quinta-feira, 17 de março de 2022

De que lado você está nessa guerra?, por Vitor Fernandes

 

Despolitizam completamente o conflito. Não falam da expansão da OTAN no pós-URSS, não falam do cercamento militar à Rússia, omitem propositalmente os batalhões neonazistas no exercito ucraniano e as várias lideranças neonazistas no governo ucraniano, que possuem até tanques de guerra e estão recebendo mais armas ainda do Ocidente “livre”.

Jornal GGN:

Reprodução google

De que lado você está nessa guerra?

por Vitor Fernandes, Cientista Social, Mestre em políticas públicas 

A informação é uma arma de guerra. Sempre foi utilizada como instrumento de poder.

Um autor desconhecido disse uma frase que têm sido muito utilizada recentemente: “Na guerra, a primeira vítima é a verdade.”

A criação de uma narrativa forte, convincente, é fundamental ao convencimento da opinião pública nacional e internacional, que é um fator decisivo em uma guerra no mundo atual.

Na guerra do Afeganistão, em 2001, foi criada a narrativa que os talibãs abrigavam Osama Bin Laden, que seria líder da Al Qaeda, que teria sido responsável pelo ataque às torres gêmeas nos EUA. O Afeganistão foi invadido e destruído pelos EUA. Como ficou o Afeganistão depois de 20 anos de ocupação do EUA? Melhorou? Foi reconstruído? Os EUA mentiram!

Em 2003, foi criada a narrativa que Sadam Hussein teria armas de destruição em massa e que era preciso tirá-lo do poder. Então os EUA invadiram o Iraque, destruíram o país e Sadam foi morto. Aliás, onde mesmo estavam as armas de destruição em massa que os EUA e a OTAN falavam? Os EUA mentiram!

Na Líbia, se dizia que Kaddafi, abrigava terroristas e patrocinava o terrorismo internacional. Os EUA patrocinaram mercenários para invadir a Líbia (o que foi falado abertamente no debate presidencial dos EUA de 2012). A Líbia foi destruída e Kaddafi morto com o apoio da CIA. Como a Líbia, que era o país com mais alto IDH da África está hoje? Está melhor? Tem democracia? Os EUA mentiram! Os exemplos são muitos. Mas vou usar apenas esses três.

Sempre se cria uma comoção, cheia de racismo, orientalismo, etnocentrismo, dizendo que esses líderes são maus, ditadores, psicopatas, sanguinários e que o Ocidente, civilizado, democrático e livre irá salvar esses povos da tirania e levá-los à civilização e à democracia. O Ocidente, assim como o mundo, como sabemos, tem líder, são os EUA, que encarnariam esses valores.

A mídia ocidental sempre faz a preparação do público para a invasão militar, sendo um braço inseparável da operação militar. Lembra das reportagens falando da crueldade dos Talibãs, do Sadam, assim como de Kaddafi e tantos outros? Isso cria a justificativa para a guerra.

Agora, essa mesma mídia ocidental, que sempre apoiou as invasões da OTAN (ocidente) apresenta dezenas de reportagens com teor sentimental mostrando como Putin é mau, tirano, assassino e como o Zelenszy é um herói nacional e mundial na luta pela liberdade.

As reportagens são sempre maniqueístas, da luta do bem contra o mal, beirando a infantilidade muitas vezes, e criam um clima de comoção geral, onde só há uma conclusão possível: o que o Putin faz é muita crueldade. Ele é mau! Ele precisa ser detido! Todas as punições aos russos, não apenas ao seu governo são justificadas e toda a russofobia está justificada, já que eles são agressores e maus.

Nesse clima de comoção, nenhuma ponderação é permitida. Nenhuma informação contrária à OTAN é permitida. Qualquer questionamento à lógica do Ocidente, liderado pelos EUA e reproduzido num clima de “copia e cola” pela grande mídia nacional e grande parte até da mídia de esquerda nacional é visto como “justificativa de guerras”, “defesa do Putin”, etc.

Qualquer um que fizer qualquer ponderação do tipo: “e a traição da OTAN/EUA, com a expansão da OTAN até a fronteira russa, quebrando o acordo com os russos nos anos 1990?” ou “e o batalhão de AZOV, que é sabidamente nazista e faz parte do Estado Ucraniano?” será acusada de ser “justificativa pra guerra”, “defesa de Putin”, etc., ou seja, quem faz qualquer questionamento ao discurso da OTAN é colocado como uma pessoa má, sem coração, sem pena dos Ucranianos mortos, etc.

Sem contar na evidente seletividade da comoção, onde uma guerra na Europa provoca muitíssimo mais comoção que o massacre dos palestinos pelos israelenses, a guerra civil na Síria ou a do Iêmen, onde morreram muitíssimo mais pessoas.

Isso nos demonstra a eficácia da propaganda do Ocidente através de sua mídia “livre”, que faz um discurso praticamente único e maniqueísta contra a Rússia.

Despolitizam completamente o conflito. Não falam da expansão da OTAN no pós-URSS, não falam do cercamento militar à Rússia, omitem propositalmente os batalhões neonazistas no exercito ucraniano e as várias lideranças neonazistas no governo ucraniano, que possuem até tanques de guerra e estão recebendo mais armas ainda do Ocidente “livre”.

Qualquer um que traga esses argumentos será atacado como “defensor do Putin”, ou que “reproduz argumentos do Putin”, encerrando o debate e colocando o oponente como mau e o reprodutor do discurso da OTAN como bom, piedoso e pacífico.

Te pergunto: de onde vem as informações sobre a guerra que você recebe? Toda informação é necessariamente parcial, inclusive as que trago nesse artigo. Você assiste a alguma TV russa ou chinesa? Lê algum jornal que não seja ocidental? Se você for honesto, perceberá que praticamente todas as mídias à que a imensa maioria das pessoas têm acesso é pró-EUA.

E as informações que temos acesso influencia ou até determina as visões que teremos dos fatos. Te convido a diversificar sua fonte de informação e passar a ter uma visão mais plural, com fontes de informação não apenas de um dos lados do conflito, mas de mais lados possíveis, para que sua visão do conflito e da geopolítica, não seja tão enviesada, tão maniqueísta.

Vitor Fernandes – Cientista Social, Mestre em políticas públicas (UERJ)

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