domingo, 19 de novembro de 2017

Mauro Lopes discute o que a grande mídia e os políticos que alçaram ao poder por meio de um sujo golpe quer que se pense das Redes Sociais


 "Está uma febre - há tempos - de crítica às redes sociais como um amontoado de guetos: comunicamo-nos só com quem está no nosso gueto e repudiamos os demais, é o que se diz e escreve comumente.


 "Com isso, alegam os críticos às redes, perdemos capacidade de diálogo com os "diferentes", com pessoas que pensam de outra maneira -no contexto brasileiro, traduzindo em miúdos, isso quer dizer perder contato com as pessoas que apoiaram o golpe de Estado."



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Do Facebook do jornalista Mauro Lopes em https://web.facebook.com/mauro.lopes.925602/posts/1929165867301091

Sobre Redes Sociais


  Está uma febre - há tempos - de crítica às redes sociais como um amontoado de guetos: comunicamo-nos só com quem está no nosso gueto e repudiamos os demais, é o que se diz e escreve comumente.


  Com isso, alegam os críticos às redes, perdemos capacidade de diálogo com os "diferentes", com pessoas que pensam de outra maneira -no contexto brasileiro, traduzindo em miúdos, isso quer dizer perder contato com as pessoas que apoiaram o golpe de Estado.

  Há outra crítica, alinhada com essa, segundo a qual haveria uma "militância estéril" nas redes, porque o mundo não muda com postagens. 

   Não sou um teórico sobre as redes -na verdade, nem entendo muito bem do assunto. Navego como usuário, sobretudo a partir das pesquisas e formulações de meu blog, o Caminho Pra Casa

 Gente muito porreta e competente refletiu e escreve sobre elas: Zygmunt Bauman, Umberto Eco, Manuel Castels, Fábio Malini, Fátima Conti, Silvia Portugal, coletivos como o Coalizão Direitos na Rede e o Fórum de Mídia Livre.

  Dou uma opinião intuitiva, baseada em minha vivência como jornalista. 

   É uma simplificação; mas, vá lá.

  Lembro-me de quando tinha 16, 17 anos (1976-77). Não havia internet, quando mais redes sociais. Fazíamos um jornal, o Cobra de Vidro, resultado do esforço comum de uns 30 jovens vinculados a diversas organizações de esquerda na resistência à ditadura - era um coletivo, termo desconhecido à época.

  Escrevíamos, diagramávamos, levávamos à gráfica e, com o dinheiro da venda do número anterior e mais algumas campanhas de arrecadação, íamos tocando o projeto. Chegamos a vender 15 mil exemplares. O público era estudantes de faculdades privadas na Grande São Paulo.

  Minhas reflexões rasas:

1. Quem comprava o jornal? Eram estudantes de oposição à ditadura. Os estudantes de direita/apoiadores do regime não compravam e nos hostilizavam muitas vezes ("ô, comunistas", era a ofensa mais usual). Portanto, pensar que as redes sociais nos levaram agora para um gueto - falar com quem é de oposição ao regime semi-ditatorial de hoje- parece-me um exagero e uma certa miopia temporal. 
  
   Em 1976/77 também falávamos no "gueto". Pergunto: foi um equívoco fazer o Cobra de Vidro? Creio que não. De um jeito ou outro ajudamos na luta contra a ditadura. Isso vale para outros jornais da chamada "imprensa alternativa" da época, como Movimento, Versus, Avesso, Em Tempo, Ex, Coojornal (eram centenas). 

  Eles falavam para o "gueto"? De certa maneira sim, como hoje. Creio que a reclamação quanto às redes peca por manter uma nostalgia de um tempo que nunca existiu. Nos anos 1970/80 não rodávamos milhões ou centenas de milhares de exemplares para dialogar com "o centro", "as massas", os apoiadores do regime. Como hoje. No entanto, creio que ninguém sugere que aquele esforço foi inútil. Creio que o de hoje também não o é. A propósito: hoje, mesmo um blog de expressão restrita, como o Caminho Pra Casa, feito por apenas uma pessoa e colaborações eventuais, atinge um número de pessoas muitas e muitas vez maior que aquele do Cobra de Vidro. 

  2. Aqueles coletivos que faziam os jornais não faziam "só" os jornais, apesar de alguns dos jornalistas envolvidos dedicarem-se quase em tempo integral a eles. Os jornais eram parte de uma gama de iniciativas contra o regime e da utopia de um mundo novo; além de fazer os jornais éramos ativistas do movimento estudantil, operário, sindical, de um sem número de organizações da sociedade. Hoje não é assim? Quem atua/escreve nas redes "só" faz isso?

  Não é o que vejo. Os que conheço têm ação em outras esferas da vida político-social do país. 

  Então, creio que é bom "ocupar" as redes. A alternativa seria deixá-las para a direita. Não me parece um bom caminho.

  Quanto a algoritmos, controle, censuras, não é o tema aqui - como a censura, prisões apreensões daquela época também não esteve em tela neste escrito.

 É o que tenho observado -mas pode ser uma formulação equivocada, claro.

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