terça-feira, 16 de maio de 2023

PF identifica esquema para pagar as despesas de Michelle Bolsonaro e parentes. Peculato com ajuda de Mauro Cid

 

Reportagem de Camila Bezerra publicada no Jornal GGN:


Além de depósitos em dinheiro vivo na conta da ex-primeira-dama, assessores pagaram boletos de plano de saúde de irmão e tia de Michelle.

Michelle e Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Um relatório da Polícia Federal apontou um suposto desvio de recursos envolvendo a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid e assessoras.

Para dificultar a identificação de quem enviou o dinheiro e, consequentemente, despistar possíveis investigações, Mauro Cid orientava as assessoras de Michele para que todos os pagamentos de despesas e depósitos fossem feitos de forma fracionada e em dinheiro vivo.

Após a operação, as assessoras tinham de enviar os comprovantes de pagamento em aplicativos de mensagens.

Os depósitos

Entre março e maio de 2021, Mauro Cid fez seis depósitos para Michelle, com valor total de R$ 8,6 mil. No mesmo período, Maria Helena Braga, casada com um tio da ex-primeira-dama, recebeu R$ 8.520, valor dividido também em seis vezes.

Os ajudantes de ordens da Presidência da República pagaram ainda um boleto de despesa médica de Maria Helena, no valor de R$ 950,27. Yuri Daniel Ferreira Lima, irmão de Michelle, teve boletos de plano de saúde pagos pelo esquema, um deles no valor de R$ 585.

Mauro Cid, mais uma vez, entra em ação para orientar os assessores.

“Não tem como mandar esse tipo de boleto. Quando for assim, me manda só o pedido do dinheiro e vocês pagam por aí, porque isso não é gasto do presidente. Nem da dona Michelle! É, deve ser de um terceiro que ela está pagando aí, a conta desse terceiro aí!”

Mauro Cid, em transcrição feita pela Polícia Federal

Histórico

Apesar de a denúncia vir à tona agora, a suspeita de envolvimento da esposa de Jair Bolsonaro em esquemas de corrupção não é recente. Enquanto o relatório da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF informa haver indícios de desvio de dinheiro público, mas sem precisar o montante, em 2022 o ministro do STF, Alexandre de Moraes, já tinha autorizado a quebra de sigilo fiscal de pessoas próximas à Michelle para verificar possíveis irregularidades.

A apuração, aliás, começou em 2021, justamente com a quebra de sigilo de mensagens de Mauro Cid. Na época, o ex-tenente era investigado pelo vazamento de dados sigilosos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusado de tentar atacar o sistema eleitoral.

No mais recente relatório enviado ao STF, a PF ressalta que as transcrições dos áudios de Cid e demais participantes do grupo indicam desvio de dinheiro para o custeio de despesas da Presidência da República.

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modus operandi das transações é bastante comum em casos de rachadinha: realizado sempre com dinheiro vivo, de forma fragmentada, em caixas eletrônicos e com o uso de envelopes sem identificação do depositante.

“No período compreendido no ano de 2021, em Brasília, por diversas vezes, Mauro Cesar Cid, na condição de ajudante de Ordens da Presidência da República, pessoalmente ou por intermédio de servidores da Ajudância de Ordens, e outras pessoas não identificadas (supridos), desviou e/ou concorreu para desviar dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do Governo Federal, em valor total ainda a ser apurado, destinado originalmente ao atendimento de despesas da República”, informa o relatório da PF.

A Polícia Federal, no entanto, não identificou a origem dos recursos utilizados para bancar as despesas de Michelle Bolsonaro e seus parentes.

Escândalos

Esta não é a primeira vez que a esposa de Jair Bolsonaro é envolvida em supostos crimes de corrupção. Recentemente, Michelle também foi acusada de receber joias sauditas milionárias e ingressar ilegalmente com elas no Brasil, tendo em vista que os presentes destinados aos chefes de Estado pertencem ao País.

Considerado o operador das rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro, enquanto deputado estadual, Fabrízio de Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da ex-primeira-dama, escândalo revelado em março de 2022. Na época, Queiroz afirmou que os depósitos eram a devolução de um dinheiro emprestado por Jair Bolsonaro, fato que levantou suspeitas de desvio de dinheiro público feitos pela família Bolsonaro e seus assessores.

Assista também a entrevista de Rodrigo Lentz, advogado, professor de ciência política (UnB) e pesquisador do Instituto Tricontinental, sobre os depósitos de Mauro Cid à Michelle Bolsonaro no programa TVGGN 20 Horas:

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