quinta-feira, 14 de maio de 2020

A história vai julgar Bolsonaro, diz Mandetta em entrevista à BBC inglesa


Ex-ministro da Saúde diz que discurso de Bolsonaro sobre coronavírus "confunde" a população e tem prejudicado o enfrentamento à pandemia no Brasil
Jornal GGN O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse em entrevista exclusiva à BBC do Reino Unido que “a história vai julgar” o presidente Jair Bolsonaro por sua postura irresponsável no enfrentamento à pandemia de coronavírus.
A fala de Mandetta foi registrada após o jornalista da BBC frisar que Bolsonaro tem um discurso contrário às recomendações sanitárias da OMS, participa e incentiva atos com aglomerações humanas, não usa máscara nem mantém distância das pessoas. Ao contrário disso, tira selfies e toca a mão de seus seguidores, e minimiza, sempre que pode, a gravidade do vírus, como se fosse uma “gripezinha”. “Eu tenho certeza que a história vai julgá-lo por tudo isso que você disse”, admitiu Mandetta.
Apesar disso, o ex-ministro comentou que é “direito” de Bolsonaro ter um discurso próprio e se preocupar com a economia. Ele também amenizou as críticas dizendo que a sociedade brasileira não tem apenas uma liderança para influenciar as decisões. Imprensa, governadores e prefeitos têm feito um papel importante orientando a população a seguir as dicas de prevenção.
“Bolsonaro decidiu priorizar a economia, o que me colocou em colisão [com o governo] enquanto ministro da Saúde. Mas é direito dele, ele está no comando, ele foi eleito. Nós teremos eleição daqui dois anos e as pessoas serão capazes de julgar” o presidente, disse Mandetta.
A BBC também destacou na entrevista que o Brasil caminha para ser o novo epicentro da pandemia de coronavírus e que o descaso de Bolsonaro o responsabiliza, de alguma forma, pelo aumento no número de mortes. Seria como ter, metaforicamente, “as mãos sujas de sangue”, colocou o repórter.
Mandetta respondeu que não colocaria as coisas nesses termos, “porque não ajudaria em nada na situação em que estamos.” Mas reconheceu que Bolsonaro terá de assumir as consequências de seus atos no futuro. “A mensagem dele é muito confusa para as pessoas”, disse.
Mandetta também disse que é absolutamente contra Bolsonaro colocar a economia acima de vidas humanas. Questionado por que não se demitiu do cargo antes, o ex-ministro respondeu: “Porque um médico nunca abandona um paciente.” Ter ficado no Ministério no começo da pandemia foi importante para ajudar “muitas pessoas a terem um juízo melhor sobre quem deveriam seguir e como deveriam se comportar. Era um período em que precisavam ver que existe uma voz diferente” da de Bolsonaro.
A reportagem da BBC considerou ainda que Bolsonaro merece um impeachment por sua gestão da crise de coronavírus. Questionou se não é motivo suficiente para deflagrar o processo. Mandetta tangenciou: “Não é hora de discutir isso. Nós temos um inimigo maior e mais forte, que é o coronavírus. Vamos falar de política depois. Agora precisamos que todos ajudem na luta” contra a doença.

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