quarta-feira, 27 de março de 2019

The Guardian critica sugestão de Bolsonaro de Exército comemorar o golpe de 1964




Segundo apontou Phillips, as vítimas da ditadura do Brasil responderam com fúria quando o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro ordenou que as Forças Armadas do país comemorassem o aniversário do golpe.

Foto The Guardian
Jornal GGN O jornal inglês, The Guardian, em sua edição de hoje, evidencia a sugestão de Bolsonaro de Exército brasileiro comemorar o 55º aniversário do golpe militar de 1964, onde morte e tortura generalizada ocorreram sob um regime que durou 21 anos. A matéria é Don Phillips.
Segundo apontou Phillips, as vítimas da ditadura do Brasil responderam com fúria quando o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro ordenou que as Forças Armadas do país comemorassem o aniversário do golpe. Ex-capitão do Exército, Bolsonaro elogia com frequência o regime sob o qual centenas de pessoas foram mortas ou desapareceram à força. Mas as suas instruções aos militares, feita no último domingo, provocaram fúria generalizada.
O jornalista aponta tweet de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart foi torturado e morto sob custódia e cuja mãe, Zuzu, morreu em um acidente de trânsito engendrado por agentes militares. Diz Hilde: ‘O Brasil celebrando o aniversário do golpe de 64 é como a Alemanha instituindo o Dia de Hitler’. Jair empenha-se, mas a grita é imensa.
Ao Guardian, Hilde disse que isso a deixa extremamente triste. ‘Isso me faz querer sair do Brasil’, frisou a jornalista brasileira, que lembrou que o golpe ocorreu na madrugada de 1º de abril – conhecido como o ‘Dia da Mentira’ no Brasil, e disse que os apoiadores de Bolsonaro querem reescrever a história. ‘Eles querem vender uma mentira para as crianças do Brasil’, declarou.
Para James Green, professor de história do Brasil na Brown University nos EUA, a posição de Bolsonaro sobre a ditadura o fez ‘o equivalente a um negador do Holocausto’.
Na segunda, o porta-voz de Bolsonaro disse que o presidente havia dito ao Ministério da Defesa para realizar ‘comemorações apropriadas’ neste fim de semana, embora tenha deixado aos comandantes militares decidir como tais eventos deveriam ser encenados.
O jornal lembra que as comemorações oficiais do golpe militar desapareceram do calendário de eventos do exército durante o governo da presidente de esquerda Dilma Rousseff, ‘uma ex-guerrilheira marxista que foi presa e torturada durante a ditadura’. Seu governo lançou uma comissão da verdade que publicou um relatório exaustivo sobre os abusos da ditadura, em 2014.
Mas, diz o jornal, a ordem de Bolsonaro coincide com uma campanha crescente para apresentar o golpe como uma ‘revolução democrática’ que salvou o Brasil do comunismo – em vez do início de um regime de extrema direita que suspendeu as eleições, censurou a mídia, executou centenas de opositores e torturou outros milhares.
‘O presidente não considera um golpe militar em 31 de março de 1964’, disse o porta-voz, general Otávio Rêgo Barros. ‘Ele acredita que, considerando o perigo que o Brasil estava na sociedade, reuniu civis e militares para colocar o país de volta aos trilhos’.
O jornalista evidencia que a decisão foi aplaudida por partidários de Bolsonaro. ‘A verdadeira narrativa de nossa história está de volta’, tuitou Joice Hasselmann, congressista do partido PSL de Bolsonaro.
Conforme a briga se aprofundava, na terça-feira, o a Procuradoria-Geral da República fez uma forte crítica ao movimento de Bolsonaro. “Se a inconstitucional, violenta e antidemocrática derrota de um governo não bastasse, o golpe de 1964 deu origem a um regime que restringiu os direitos fundamentais e reprimiu de forma violenta e sistemática a dissidência política”, afirmou.
O texto lembra que Bolsonaro ganhou notoriedade por seu apoio ao regime militar. Enquanto ainda era deputado ele disse: ‘O erro da ditadura foi torturar e não matar mais’.
Na contramão do que ocorre em outros países, como Argentina e Chile, que também enfrentaram o regime militar, o Brasil nunca processou funcionários da ditadura, por causa de uma lei de anistia introduzida antes do retorno à democracia, diz Phillips.
Os brasileiros de direita argumentam que o golpe foi necessário para salvar o país do comunismo, pois que a América Latina era um campo de batalha da Guerra Fria.
Phillips destaca o trailer de um novo documentário sobre o golpe produzido pelo site de extrema direita Brasil Paralelo, que foi assistido quase 800 mil vezes. O filme, e um livro relacionado, minimizam a repressão do regime e argumentam que, na época, o Brasil estava sob ameaça de uma tomada de poder pela esquerda.
Green, da Brown Univesity, cuja universidade conta com um arquivo on-line de 29 mil documentos sobre o regime militar, incluindo o apoio dos EUA a ele, eliminou essas alegações. “Os militares usaram a retórica da guerra fria do anticomunismo como uma desculpa”, disse ele. “Eles eliminaram a democracia por 21 anos.”
Já o Clube Militar do Rio de Janeiro, declarou ao jornalista que marcará o aniversário deste fim de semana com o habitual almoço comemorativo. “Nós sempre marcamos a revolução em 31 de março”, disse o ex-presidente, general aposentado Gilberto Pimentel. “Não há nada novo.”

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