terça-feira, 26 de novembro de 2019

O ódio de classe ou Moro e os caracóis dos cabelos de Protógenes, por Armando Coelho Neto, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol



Qual o crime de Protógenes Queiroz? Vazamento de informações e violação do sigilo funcional. O que o ex-juiz Moro fez? Não foi exatamente isso, de forma dolosa, rotineira e sistemática?

Crime de ódio ou Moro e os caracóis dos cabelos de Protógenes

por Armando Rodrigues Coelho Neto, no GGN

O delegado federal Protógenes Queiroz está exilado na Suíça, onde aguarda o desfecho de um projeto suprapartidário de anistia que poderá reverter o que parece uma sentença estúpida.
O ex-policial foi condenado por um crime que o então juiz Sérgio Moro, à frente da tramoia Farsa Jato, consciente e dolosamente, cometeu quase todos os dias, durante quatro anos. Às escâncaras, audiências foram transmitidas até por meio de celulares para blogs picaretas de orientação fascista ou completamente desorientados. Sob a farsa de combate à corrupção, ações espetaculosas foram avisadas à TV Globo com antecedência e o resto da lambança é público.
De forma sistemática, foram muitos os crimes. Violação de sigilo, inclusive da Presidência da República, edição de gravações telefônicas para incriminar a Presidenta Dilma e impedir Lula de ser ministro, sem contar a prática dolosa de destruição de reputações, que até hoje são acolhidas como verdades por desavisados e maledicentes.
Entre o real e o falso, entre o natural e o fabricado, políticos e empresários foram arrasados, históricos acadêmicos foram destroçados, num pacote de crimes que inclui a indução ao suicídio de um reitor, em Santa Catarina. Tudo isso deu o tom do crime de ódio no qual se tornou a antessala do golpe de 2016.
O que já se sabia, denunciado e ou ignorado pela Suprema Corte, se tornou público pelas revelações feitas pelo jornal eletrônico The Intercept. Com a conivência do barnabé judicial, procuradores da República promoveram violações sistemáticas de direitos e garantias previstas na Constituição. Por aparente omissão, o ex-juiz Moro foi coautor das práticas criminosas encetadas pelos savonarolas do Ministério Público Federal, entre elas chantagens, coações diretas e indiretas – inclusive de familiares de investigados, depoimentos sob pressão, coleta ilegal de provas…
Eis, pois, o resumo da capivara do ex-juiz, hoje premiado com o cargo de ministro da Justiça. Eis os crimes dele. Mas…
Qual o crime de Protógenes Queiroz? Vazamento de informações e violação do sigilo funcional. O que o ex-juiz Moro fez? Não foi exatamente isso, de forma dolosa, rotineira e sistemática? Que pena sofreu? Nenhuma. Pelo contrário, foi premiado com o cargo de ministro da Justiça, além da promessa de se tornar um dia ministro do Supremo Tribunal Federal.
Protógenes Queiroz chefiou a denominada Operação Satiagraha. Prendeu, entre outros, Daniel Dantas (Grupo Opportunity) e Celso Pitta (ex-prefeito de São Paulo). Ambos seriam então suspeitos de corrupção e lavagem de dinheiro. As ações tiveram ampla cobertura da imprensa, bem semelhante às ações da Farsa Jato. A diferença? Está no fato de que a Satiagraha não se prestou a quebrar empresas brasileiras, não desempregou milhões de brasileiros para entregar o patrimônio nacional na bacia das almas.
Protógenes também foi acusado de vazar informações (crime de Moro e procuradores da República). Com a ajuda de agente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), teria realizado escutas telefônicas ilegais. Qualquer semelhança com os procuradores da República no conluio com agente públicos da Suíça seria mera coincidência. A diferença? Os processos contra DD Dinheirol e sua gangue foram arquivados, desarquivados, adiados e ou não julgados por conta de liminares, coleguinhas que matam no peito… Já Protógenes… Ah! Esse é bandido. Assim o dizem…
Notas imprecisas dizem que investigados da Satiagraha teriam tentado subornar um delegado da PF. Essa é, pelo menos, a versão dada pelo procurador da República Rodrigo de Grantis, que acompanhou, segundo a imprensa, o interrogatório do intermediário do dinheiro. A versão dos acusados é outra, mas o fato é que o flagrante da entrega do dinheiro ao delegado federal foi exibido pela TV Globo no Jornal Nacional. Os laudos da PF mostram que ao examinarem o reflexo das imagens na vidraça do restaurante, os peritos conseguiram identificar um famoso repórter da TV Globo e o seu cinegrafista…
Com ansiedade, o brasileiro aguarda que o The Intercept divulgue o torpe papel da TV Globo nos bastidores da Farsa Farsa Jato, quem sabe por meio de uma outra vidraça qualquer, só para melhorar as coincidências.
O caso do suborno passou depois a ser tratado pela Justiça como “flagrante preparado”, uma prática legalmente proibida. Leia-se, teria sido uma armação igual, parecida ou mal feita tanto quanto as múltiplas falcatruas promovidas durante as fanfarronices dos capitães do mato da Farsa Jato.
O resumo dessa ópera é que, em mais um crime de ódio (lato sensu), o delegado federal Protógenes Queiroz foi condenado, demitido e hoje está exilado na Suíça. As semelhanças são muitas, só o desfecho está pendente. A Satiagraha foi anulada, enquanto até hoje o Supremo Tribunal Federal não anulou a Farsa Jato e não exilou o Moro. Evita discutir as ilegalidades da Farsa Jato, entre elas, toda fraude que permeia aquela operação, as quais, quase 300 conduções coercitivas ilegais e a absoluta parcialidade do ex-juizeco.
Há sim muitas coincidências com desfechos distintos, como o exílio físico e moral de Protógenes Queiroz, que recentemente postou num grupo de WhatsApp a música “Debaixo dos Caracóis” – homenagem solidária de Roberto e Erasmo Carlos para Caetano Veloso, quando no exílio em Londres, por força da ditadura militar de 1964. É possível que o dolorido trecho, “você olha tudo e nada lhe faz ficar contente… você só deseja agora, voltar pra sua gente” possa ter tocado forte o coração do delegado.
Sentenças de clientelismos à parte, coincidências e tratamentos de ocasião, o fato é que enquanto Protógenes amarga suas perdas, muitos dos oficiantes da Farsa Jato foram premiados com cargos e medalhas; ganharam dinheiro com livros e palestras. Além dos cinco minutos de fama, ainda arriscam ganhar mais algum levianamente, tentando processar jornalistas…
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

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