quinta-feira, 21 de março de 2019

A prisão de Temer pela Lava Jato neste momento, após a briga de Maia com Moro, mostra como o estado policial manipula a justiça e o populismo para saciar interesses em torno do poder. Reportagem de Tiago Barbosa


 "A indignação coletiva é, então, apropriada pela Lava Jato para tentar exibir força justamente quando tem abusos freados pelo STF e pelo Congresso."

Do DCM:

Com prisão de Temer, Lava Jato manda recado à classe política. Por Tiago Barbosa

 

Momento em que o ex-presidente Michel Temer é abordado pela Polícia Federal — Foto: Reprodução/TV Globo
A prisão de Temer mostra como o estado policial manipula a justiça e o clamor popular para saciar interesses em torno do poder.
O ex-presidente tem esquemas criminosos há décadas, mas permaneceu intocável enquanto servia como preposto do golpe contra Dilma.
A mediocridade na presidência e o ataque à democracia inspiraram ódio à direita e à esquerda do espectro político – e a prisão dele virou objeto de desejo unânime.
A indignação coletiva é, então, apropriada pela Lava Jato para tentar exibir força justamente quando tem abusos freados pelo STF e pelo Congresso.
O encadeamento dos fatos é espantosa: Rodrigo Maia passa um pito em Moro, pai da Lava Jato, e o amigo do ex-juiz, Marcelo Bretas, manda prender Temer e Moreira Franco, “sogro” de Maia.
A Lava Jato faz teatro para a sociedade ao mandar à prisão – de forma irregular, um drible na proibição de condução coercitiva – um pária público em torno de quem ninguém derrubará uma lágrima.
E manda um recado à classe política para inibir quem se colocar contra interesses autoritários de policiais, procuradores e juízes.
É, em linhas gerais, o braço armado e investigativo do Estado desviado para fins políticos para se sobrepor à sociedade.
A captura tardia de Temer deixa, sim, um sorriso aberto pelo papel deletério desse crápula na queda de Dilma, no desmonte do país e na eleição do tosco Bolsonaro.
Mas é ilusão associá-la a senso de justiça ou seriedade da Lava Jato, há tempos a constituição formal de um poder paralelo criado para distorcer as leis, insuflar o ódio e subjugar o país pelo punitivismo enquanto entrega tudo aos americanos.
Temer, corrupto notório, e companhia calaram nos abusos contra Lula e ajudaram a criminalizar a política, sobretudo a esquerda – e agora, sofrem na pele o preço cobrado pelos tentáculos do estado policial.
No cadafalso do golpe, Dilma profetizou: não vai sobrar pedra sobre pedra entre os golpistas – o problema é que, sob essa ruína, estamos todos, eu, você e um país destroçado por uma elite avessa ao poder popular.

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