quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Uma agenda para os próximos passos (na luta contra o neo-fascismo), por Ion de Andrade


  "Esse híbrido entre Estado fascista e Estado de direito está sustentado pelo manejo das redes sociais que são a principal engrenagem a formar a vontade coletiva que os sustenta. Ao lado delas, um moralismo repressivo e homogeneizador, veiculado por algumas instituições religiosas, mas não só, dá forma a uma “infantaria” que veicula no “corpo a corpo” a face “moralizadora” do regime no mundo real. No topo do comando do Estado, esse moralismo (destinado ao povo) cede espaço para uma intelectualidade mais sofisticada e laica formada em escolas americanas, conservadora na gestão da administração pública e neoliberal na da economia e finanças."





Em show, Roger Waters lista Bolsonaro como neo-fascista, junto a outros presidentes atuais - Foto: Reprodução
Por Ion de Andrade
Uma agenda para os próximos passos
Os resultados das eleições no Brasil e as tendências que parecem despontar no horizonte em diversos países apontam para um cenário novo onde valores alinhados ao nazi-fascismo se fundem a um ordenamento que (para manter a legitimidade) parece querer dar continuidade aos aspectos formais do Estado de direito.
O que está em andamento sinaliza para uma busca de equilíbrio entre a normalidade institucional e o autoritarismo capaz de dar legitimidade e longevidade à experiência autoritária. Nisso esse fenômeno parece novo e essa “novidade” pode estar tornando “velha” toda a política anterior baseada nos equilíbrios que até então sustentaram a democracia como a concebíamos.
Esse híbrido entre Estado fascista e Estado de direito está sustentado pelo manejo das redes sociais que são a principal engrenagem a formar a vontade coletiva que os sustenta. Ao lado delas, um moralismo repressivo e homogeneizador, veiculado por algumas instituições religiosas, mas não só, dá forma a uma “infantaria” que veicula no “corpo a corpo” a face “moralizadora” do regime no mundo real. No topo do comando do Estado, esse moralismo (destinado ao povo) cede espaço para uma intelectualidade mais sofisticada e laica formada em escolas americanas, conservadora na gestão da administração pública e neoliberal na da economia e finanças.
Esse Regime novo, que surge das entranhas da experiência (tardia entre nós) de uma “democracia” similar a tantas outras do pós-guerra, sustentada por uma esquerda e uma direita teoricamente concordantes sobre uma ordem constitucional que pactuaram previamente, precisa ser estudado ao detalhe. É condição para que os valores do pluralismo, da democracia e da inclusão social possam recuperar algum tipo de protagonismo na política.
Toda essa necessária reflexão e acúmulo deverá ter papel nos próximos passos a serem trilhados na sociedade e já deveria influenciar as eleições municipais de 2020 quando, sejam quais forem as circunstâncias, forças políticas antagônicas se enfrentarão em torno de projetos de sociedade. Aliás, qual é mesmo o projeto de sociedade das forças progressistas para o âmbito dos municípios e cidades?
Não adiantará o discurso repetitivo e reativo motivado pelas iniciativas do campo vitorioso, o "Soy Contra" de hoje.
Esse exercício de aprendizado, já complexo por si mesmo, tem um adversário de peso: não há nada a aprender se já se sabe de tudo.
A ausência da autocrítica, que é, metodologicamente falando, parte integrante da reflexão que se impõe, convertida que foi em pecado, poderá prolongar o tempo de aprendizado do campo progressista, inibindo a sistematização de uma agenda proativa capaz de influenciar os rumos da política e permitir acúmulos.
A ausência dessa agenda, além disso, contribuirá também para um baixo tônus na ocupação dos espaços democráticos pelas forças progressistas, facilitando a marcha autoritária.

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