito recluso, mas uma pessoa simples. Não é recluso por arrogância. Espero que possa ter um público maior agora”, sublinhou.