O fascismo é oportunista e manipula, racionalmente, aquilo que há de irracional em determinadas massas sociais, aproveitando seus medos, raivas e descontentamentos como combustível
Por Saulo Barbosa Santiago dos Santos *
O termo “fascismo” é usado de forma difusa e pejorativa com propósito reacionário e ofensivo, normalmente servindo de insulto a conservadores, desta forma, distancia-se de uma análise acurada e científica do seu significado. Malgrado a urgência de analisar cada referência é necessário a preocupação devido à bagagem amedrontadora que a palavra carrega, afinal, o que é fascismo?
O fascismo é um sistema político ideologicamente conservador e ultranacionalista, representado por alguém de conduta violenta e autoritária que evoca os poderes a si usando frases como “quem manda aqui sou eu” para manipular segmentos sociais que vivem em crise devido as condições que o país vive, em outras palavras, a ideia não é ter um Estado forte, mas sim um homem forte para comandá-lo, às vezes chamado de führer, duce, tata ou mito.
O fascismo é produto do capital monopolista e imperialista, marginaliza setores sindicais e do proletariado, sempre buscando enfraquecer ou deslegitimar forças que podem limitá-la ou interferi-la, desta forma, busca modificar a ordem do capitalismo, com mobilizações e agitações de massas sociais para enfrentar as instituições do Estado.
Raramente governos fascistas chegam ao poder ilegalmente ou por golpe militar, pelo contrário, se desenvolvem no interior da democracia liberal, no entanto, uma vez que adquire o poder necessário, a manutenção deste poder não segue o rito democrático e legal, por exemplo, tanto Mussolini quanto Hitler foram postos em seus cargos sem burlar a constitucionalidade, mas para que isso ocorresse foi necessário condições específicas de insegurança na estrutura do governo e na sociedade.
O fascismo é oportunista e manipula, racionalmente, aquilo que há de irracional em determinadas massas sociais, aproveitando seus medos, raivas e descontentamentos como combustível para convencê-la a fazer parte de um incipiente movimento reacionário com intuito de chegar ao poder. Este convencimento se dá por estratégias que podemos separá-la, didaticamente, em 10 partes, onde segundo o filósofo Jason Stanley em seu livro “Como funciona o fascismo”, lista da seguinte forma: (1) Passado mítico, (2) propaganda, (3) anti-intelectualismo, (4) irrealidade, (5) hierarquia, (6) vitimização, (7) lei e ordem, (8) ansiedade sexual, (9) apelos à noção de pátria, (10) desarticulação da união e do bem-estar social.
As características do fascismo estão interligadas às estratégias, segundo o filósofo Umberto Eco, em seu livro “Fascismo Eterno”, são identificáveis a partir de 14 perspectivas, quais sejam: (1) culto à tradição, (2) recuso à modernidade, (3) ação pela ação, (4) recusa à crítica, (5) racismo, (6) frustração das classes médias, (7) Nacionalismo, (8) sentimento de humilhação em relação aos inimigos, (9) guerra contínua, (10) elitismo, (11) culto ao heroísmo, (12) machismo e homofobia, (13) Homogenização do povo e (14) linguagem pobre.
Malmente um governo fascista tem todas estas estratégias e características citadas, não obstante, há governos que seguem à risca várias delas. O fascismo nem sempre se mostra explicitamente e muito menos se assume, embora às vezes até negue ser a quimera que é, o que gera bastante confusão. Necessita-se conhecer o fascismo porque menosprezá-lo ou dizer que hoje é um mero espantalho, seria cometer o mesmo erro do início do século passado, onde achavam que era somente mais um movimento arruaceiro sem poder, que estava ali para chamar atenção. Infelizmente isso não aconteceu, o movimento cresceu, contaminou vários países e foi responsável por milhões de mortes, torturas e prisões de inocentes, de fato, precisamos conversar sobre o fascismo.
*O autor é formado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe, Guarda Municipal de Aracaju e autista.
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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