quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O samba do Brasil que odeia, por Carlos Motta



Nestes tempos mais que sombrios vividos pelo Brasil, eis que surge uma composição que reflete de modo perfeito o que muitos, mas muitos mesmos, estão sentindo agora



De quando em quando surgem músicas emblemáticas, que marcam uma geração, um período da história – e que ficam para sempre na memória popular.
É o caso, por exemplo, de “O Bêbado e a Equilibrista”, da dupla João Bosco/Aldir Blanc.
Ou de “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso.
Nestes tempos mais que sombrios vividos pelo Brasil, eis que surge uma composição que reflete de modo perfeito o que muitos, mas muitos mesmos, estão sentindo agora. “Sonho Estranho”, de Moacyr Luz e Chico Alves, não é só um samba belíssimo – é aquilo que a gente tem preso na garganta, que oprime o nosso peito, que amordaça a nossa voz.
É uma obra-prima.

Sonhei que despertei
Noutro país
Onde as pessoas tinham balas de fuzis
E o povo andava sem razão de ser feliz

Confesso que senti
Muita saudade do lugar onde aprendi
A caminhar com as pernas tortas de Mané
E respeitar que cada um tem sua fé
A me encantar com a negra voz de Mãe Quelé
E pelas doces mãos de Cosme e Damião
Levar Jesus ao Candomblé

Nesse sonho ruim que eu me via

Nem a poesia falava por nós
Tantos versos sem ter poesia
Canção não havia
Ninguém tinha voz
E pisando meus pés no espinho
Cantava baixinho Nelson Cavaquinho
O Sol vai brilhar outra vez
Tirando a dor do caminho
Agora eu já não sei
Se foi quimera ou foi real
O que sonhei
Se ainda estou noutro lugar ou se voltei
Á velha pátria, mãe gentil
Onde eu nasci
Ou se ela, enfim, se transformou no que tá aí
Ando com medo de acordar nesse Brasil
Do sonho estranho que vivi

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