O fascismo caminha em marcha acelerada.
Há possibilidade, dentro em breve, do Brasil se transformar no caso mais emblemático, por selvagem, das ditaduras de direita que passaram a proliferar pelo planeta. E não há sinal da resistência das instituições.
São nítidos os sinais de agravamento do clima político.

Peça 1 – O Partido 38 de Bolsonaro

A partir de sua formalização, haverá a articulação nacional e a ampliação das milícias armadas espalhadas pelos quatro cantos do país. A violência difusa se tornará articulada.
Reedita-se o fenômeno das SSs nazistas. No início, era uma organização paramilitar incumbida de proteger as lideranças nazistas, mas já tendo como método infundir terror nos adversários. No auge do nazismo, as SSs chegaram a ter um milhão de filiados e passaram a controlar a Gestapo, a polícia, os serviços de inteligência. Moviam-se pela bandeira única de exterminar as minorias, políticas ou étnicas.
Só um cego absoluto para não enxergar esse modelo, dos camisas negras do fascismo, na construção do Partido 38 de Bolsonaro.

Peça 2 – a distribuição de armas

Além das milícias propriamente ditas, há ampla aceitação de Bolsonaro entre os seguintes grupos armados:
  • Baixa patente das Polícias Militares em vários estados.
  • Clubes de tiro
  • Ruralistas
  • Desajustados de toda espécie, organizados em torno de grupos de  “cidadãos de bem”, espalhados por todo o país, com apoio das Igrejas evangélicas.
Desde o primeiro dia de governo, Bolsonaro tratou de ampliar o armamento para a população. Ou através de medidas econômicas, como a liberação da importação e do porte de armas. Ou através de manobras explícitas pró-contrabando, como foi o caso de sua ofensiva sobre a fiscalização no porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, entrada principal das armas no país.

Peça 3 – Aparelhamento das instituições

Existe ampla simpatia por Bolsonaro nas principais instituições do país, Judiciário Estadual, Federal, Eleitoral, Ministérios Públicos, Justiça Eleitoral, Polícia Federal e associações empresariais em geral. O novo partido irá dar organicidade a essa atuação.
Atualmente, já está em curso um amplo lawfare contra críticos do governo, denúncias e ações a granel, tanto no âmbito do Judiciário quanto dos Conselhos profissionais da Justiça e do Ministério Público. Há juízes, procuradores, delegados da Polícia Federal, uma minoria legalista submetida a constrangimentos e ameaças de sanção.

Peça 4 – a blindagem de Bolsonaro

O caso Marielle é o exemplo mais escarrado da manipulação dos principais órgãos de controle do país – do Ministério Público e Polícia Federal à mídia. No caso da mídia, tenta-se um equilibrismo temerário, de acuar Bolsonaro sem ir às últimas consequências.
Em suma, com o Partido 38 Bolsonaro começa sua Marcha Sobre Brasilia – repetindo a Marcha Sobre Roma que consagrou Mussolini como o imperador da Itália. A última barreira é a investigação sobre a morte de Marielle Franco. E, no momento, o inquérito está sendo alvo de uma manipulação escandalosa e aceita como natural pela imprensa.
O depoimento do porteiro do Condomínio, que registrou a entrada de Élcio Queiroz na casa de Bolsonaro, foi manipulado publicamente. Antes mesmo de analisar o inquérito, o Ministro da Justiça Sérgio Moro ameaçou invocar a Lei de Segurança Nacional contra o porteiro. A revista Veja o expos de forma temerária. E a Polícia Federal o interrogou de forma intimidatória, para que revisse sua declaração inicial. Procuradores do Ministério Público Estadual trataram de desqualificar o depoimento, com uma falsa perícia no equipamento.
Finalmente, os jornais escondem o fato central de toda a investigação: na hora em que Élcio e Ronnie Lessa se reuniam no Condomínio, o vereador Carlos Bolsonaro estava lá, conforme ele próprio mostrou, no segundo vídeo que gravou sobre o sistema de registro das chamadas do condomínio.
Lá, em um vídeo que o país inteiro assistiu, ele mostra que às 17:58 horas estava de saída do condomínio e pediu um Uber que foi busca-lo. Se Élcio chegou às 17:10, é óbvio que ficaram ao mesmo tempo no condomínio por no mínimo 48 minutos.
Inexplicavelmente, no seu balanço sobre o caso Marielle, a Folha teima em ignorar uma informação pública.
Segundo a matéria:
Onde ele estava naquele dia?
Segundo o Diário da Câmara do Rio, Carlos participou de sessão no plenário e votou em um projeto por volta das 16h30. A sessão terminou às 17h30, mas não é possível precisar o horário de saída do vereador. Nesta faixa de horário, leva-se de 45 minutos a 1h40 para percorrer o caminho entre a Câmara e o condomínio de Bolsonaro na Barra da Tijuca. Assim, seria improvável que Carlos estivesse em casa quando Élcio chegou ao condomínio, por volta das 17h10. No mesmo dia, Carlos também fez um post nas redes sociais em que dava uma entrevista no seu gabinete para a Federação Israelita.

Se o vídeo apresentado por Carlos era, de fato, do dia 14 de março, dia da morte de Marielle, ele estava presente no condomínio no mesmo momento que os assassinos. Mais que isso, deixou uma sessão da Câmara exclusivamente para ir ao Condomínio e sair 48 minutos após a chegada de Élcio. Se ele comprovar que estava, de fato, na Câmara, significa que o arquivo do dia 14 de março foi manipulado. E aí as suspeitas voltam novamente para o pai Jair.
Como é que se ignora uma evidência desse porte?
O que parece estar em jogo é uma aposta temerária do mercado: manter Bolsonaro sob fogo brando enquanto o Congresso aprova as tais reformas e se concretizam os grandes negócios de Paulo Guedes. É uma aposta contra o demônio.
Ontem, Bolsonaro enviou ao Congresso um decreto estendendo o excludente de ilicitude a todo militar ou policial que matar em serviço. Se a onda de protestos que varre a América Latina chegar ao Brasil, seria um morticínio da população civil.
Provavelmente o caso Marielle é a última oportunidade para se barrar essa escalada para o fascismo à brasileira. Se as instituições falharem na apuração de um crime óbvio como esse, não haverá força que resista a Bolsonaro.
O que mais incomoda é que, no maior furacão, no momento mais decisivo da história do Brasil, esses movimentos recentes, que tiraram o PT momentaneamente do jogo político, não revelaram uma liderança de peso sequer. E o futuro do democracia continua a depender de um sapo barbudo que se tornou referência mundial dos direitos humanos.