sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Nosso lugar no conjunto dos Seres



Texto de Leonardo Boff


  A ética da sociedade dominante no mundo é utilitarista e antropocêntrica. Quer dizer: falsamente considera que o conjunto dos seres da natureza somente possui razão de existir na medida em que serve ao ser humano e que pode dispor deles a seu bel-prazer.
  Continua acreditando que o ser humano, homem e mulher é o centro do universo e rei e rainha da criação.
  Mal sabe que, nós humanos, fomos um dos últimos seres a entrar no teatro da criação. Quando 99,98% de tudo já estava pronto, surgimos nós. O universo, a Terra e os ecossistemas não precisaram de nós para se organizarem e ordenarem sua majestática elegância e beleza.
  Cada ser possui valor intrínseco, independente do uso que fazemos dele. Ele representa uma emergência daquela Energia de fundo, como falam os cosmólogos, ou daquele Abismo gerador de todos os seres. Tem algo a revelar que só ele o pode fazer. E nós a escutar e a celebrar o que nos disser.
  Nós entramos no processo da evolução quando esta alcançou um patamar altíssimo de complexidade. Então irrompeu a vida e como subcapítulo da vida, a vida humana, consciente e livre. Por nós o universo chegou à consciência de si mesmo. E isso ocorreu numa minúscula parte do universo que é a Terra. Por isso nós somos aquela porção da Terra que sente, ama, pensa, cuida e venera. Somos Terra que anda, como diz o poeta e cantador indígena argentino Atauhalpa Yupanqui.
  A nossa missão específica, nosso lugar no conjunto dos seres, é o de sermos aqueles que podem ver a grandeur do universo, escutar as mensagens que cada ser enuncia e celebrar a diversidade dos seres e da vida.
  E porque somos portadores de sensibilidade e de inteligência temos uma missão ética: de cuidar da criação e sermos os guardiães dela para que continue com vitalidade e integridade e com as condições de ainda evoluir já que está evoluindo há 4,4 bilhões de anos.
  Cumpre, portanto, reconhecer e respeitar a história de cada ser da criação, vivo ou inerte. Existiram antes de nós e por milhões e milhões de anos sem nós. Por esta razão devem ser respeitados como respeitamos as pessoas mais idosas e as tratamos com respeito e amor. Eles também tem direito ao presente e ao futuro junto conosco.
  Leonardo Boff
  28/12/2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Leonardo Boff sobre O Natal


Natal: um mito cristão verdadeiro


Texto de Leonardo Boff

24/12/2012

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/24/natal-um-mito-cristao-verdadeiro/



  Há poucas semanas, com pompa e circunstância, o atual Papa mostrou-se novamente teólogo ao lançar um livro: “A Infância de Jesus”. Apresentou a versão clássica e tradicional que vê naqueles relatos idílicos uma narrativa histórica. O livro deixou os teólogos perplexos, pois a exegese bíblica sobre estes textos,  há já pelos menos 50 anos, mostrou que não se trata propriamente de um relato histórico, mas de alta e refinada teologia, uma maneira de destacar algo da figura especial de Jesus, elaborada pelos evangelistas Mateus e Lucas (Marcos e João nada falam da infância de Jesus) para provar que Jesus era de fato o Messias, o filho de Davi e o Filho de Deus.
Para esse fim, recorrem a gêneros literários para apresentar uma mensagem, transmitida como se fossem histórias mas que de fato não passam de recursos literários, como, por exemplo, os magos do Oriente (representando os pagãos e os sábios), os pastores (os mais pobres e considerados pecadores por estarem às voltas com animais que os tornavam impuros), a Estrela e o anjos (mostrando o caráter divino de Jesus), Belém que não seria uma referência geográfica mas teria um significado teológico: o lugar onde, segundo as profecias, nasceria o Messias, diferente de Nazaré, totalmente desconhecida, onde Jesus provavelmente teria nascido de fato. E assim outros tópicos como detalhadamente analisei em meu Jesus Cristo Libertador (capitulo VIII).Mas tudo isso não é muito importante porque exige conhecimentos muito especializados.
Importante mesmo é compreender que face aos relatos tão comovedores do Natal estamos diante de um grandioso mito, entendido positivamente como os antropólogos o fazem: o mito como a transmissão de uma verdade tão profunda que somente a linguagem mítica, figurada e simbólica é adequada para expressá-la. É exatamente o que o mito pretende. O mito é verdadeiro quando o sentido que quer transmitir é verdadeiro e ilumina toda a comunidade. Assim o Natal é um mito cristão cheio de verdade, da proximidade de Deus e da familiaridade.
Nós hoje usamos outros mitos para mostrar a relevância de Jesus. Para mim é de grande significação um mito antigo, que a Igreja aproveitou na liturgia do Natal para revelar a comoção cósmica face ao nascimento de Cristo. Ai se diz:
”Quando a noite estava no meio de seu curso e fazia-se profundo silêncio: então as folhas que farfalhavam pararam como mortas; então o vento que sussurrava, ficou parado no ar; então o galo que cantava parou no meio de seu canto; então as águas do riacho que corriam, se paralisaram; então as ovelhas que pastavam, ficaram imóveis; então o pastor que erguia o cajado para golpeá-las, ficou petrificado; então nesse momento tudo parou, tudo silenciou, tudo se suspendeu porque nasceu Jesus, o salvador da humanidade e do universo”.
O Natal nos quer comunicar que Deus não é aquela figura severa e de olhos penetrantes para perscrutar nossas vidas. Não. Ele surge como uma criança. Ela não julga; só quer receber carinho e brincar.
Eis que do presépio veio uma voz que me sussurrou: ”Oh, criatura humana, por que tens medo de Deus? Ele não se fez criança? Não vês que sua mãe enfaixou seus bracinhos e seu corpinho frágil? Não percebes que ela não ameaça ninguém? Nem condena ninguém? Não escutas o seu chorinho doce? Mais que ajudar, essa criança precisa ser ajudado e coberta de carinho porque sozinha não pode fazer nada; não sabes que ela é o Deus-conosco-como nós?”
E ai já não pensamos mais mas damos lugar ao coração que sente, se compadece e ama. Poderíamos fazer outra coisa diante desta Criança, sabendo que é o Deus humanado?
Talvez poucos escreveram tão bem sobre o Natal, sobre Jesus Criança, que o poeta português Fernando Pessoa: ”Ele é a eterna criança, o Deus que faltava. Ele é o divino que sorri e que brinca. É a criança tão humana que é divina”.
Mais tarde transformaram o Menino Jesus no São Nicolau, no Santa Claus e, por fim, no Papai Noel. Pouco importam os nomes, porque no fundo, o espírito de bondade, de proximidade e de Presente divino está, de alguma forma, lá.
Acertado foi o editorialista Francis Church do jornal The New York Sun de 1897 respondendo a uma menina de 8 anos, Virgínia, que lhe escreveu: “Prezado Editor: me diga de verdade, o Papai Noel existe?” E ele sabiamente respondeu:
“Sim, Virgínia, Papai Noel existe. Isto é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção. E você sabe que tudo isto existe de verdade, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Como seria triste o mundo se não houvesse o Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virgínias como você. Não haveria fé das crianças, nem a poesia e a fantasia que tornam nossa existência leve e bonita. Mas para isso temos que aprender a ver com os olhos do coração e do amor. Então percebemos que não há nenhum sinal de que o Papai Noel não exista. Se existe o Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá sempre que houver crianças grandes e pequenas que aprenderam a ver com os olhos do coração”
Nesta festa, tentemos a olhar com os olhos do coração, pois todos fomos educados a olhar com os olhos da razão. Por isso somos frios. Hoje vamos resgatar os direitos do coração que é caloroso: deixar-nos comover com nossas crianças, permitir que sonhem e nos encher de estremecimento diante da Divina Criança que sentiu prazer e alegria ao decidir ser um de nós pela encarnação.
PS. Desejo aos leitores e leitoras de meu blog um Natal de esperança pois precisamos dela no meio de um mundo em voo cego rumo a um futuro incerto. Mas uma Estrela como a de Belém nos mostrará um caminho salvador. E chamaram Jesus de Emanuel, o Deus que caminha conosco, entro e ao nosso lado.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Individuação




Individuação

Dentro do escondido âmago
imerso nas sombras do Eu
perco-me, em meu frágil ego, a procurar
juntar, em um só todo, todos os pedaços meus

A estranha teimosia de buscar manter-me
acaba por transformar-se, aquietar
e de pueris arrogâncias, selvagens defeitos, expurgo ao torcer-me,
abrindo a mente ao novo  que virá

E assim, tento, sou levado, sigo
de vida em vida caminhando ou parando
Dando forma ao ser único que  sou
Continuando a trabalhar o instrumento
aprendendo ainda a tirar novos sons, menos tormentos
Sigo  aspirando, sonhando,
até chegar o momento em que possa perceber-me
indescritível harmonia de contrários.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Linguagem e Significado dos Mitos




A linguagem e função das Imagens, Símbolos e Mitos

Texto de 

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

   Da mesma forma como sonhamos individualmente e estes sonhos possuem elementos de nossa psicologia que apontam para etapas de nosso desenvolvimento pessoal, os mitos nascem do meio da coletividade e apontam para o estágio de desenvolvimento de uma sociedade.

  Freud e Jung demonstraram que a linguagem mais fundamental e própria de nosso psiquismo é fundamentalmente simbólica, imagética (o que não inclui somente imagens, mas representações conceituais e/ou sonoras atreladas a um sentimento ou ideia). Muitas vezes, a sabedoria intuitiva se expressa por imagens ou representações que incluem o que nos é conhecido, mas apresentados de algumas maneiras paradoxais, porque elas tenta, através das imagens e símbolos, apontar para alguma coisa ainda não conhecida ou vivenciada, mas que pode ser conhecida, pode ser vivenciada. Por isso, como diz Joseph Campbell, os mitos são, como os sonhos, expressões da sabedoria da vida, da vida humana. Frequentemente trazem temas universais que vestem roupagens das culturas locais, mas sempre se referindo a um enredo atemporal conhecido de quase todas as pessoas. Por isso, tanto um médico de São Paulo quanto um índio do Xingu podem ter sonhos ou gostarem de um conto que, tirando as diferenças superficiais das roupagens culturais, possuem uma mesma temática, que pode ser desde a jornada épica de um herói ao modo como se dá a paixão entre um homem e uma mulher, por exemplo.

  Como bem aponta o filósofo e historiador romeno Mircea Eliade, as imagens, símbolos e mitos apontam para aquele conteúdo profundo que é próprio da espécie humana: a capacidade de buscar sentido na vida e no mundo, e estes sãos os meios de nossa alma de expressar seus anseios, suas tendências de desenvolvimento (ou de estagnação). As imagens, símbolos e mitos são a linguagem figurada da alma e veículos de uma sabedoria só possível de ser "entendida" quando a aceitamos tal qual se nos apresentam para, assimiladas, poderem ser refletidas na alegoria de sua sabedoria sintética e poética, que ainda não foi deturpada pela racionalização ou pela seleção dos preconceitos de uma sociedade hiper-pragmática e voltada para as coisas externas como a nossa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A melhor mensagem de Natal passa longe do consumismo...




  A melhor mensagem de Natal não é aquela associada ao consumismo, nem à neurose das aparências, mas sim aquela que sai da alma que, por pelo menos uma hora, relembra do esquecido aniversariante e, mais ainda, do seu exemplo no silêncio de nossos corações  que, sensibilizado, se abre aos corações daqueles que a vida nos deu por acompanhantes no caminhar comum da existência...


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Adeus, Oscar... Obrigado pelo exemplo!


Grato, Oscar
Pela genialidade
Pela generosidade
Pela ousadia de ousar sonhar
Por ter enfrentado a arrogância e a Ignorância da Direita
Por ter mantido a coerência
Pelo exemplo de vida!

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Aquilo que nos sensibiliza já existia em nós


Nada posso te dar que já não exista em ti mesmo. Não posso abrir-te outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada te posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu te ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo... e isso é tudo...

Hermann Hesse