Mostrando postagens com marcador o que é fascismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador o que é fascismo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Precisamos conversar sobre o que é fascismo

 

O fascismo é oportunista e manipula, racionalmente, aquilo que há de irracional em determinadas massas sociais, aproveitando seus medos, raivas e descontentamentos como combustível


Por Saulo Barbosa Santiago dos Santos *

            O termo “fascismo” é usado de forma difusa e pejorativa com propósito reacionário e ofensivo, normalmente servindo de insulto a conservadores, desta forma, distancia-se de uma análise acurada e científica do seu significado. Malgrado a urgência de analisar cada referência é necessário a preocupação devido à bagagem amedrontadora que a palavra carrega, afinal, o que é fascismo?

            O fascismo é um sistema político ideologicamente conservador e ultranacionalista,  representado por alguém de conduta violenta e autoritária que evoca os poderes a si usando frases como “quem manda aqui sou eu” para manipular segmentos sociais que vivem em crise devido as condições que o país vive, em outras palavras, a ideia não é ter um Estado forte, mas sim um homem forte para comandá-lo, às vezes chamado de führer, duce, tata ou mito.

            O fascismo é produto do capital monopolista e imperialista, marginaliza setores sindicais e do proletariado, sempre buscando enfraquecer ou deslegitimar forças que podem limitá-la ou interferi-la, desta forma, busca modificar a ordem do capitalismo, com mobilizações e agitações de massas sociais para enfrentar as instituições do Estado.

            Raramente governos fascistas chegam ao poder ilegalmente ou por golpe militar, pelo contrário, se desenvolvem no interior da democracia liberal, no entanto, uma vez que adquire o poder necessário, a manutenção deste poder não segue o rito democrático e legal, por exemplo, tanto Mussolini quanto Hitler foram postos em seus cargos sem burlar a constitucionalidade, mas para que isso ocorresse foi necessário condições específicas de insegurança na estrutura do governo e na sociedade.

            O fascismo é oportunista e manipula, racionalmente, aquilo que há de irracional em determinadas massas sociais, aproveitando seus medos, raivas e descontentamentos como combustível para convencê-la a fazer parte de um incipiente movimento reacionário com intuito de chegar ao poder. Este convencimento se dá por estratégias que podemos separá-la, didaticamente, em 10 partes, onde segundo o filósofo Jason Stanley em seu livro “Como funciona o fascismo”, lista da seguinte forma: (1) Passado mítico, (2) propaganda, (3) anti-intelectualismo, (4) irrealidade, (5) hierarquia, (6) vitimização, (7) lei e ordem, (8) ansiedade sexual, (9) apelos à noção de pátria, (10) desarticulação da união e do bem-estar social.

            As características do fascismo estão interligadas às estratégias, segundo o filósofo Umberto Eco, em seu livro “Fascismo Eterno”, são identificáveis a partir de 14 perspectivas, quais sejam: (1) culto à tradição, (2) recuso à modernidade, (3) ação pela ação, (4) recusa à crítica, (5) racismo, (6) frustração das classes médias, (7) Nacionalismo, (8) sentimento de humilhação em relação aos inimigos, (9) guerra contínua, (10) elitismo, (11) culto ao heroísmo, (12) machismo e homofobia, (13) Homogenização do povo e (14) linguagem pobre.

            Malmente um governo fascista tem todas estas estratégias e características citadas, não obstante, há governos que seguem à risca várias delas. O fascismo nem sempre se mostra explicitamente e muito menos se assume, embora às vezes até negue ser a quimera que é, o que gera bastante confusão. Necessita-se conhecer o fascismo porque menosprezá-lo ou dizer que hoje é um mero espantalho, seria cometer o mesmo erro do início do século passado, onde achavam que era somente mais um movimento arruaceiro sem poder, que estava ali para chamar atenção. Infelizmente isso não aconteceu, o movimento cresceu, contaminou vários países e foi responsável por milhões de mortes, torturas e prisões de inocentes, de fato, precisamos conversar sobre o fascismo.

*O autor é formado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe, Guarda Municipal de Aracaju e autista.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

APOIE AGORA

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Para entender de uma vez o que é Fascismo, por Cristiano das Neves Bodart



Conceituar fascismo não é uma tarefa fácil, mas diversas características são fáceis de serem observadas quando o observador as conhece
In BODART, Cristiano das Neves. Para entender de uma vez o que é fascismo. Blog Café com Sociologia. 2018.

do Blog Café com Sociologia

Para entender de uma vez o que é Fascismo

por Cristiano das Neves Bodart
A final, o que é Fascismo?
Cristiano Bodart é doutor em Sociologia (USP) e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Apresentamos neste texto o que vem a ser “fascismo”; termo amplamente utilizado. A proposta é apresentar (esclarecer) suas características mais marcantes. Para isso, nos reportamos também à sua experiência mais conhecida: a italiana.
Características
De forma bem objetiva, o fascismo é um regime totalitário onde o Estado é absoluto e seu líder idolatrado, de mão pesada aos “costumes nefastos” e aos inimigos. Nele há uma supervalorização do nacionalismo, sendo o imigrante visto, quase sempre, como intruso e indesejável, sobretudo se sua origem for pobre. Este é acusado de roubar o lugar dos cidadãos naturais.
Há nesse regime uma ênfase ao militarismo, ao culto às armas, uma obsessão com a segurança nacional e a valorização e exaltação do heroísmo; quase sempre representado na figura de seu líder.
Diferente de regimes autoritários, onde os cidadãos devem ser apáticos, nos regimes totalitários, como no fascismo, a população é instigada a dar demonstração de amor ao país e exaltação ao líder, revelando de forma clara seu apoio; por isso é muito comum as demonstrações públicas em datas comemorativas.
É também marca do fascismo o preconceito e o racismo. Como destacou Carone (2002), “a discriminação enquanto comportamento político fascista estaria muito mais na dependência da psicologia do discriminador do que das características dos alvos da discriminação” (p.196).
Observar-se no Fascismo um desprezo aos direitos humanos e um apreço pelo uso da violência contra tudo o que é compreendido como “desordem social”. Historicamente, regimes com características fascistas manifestam desprezo por intelectuais e artistas, se opondo a qualquer tipo de educação que questione os interesses do governo e/ou Estado.
De acordo com Carone (2002), em governos de caráter fascistas, observa-se um planejamento cínico por parte dos líderes pela racionalização da violência como mecanismo de defesa.
Outras características marcantes do fascismo são o desejo de controlar e censurar a mídia e as opiniões divergentes, o totalitarismo e o uso de preceitos morais e religiosos como forma de manipulação; como no caso do Fascismo Italiano de Mussolini.
No fascismo o líder se coloca como contrarrevolucionário, defensor dos “bons costumes perdidos”, sendo oposição ao governo, acusando-o de diversos males. Trata-se de um regime reacionário caracterizado como “extrema-direita”.
Citando a experiência italiana, Rollemberg (2017, p.368) atesta que o fascismo foi marcado pela oposição “aos projetos tradicionais da esquerda, tais como as liberdades individuais, os direitos humanos, o devido processo legal e a paz internacional”.
A propaganda marcada por mentiras é uma característica do fascismo. “Um discurso calculado racionalmente para provocar efeitos irracionais são próprias da propaganda fascista em qualquer parte do mundo” CARONE, 2002, p. 2004). O objetivo desse tipo de governo é manipular as massas em prol de seus mais perversos objetivos.
História
Para tornar mais claro o conceito de Fascismo, apresentamos um breve cenário de desenvolvimento do Fascismo na Itália.
A implantação do Fascismo na Itália, em 1922, deu-se partir da oposição consciente de parlamentares ao governo, levando o país à crise política a fim de legitimar a necessidade de uma intervenção mais rigorosa, uma ditadura. O discurso do “país afundado em crise e em corrupção” foi usado para que a população aceitasse um líder antidemocrático. Dito isto, à luz da História o Fascismo surge de parlamentares que não ajudavam no desenvolvimento do país, antes marcando oposição e atuando na lógica “quanto pior melhor” para, posteriormente, se apresentarem como a solução de todos os problemas nacionais (MOURA, 2002).
Quando o fascismo chegou ao poder não havia uma doutrina definida, apenas elementos pontuais e fragmentados que o constituía. Apenas quando se consolida no poder, o fascismo se fortalece e suas ações tornam-se mais claras, perversas e regulamentadas em leis nacionais ou simplesmente por meio de atos ditatoriais. O líder fascista se apresenta como oposição ao marxismo e/ou ao liberalismo em nome de um nacionalismo exacerbado. “Ela se inscrevia, ao mesmo tempo, em uma tradição nacional, contestadora da ordem social estabelecida” (ROLLEMBERG, 2017).
À gusa de conclusão
Conceituar fascismo não é uma tarefa fácil, mas diversas características são fáceis de serem observadas quando o observador as conhece. Comumente, pessoas acabam apoiando a implantação de governos fascistas sem se dar conta. Quando percebem, é tarde. Assim nos mostra a História.
Referências
CARONE, Iray. Fascismo on the air estudos frankfurtianos sobre o agitador fascista. Lua Nova. nº55-56, 2002.
MOURA, G. de Almeida. O fascismo italiano e o Estado Novo Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Ridengo Castigat Mores. 2002.
ROLLEMBERG, Denise.Revoluções de direita na Europa do entre-guerras: o fascismo e o nazismo. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 30, no 61, p. 355-378, maio-agosto, 2017.
Como citar este texto:
BODART, Cristiano das Neves. Para entender de uma vez o que é fascismo. Blog Café com Sociologia. 2018.
Texto publicado originalmente em  9 de outubro de 2018
FONTEBlog Café com Sociologia