Ex-presidente é um caso clássico de patrimonialismo: enriqueceu e fez o que quis nos cargos que ocupou, não o que podia ou a lei autorizava
247. - Um servidor público que trabalhava no Palácio do Alvorada quando Jair Bolsonaro morava no local contou ao jornal Metrópoles que uma noite, querendo uma garrafa de vinho, arrombou a adega com um chute porque a porta tinha sido trancada e ele estava sem chave.
A cena é a síntese do que foram os quatro anos dele no posto mais importante da república, a Presidência. Fosse só a porta da adega, o problema seria menor.
Mas, nesta quarta-feira, o público toma conhecimento de que o sistema de vacinação foi adulterado para que ele, a filha e os aliados mais próximos fizessem constar informação falsa de que haviam sido imunizados contra a covid-19, a fim de que pudessem entrar em outro país.
Some-se a esse fato outros que já estão comprovados, como a apropriação de jóias que pertenciam ao acervo público da União e a pressão sobre auditores da Receita Federal para subtrair outro lote de bens de alto valor, que teriam sido dados de presente pela monarquia saudita, "generosidade" ainda obscura.
Poderia-se atribuir o comportamento do ex-presidente da república à insanidade. Mas, como diz o ditado popular, "louco não rasga dinheiro". Bolsonaro é, pelo que mostra sua história à frente de cargos públicos, apenas desonesto, e a vítima são o povo, com a violação do princípio da administração republicana.
Desde que era candidato a presidente, sabe-se que o patrimônio dele e da família é incompatível com recursos de fontes lícitas.
Parte da origem da riqueza acumulada se deve a rachadinha, eufemismo de um crime grave, peculato, mas o desvio de salário de assessores (fantasmas ou não) não explica tantos imóveis e empresas, estas em nome de parentes.
Bolsonaro é um caso clássico de patrimonialismo, vê a coisa pública como se fosse propriedade dele. Faz o que quer, não o que pode e a lei autoriza.
Para o subprocurador geral Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça, o caso da fraude no sistema de vacina é muito grave.
“Com a prisão preventiva de Mauro Cid, as investigações sobre desmandos do governo de Bolsonaro assume um novo patamar. A suposta falsificação de dados vacinais para o então presidente não vacinado viajar aos Estados Unidos da América do Norte é notícia gravíssima que insere o ex-chefe do governo na seara de crimes contra a Administracao”, afirma.
“Chega-se perto de medida constritiva de liberdade contra Bolsonaro”, acrescenta. Em outras palavras, seria o caso de prisão preventiva.
Não se trata de punitivismo, mas de ação judicial para proteger a instrução criminal, dado que, tendo filhos e aliados influentes, três com grande poder (os governos de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina), Bolsonaro pode pressionar testemunhas.
Além disso, é impossível entender por que seu ajudante de ordens foi preso e ele não. "Se Mauro Cid foi preso, Bolsonaro, em tese, terá o mesmo tratamento, pois é o beneficiário", observa Aragão.
Tantos desmandos precisam de uma resposta enérgica por parte do Estado.
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