terça-feira, 2 de agosto de 2022

Risco de ruptura democrática no Brasil acende alerta no exterior. Reportagem de Jamil Chade, correspondente internacional, no UOL

 


  • Delegação de parlamentares europeus irá viajar ao Brasil nas próximas semanas para mostrar apoio ao processo eleitoral e também visitarão Lula

Do UOL:

Premiê belga Charles Michel durante sessão do Parlamento Europeu, em Bruxelas - Francois Lenoir/Reuters
Premiê belga Charles Michel durante sessão do Parlamento Europeu, em BruxelasImagem: Francois Lenoir/Reuters

Artigo de Jamil Chade

Uma delegação de parlamentares europeus irá viajar ao Brasil nas próximas semanas, com o objetivo de mostrar solidariedade com o processo eleitoral no país. A visita ocorre poucos dias antes dos atos de 7 de setembro, convocados pelo presidente Jair Bolsonaro. Dentro do Itamaraty, a viagem é interpretada como um sinal claro de que o mundo está de olho nos acontecimentos no país e que movimentos de esquerda e forças democráticas vão se mobilizar diante da tensão no Brasil. 


Entre os dias 26 e 29 de agosto, a delegação estrangeira estará com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e se encontrará com a sociedade civil e ongs. O grupo será liderado por Iratxe Garcia Pérez, 
presidente do bloco Socialistas & Democrata dentro do Parlamento. A bancada é a segunda maior do Legislativo europeu ocupando 145 cadeiras.

Também farão parte da delegação o vice-presidente do bloco progressista para Política Externa, Pedro Marques, além do co-presidente para a Assembleia Parlamentar Euro-América Latina, Javi Lopez.

No ano passado, o grupo de parlamentares foi responsável por receber Lula no Legislativo europeu, numa das missões que deixou a diplomacia de Bolsonaro irritada com o tratamento dado ao ex-presidente brasileiro.

Ainda no ano passado, Iratxe Garcia Pérez deixou clara sua preocupação em relação à democracia no Brasil. "Transmitimos ao presidente Lula o apoio incondicional do nosso grupo para o regresso da democracia e dignidade ao povo brasileiro nas eleições do próximo ano", disse a deputada na ocasião.

"A sua luta não é apenas crucial para a democracia brasileira, mas para todas as democracias em todo o mundo que estão ameaçadas pela ascensão do autoritarismo", afirmou.

A visita não cumpre a função de monitorar a transparência ou funcionamento do processo eleitoral no Brasil. Mas acontece depois que o Palácio do Planalto recusou a ideia do Tribunal Superior Eleitoral de convidar observadores europeus para o pleito em outubro.

Conforme o UOL revelou em julho, a eleição brasileira está apresentando um elemento inédito em 2022: o envolvimento de atores internacionais, tanto no apoio à esquerda quanto ao presidente Jair Bolsonaro.

Nos últimos meses, movimentos de extrema-direita no mundo passaram a enviar delegações e alguns de seus principais nomes para dialogar com representantes do Executivo brasileiro. A preocupação é de que, em uma eventual derrota de Bolsonaro, o movimento fique enfraquecido em sua capacidade de influenciar na agenda diplomática internacional.

Já na semana passada, um grupo de representantes da sociedade civil brasileira esteve com deputados e senadores americanos, também no contexto das eleições no país. Uma vez mais, o tom dos estrangeiros foi de preocupação.

"O que ouvi (da delegação) infelizmente me soa muito familiar por causa dos esforços de (Donald) Trump e seus amigos para minar a democracia americana. Não me surpreende que Bolsonaro esteja tentando fazer o mesmo no Brasil", disse Bernie Sanders, senador democrata pelo estado de Vermont, à delegação da sociedade civil.

"Esperamos muito que o resultado das eleições [brasileiras] seja reconhecido e respeitado, e que a democracia realmente prevaleça no Brasil", completou o senador.

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