Levantamento do GGN mostra o contexto reveladores em que Bolsonaro estava metido em todas as vezes em que procurou hospitais
Refluxo, crise de soluço, dores abdominais, obstrução intestinal. Comer demais ou comer errado têm rendido a Jair Bolsonaro (PL) internações em hospitais nos últimos anos. Parte da imprensa tem afirmado que os episódios são “desdobramento” da facada que ele levou na eleição de 2018, já que o líder da extrema-direita, que já realizou seis cirurgias desde então, terá de lidar com os efeitos colaterais do atentado pelo resto da vida. Mas é curioso como Bolsonaro manipula questões de saúde em benefício próprio sempre que está envolvido em polêmicas, com a popularidade no chão ou cercado por escândalos de corrupção de seu governo.
Nesta terça-feira, 29 de março de 2022, Bolsonaro deixou o hospital militar onde fez exames alegando dores abdominais. Coincidentemente, o mal estar surgiu no mesmo dia da exoneração do ministro da Educação e da troca de comando na Petrobras. Milton Ribeiro abriu as portas do MEC para a influência obscura de pastores evangélicos que vinham negociando a distribuição de verbas federais para prefeituras, com indícios de que cobraram vantagens indevidas como contrapartida. Já a intervenção na Petrobras seria uma tentativa de Bolsonaro de contornar os impopulares reajustes nos preços dos combustíveis.
É a segunda vez, só em 2022, que Bolsonaro, candidato à reeleição, é internado com “dores abdominais”. A última farra com comida, autoprovocando as complicações, havia ocorrido em janeiro, enquanto o presidente curtia as férias de fim de ano na praia. Bolsonaro comeu um camarão inteiro, sem mastigar adequadamente, e foi parar no hospital. A internação ocorreu depois que a imprensa passou a questionar a conduta do presidente, que andava de jet-ski enquanto o povo da Bahia enfrentava uma tragédia humanitária provocada por fortes chuvas.
O GGN fez um levantamento relembrando o contexto em que Bolsonaro estava metido em todas as vezes em que procurou hospitais em busca de cirurgias e outros tratamentos médicos. Os dados mostram que nem todos os atendimentos estavam ligados à facada de 2018, mas em praticamente todas as internações, Bolsonaro estava metido em alguma polêmica ou escândalo de corrupção:
2019: RACHADINHAS DO CLÃ BOLSONARO
A primeira internação de Bolsonaro na condição de presidente da República ocorreu no final de janeiro de 2019, quando ele passou por uma cirurgia para retirar a bolsa de colostomia. Ele ficou internado até metade de fevereiro. A internação ocorreu após a imprensa metralhar o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, mostrando os indícios de enriquecimento ilícito às custas do esquema conhecido por “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Bolsonaro ficou tantos dias internado que deu tempo de estourar outro escândalo, envolvendo as candidaturas eleitorais laranjas do PSL.
Em 7 de setembro de 2019, Bolsonaro voltou à mesa de cirurgia pela segunda vez dentro do mandato – mas já era a quarta cirurgia após a facada àquela altura, pois duas delas ocorreram ainda em 2018.
Naquele mês, a rejeição capturada pelas pesquisas de opinião crescia, enquanto o governo anunciava corte em programa sociais, dava sinais de intervenção da Polícia Federal para proteger aliados políticos e o clã Bolsonaro. No plano internacional, o desgaste à imagem do Brasil por causa das queimadas na Amazônia ganharam dimensão na ONU.
Em dezembro de 2019, Bolsonaro foi levado para o HFA, em Brasília, após sofrer uma queda no banheiro. Ele passou a noite na instituição de saúde. Na mesma semana, Bolsonaro havia concedido indulto para policiais condenados por crimes sem “intenção deliberada”.
2020: A “MAMATA” NÃO ACABOU
No final de janeiro de 2020, Bolsonaro deu entrada no hospital para uma cirurgia eletiva: ele decidiu realizar sua segunda vasectomia – a quinta cirurgia desde a facada de 2018.
A internação ocorreu justamente após seu irmão ser acusado de negociar verbas federais para prefeituras e também depois da exoneração do ministro da Cultura, Roberto Alvim, que divulgou um vídeo institucional com estética nazista. Além disso, o então chefe da Secretaria de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, também esteve na berlinda por ser sócio de empresas que recebiam dinheiro federal.
Em 25 de setembro de 2020, Bolsonaro submeteu-se a sua sexta cirurgia, agora para retirada de um cálculo renal. Aquele talvez tenha sido um dos meses mais “tranquilos” para Bolsonaro. Com rejeição em queda por causa do Renda Cidadã, o presidente não foi associado pela Folha de S. Paulo a nenhum escândalo de corrupção naquele mês.
2021: O ANO DA CORRUPÇÃO NA COMPRA DE VACINAS
Em setembro de 2021, Bolsonaro atravessou um de seus piores meses à frente da Presidência. Pesquisas de opinião mostraram que ele batia recordes de rejeição. A CPI da Pandemia no Senado revelou improbidade e negociatas na compra das vacinas contra Covid-19 pelo Ministério da Saúde. 70% dos brasileiros disseram ao Datafolha que o governo era corrupto.
Folha manchetou que, “pela primeira vez”, a maioria queria o impeachment de Bolsonaro. O general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, e o líder do governo Ricardo Barros foram citados nas investigações do Senado envolvendo intermediárias para compra dos imunizantes. Bolsonaro, então, alegou uma “crise de soluço” e nova obstrução intestinal para ficar no hospital. Dessa vez, não teve cirurgia, mas “tratamento menos agressivo”.
Em dezembro de 2021, Bolsonaro foi ao posto de saúde pelo menos umas três vezes, sem informar as razões.
Em 2018, o então candidato não participou de debates eleitorais alegando não estar em condições adequadas após a facada. Em contraste com a fuga estão as várias entrevistas, lives em redes sociais, fotos e vídeos que Bolsonaro distribuiu aos seus seguidores mesmo debilitado.
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