quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Para entender a farsa e estratégia da campanha de Bolsonaro contra o TSE: o caso fake das rádios e do ex-funcionário em reportagem de Patrícia Faermann

 

Com ex-funcionário e denúncia das rádios, a tática bolsonarista de acusar uma suposta parcialidade do TSE foi aprimorada


Foto: Agência Brasil e Reprodução Redes / Montagem: GGN

A campanha de Jair Bolsonaro precisava de um fato político de impacto nesta última semana para tentar alguma chance de virar o resultado das eleições. A estratégia encontrada foi a de endossar a suposta fraude eleitoral e suposta parcialidade do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a favor de Lula, protocolando denúncias e, hoje, o álibi de um ex-funcionário da Corte.

O capítulo da fraude eleitoral foi destrinchado pelo GGN na reportagem “Bolsonaro não abandonou plano de questionar eleições“. Ainda sem respostas claras se as movimentações da fiscalização das Forças Armadas sobre as urnas surtirão efeitos, o PL já preparava um relatório, ainda desde o 1º turno, elencando casos nos quais o TSE teria privilegiado a campanha de Lula e em desfavor de Bolsonaro.

A tática da suposta parcialidade do TSE foi aprimorada. Nesta semana, a campanha do presidente fez denúncias de que rádios nas regiões Norte e Nordeste teriam deixado de exibir inserções de propaganda eleitoral do candidato à reeleição. A denúncia já apresenta erros graves, conforme expomos abaixo.

Rádio que supostamente favorecia Lula é bolsonarista


O documento da campanha detalhava que algumas rádios das regiões Norte e Nordeste trazia cerca de 6 horas a mais para propagandas de Lula do que as propagandas de Bolsonaro.

Curiosamente, a campanha aponta ter usado “uma pequena amostragem de oito rádios” para mostrar a “discrepância”. A jornalista Daniela Lima, da CNN, apurou as tais rádios utilizadas e constatou diversos erros e suspeitas no documento.

A Rádio 97.1 de Recife, por exemplo, que é a primeira apontada na planilha da equipe de Bolsonaro não é a “Rádio Bispa FM”, conforme listado, mas uma transmissora de rádio pela internet: a legislação eleitoral obriga a transmissão das inserções na rádio e não na internet.

E essa rádio da frequência 97.1 FM de Recife é outra, a Rádio Mais Vida, uma rádio evangélica bolsonarista. “A rádio que diz ser falsamente acusada por Bolsonaro de cercear propaganda bolsonarista é… como mostra seu conteúdo em rede social… difusora de tese bolsonaristas”, apontou a jornalista.

As suspeitas sobre o ex-funcionário do TSE

Na continuidade de alimentar essa denúncia, um funcionário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi à Polícia Federal (PF) após ser exonerado da Corte.

No depoimento, ele entrou em contradição ao dizer que foi demitido “sem que houvesse nenhum motivo aparente” e, em seguida, que “acredita que a razão da sua exoneração seja pelo fato de que desde o ano de 2018 tenha informado reiteradamente ao TSE de que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propoganda eleitoral grauita”.

Apesar de afirmar trabalhar no “pool de emissoras” do TSE, ele ocupava até abril deste ano um cargo na Secretaria Judiciária da Corte e era responsável pela pesquisa e redação de artigos do Tribunal, sem relação qualquer com peças publicitárias ou eleições.

No dia 24 de agosto, Alexandre Gomes Machado foi nomeado para a equipe de planejamento de contratação de serviço de Inteligência Artificial. Competia a ele “realizar estudos preliminares” e de “plano de trabalho” para a contratação do serviço.

Em setembro, Machado passou a compor a Comissão de Segurança da Informação.

O setor foi responsável por, entre outras funções, a de responder e mediar informações na Comissão de Transparência das Eleições. O nome dele, inclusive, integra os anexos do relatório do TSE com o organograma da Corte enviado às Forças Armadas, em fevereiro deste ano.

Por fim, em entrevista à CNN, ele disse ter sido o responsável por receber arquivos de peças publicitárias e disponibilizá-las no sistema eletrônico do TSE. Mas a própria Corte negou que esse seja o procedimento oficial e legal.

“Não é função do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) distribuir o material a ser veiculado no horário gratuito. São as emissoras de rádio e de televisão que devem se planejar para ter acesso às mídias e divulgá-las seguindo as regras”, escreveu, em nota.

Ainda, Machado justificou que foi à PF após ser demitido porque recebeu, naquele mesmo dia, como uma coincidência, um e-mail “emitido pela emissora de rádio JM ON LINE no qual a rádio admitiu que dos dias 07 a 10 de outubro havia deixado de repassar em sua programação 100 inserções” da coligação de Jair Bolsonaro.

Não há informações de qual frequência ou de que região é a emissora citada pelo ex-funcionário do TSE. Em busca simples, a primeira rádio com este nome que aparece é uma rádio digital, ou seja, assim como o caso da rádio de Recife, que não tem obrigatoriedade de seguir a transmissão por não ter frequência. O caso, contudo, deve ser apurado e confirmado pela PF.

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