quarta-feira, 6 de maio de 2020

As consequências óbvias e os fatos não explicados das investigações sobre Moro. Por Luis Nassif



De qualquer modo, a simples abertura do caso ajudou a deixar claro o poder maior do Supremo, como agente moderador da Presidência.
Jornal GGN:

Moro no papel de investigado

Na saída do governo, Sérgio Moro comportou-se como o juiz da Lava Jato. Espalhou acusações contra Bolsonaro, baseado em convicções. E garantiu ter provas do que dizia.
O PGR pediu autorização para o Supremo para abrir investigações sobre os crimes atribuídos ao Presidente e a denunciação caluniosa de Moro, caso as acusações sejam infundadas.
Moro se sentiu acusado, do mesmo modo que suas vítimas na Lava Jato. E passou a atuar na defesa, sustentando que não acusou Bolsonaro de crime, pois se é crime ou não cabe ao Supremo decidir.
Fez mais. De parceria com os velhos amigos da mídia, tentou emplacar uma narrativa. Todos os grandes jornais, em uníssono, colocaram como manchete principal a afirmação de Bolsonaro de que Moro tinha 27 superintendências e Bolsonaro queria apenas a do Rio.
A explicação de Bolsonaro – de que tinha interesse no Rio porque lá é sua cidade – mais confirma do que contesta as suspeitas de blindagem para amigos e filhos.

O objeto da investigação

Como essa investigação vai ser sem sigilo judicial, vai ser interessante ver colo os órgãos de investigação se comportam.
Há algo de errado nessa investigação da Procuradoria Geral da República sobre as denúncias do ex-MInistro Sérgio Moro contra Jair Bolsonaro.
Em uma situação normal, o procedimento seria o seguinte:
  1. Pegariam todo o conteúdo do celular de Sérgio Moro, recuperando inclusive as mensagens apagadas. A PF tem ferramentas que permitem essa recuperação.
  2. De posse do conteúdo total, iriam confrontar com o que Moro e Bolsonaro disseram. E preparariam um relatório final com suas conclusões.
Pelo que foi divulgado até agora, aparentemente irão se basear somente nas mensagens entregues por Moro, de conversas dos últimos 15 dias.
Com isso, deixa-se de apurar as suspeitas maiores:
  1. A de que Moro enviou um delegado ao Rio Grande do Norte, para ouvir Ronnie Lessa, principal acusado pela morte de Marielle, e preparar um relatório reservado para Bolsonaro.
  2. O fato de ter colocado a Polícia Federal para obrigar o porteiro do Condomínio de Bolsonaro a mudar sua versão original, de que o motorista que levou Lessa para cometer o assassinato pediu autorização para a casa 58, de Bolsonaro.
Comprovado essa hipótese, será a prova definitiva do controle total de Bolsonaro sobre as instituições.

O poder maior do Supremo

De qualquer modo, a simples abertura do caso ajudou a deixar claro o poder maior do Supremo, como agente moderador da Presidência.
As decisões do decano Celso de Mello, intimando os generais do Palácio a deporem espontaneamente – ou serem alvos de condução coercitiva, caso se recusem – é a prova maior da afirmação do Supremo.
Sorte deles é que o juiz não é Moro, que ordenou a condução coercitiva de Lula, mesmo não havendo recusa da parte dele em depor.

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