domingo, 24 de maio de 2020

Bolsonaro e o seu convescote dos puxa-sacos


Apenas na fala de Teich, recebida com desprezo pela plateia de muares, falou-se do problema da coronavirus, o mais relevante desafio que o país enfrenta nas últimas décadas.


Do Jornal GGN:

A reunião ministerial do dia 22 de abril escancarou o que é o governo Bolsonaro, a pequena dimensão dos Ministros, o jogo de lisonja, as tentativas de emular as tolices do chefe, para agradá-lo, a incapacidade de montar uma pauta minimamente objetiva.
Mas para quem se dispuser a escrever um tratado sobre a lisonja, há um universo completo a ser pesquisado, com várias espécimens de puxa-sacos.N

O puxa-saco biográfico

É que compara o mestre com figuras históricas. Foi o caso do Ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, comparando Bolsonaro a Roosevelt e Churchill. Não se sabe se Bolsonaro ficou incomodado em ser comparado com aquele agente comunista infiltrado nos States. E o outro, como é o nome dele mesmo? Church, churcs, ô Tarcisio, explica melhor quem é esse.
Outra tentativa foi do chanceler Ernesto Araújo, o idiota, discorrendo sobre o destino manifesto do governo Bolsonaro, de revolucionar a diplomacia internacional com os fundamentos da religião, Deus-acima-de-tudo e Bolsonaro-acima-dos-tolos.  E houve um momento de discussões estratégicas, sobre como seria o relacionamento com aqueles chineses comunistas, de quem depende o equilíbrio da balança comercial brasileira.

O puxa-saco de emulação

Compareceram, pelo menos, três praticantes do puxa-saquismo de emulação. Consiste em um exercício de imitar tudo o que o chefe faz para agradá-lo, especialmente os movimentos inusitados. Se ele arrota em público, arrotemos. Se peida, que venha o peido.
Três candidatos se apresentaram.
O primeiro, Abraham Weintraub, o idiota, em uma catilinária contra Brasília e xingando aqueles 11 batinas pretas do Supremo. Damares, a iluminada, não deixou por menos, e propôs prisão de governadores. E o imbatível presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, aquele que fala com entonação de locutor de rádio e faz questão de emular todos os defeitos de Bolsonaro. Na lisonja, só é superado por Onyx Lorenzoni.
O chefe gosta de palavrão? Então solta um palavrão, pede desculpas, e solta outro. É o chamado peido na farinha.
O chefe gosta de taxar adversários de bostas e ladrões? Não seja por isso: o governador do Rio é um ladrão.
O chefe gosta de explosões de indignação? Então diga que irá enfrentar qualquer policial que ousar deter sua filha por boicotar o isolamento.
O chefe gosta de reação armada? Mencione então suas 15 armas e diga que as empunhará para enfrentar o covarde que ousar prender sua filha. Aconteceu algo com a filha? Não. Nada melhor do que uma hipótese para o exercício fútil da indignação vazia.
O chefe, ligado às milícias, gosta de denunciar a corrupção dos governos anteriores? Lá vai o previsível Pedro lembrar a estrondosa corrupção do governo anterior, da qual o principal agente do setor privado era Leo Pinheiro, da OAS, por coincidência seu sogro.

O puxa-saco humilde

Havia os puxa-sacos humildes, daqueles que levam broncas homéricas em público, abaixam a cabeça e dizem amem.
Foi o caso do bravo Ministro-Chefe da Casa Civil, general Braga Neto. Ele ousou chamar o programa Pró-Brasil de New Deal brasileiro – e levou uma bronca tão completa do Ministro da Economia, que se fosse em uma caserna, seria motivo para corte marcial.
Guedes, poderoso como um deus do Olimpo, lançou dardos destruidores em direção a Braga Neto. Nunca mais fale em New Deal, que será a desmoralização total do governo, disse ele. Não explicou o porquê e, daquele bando de néscios, não apareceu uma voz sequer pedindo para ele explicar afirmação tão definitiva, que deveria ter tanta lógica quanto os argumentos em defesa do terraplanismo.
Paulo Guedes, o poderoso, valia-se a todo momento da carteirada econômica, um c…regra desembestado, contando com o aval de Bolsonaro e, por isso mesmo, a submissão de um cenáculo de néscios. Arrotou absurdos econômicos sem ser questionado.
Garantiu a Bolsonaro que, mantida a abertura da economia, haveria recursos externo abundante, conforme lhe adiantou fulano de tal, do alto cargo de sei-la-o que do governo americano. E Bolsonaro, com seu melhor ar apalermado: e ele falou isso mesmo? Falou, é claro. E Bolsonaro olhou o público com aquele ar desafiador: viu só:
Guedes repetiu pela enésima vez que, se não fosse o coronavirus, o Brasil estaria explodindo com o notável crescimento de 1% ao ano.
A rigor, apenas dois Ministros mantiveram a dignidade, tão rara de encontrar como agulha em puteiro, perdão, palheiro.
Um deles, Nelson Teich, o breve. Seus olhares de espanto, a cada extravagância, ganharam uma eloquência inesperada, logo ele, que parecia desprovido de qualquer forma de emoção. E ousou dizer palavras de bom senso sobre o combate ao coronavirus, supondo estar em uma reunião séria. Foi rifado ali.
O outro Diógenes, com uma lamparina que teimava em ficar acesa, foi Rogério Marinho, Secretário Especial de Previdência e Trabalho, tentando abrir as orelhas daquele grupo indescritível, para a necessidade de aumentar os investimentos públicos. O óbvio batia naquelas cabeças de pedra e ricocheteava na lógica, partindo-a em mil pedaços.
Aí vem o bravo Ministro Tarcísio dizendo que não haveria condições de colocar tantas obras em andamento, para um governo que mal dá conta das obras atuais, com as migalhas de recursos que lhe foram destinadas pelo Ministro Guedes.
Pensando bem, tem razão. Duas tartarugas para serem vigiadas é muito para o nível de capacidade daquele grupo.
E havia, finalmente, o Ministro Sérgio Moro, sentado na mesa principal com Guedes, Braga Neto e outros. Ouviu tudo em silêncio e na ~única vez que foi provocoado disse o Ministro Guedes incluir a segurança e o combate à corrupção nos planos de governo.
Mas tem algum projeto novo no Ministério? Não, respondeu o brilhante Moro, mas é para deixar marcada a posição.
Apenas na fala de Teich, recebida com desprezo pela plateia de muares, falou-se do problema da coronavirus, o mais relevante desafio que o país enfrenta nas últimas décadas.

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