quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A prisão não destruiu Lula, mas a realidade desmanchou o falso mito Bolsonaro, por Fábio de Oliveira Ribeiro



Os portugueses abandonaram o austericídio e Portugal voltou a crescer. Esse exemplo poderia ser adotado pelo governo brasileiro se a irracionalidade não pautasse de maneira tão evidente a familícia.

A prisão não destruiu Lula, a realidade desmanchou o mito Bolsonaro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Com o dólar fixado em R$ 4,20 e os investidores fugindo do nosso país, Sérgio Moro voltou a público para desviar a atenção do “respeitável público”. O Ministro da Justiça cumpre assim seu papel de levantar a bola para o presidente fazer o gol. Acuado e sem condições de resolver a crise econômica que ele mesmo amplificou ao adotar medidas neoliberais, Jair Bolsonaro já pode começar a dizer que o fracasso da economia se deve à libertação de Lula.
Pode o STF ser considerado culpado pelo fracasso do governo? A resposta é não.
Quem escolheu o caminho do neoliberalismo foi o próprio Jair Bolsonaro. O resultado aí está: o mercado interno está sendo programaticamente destruído através de medidas que reduzem o poder de compra dos trabalhadores e dos aposentados e pensionistas. Sem consumidores as empresas continuam reduzindo suas atividades ou falindo. Isso acarreta mais desemprego e queda da arrecadação fiscal que levará inevitavelmente ao aumento do endividamento estatal e à adoção de novas medidas para reduzir as despesas públicas.
Esse círculo vicioso somente seria rompido com uma injeção de dinheiro na economia real. Os Bancos contabilizaram lucros fantásticos e poderiam fazer isso. O problema é que nenhum empresário tomará empréstimos a juros escorchantes para investir sabendo que produzirá produtos e serviços que não serão consumidos. O Estado paralisou obras públicas, encerrou o programa de construção de casas populares e se recusa a agir de maneira proativa. A lógica do neoliberalismo faz o resto: a adoção de medidas de austeridade produz apenas mais austeridade.
Os portugueses abandonaram o austericídio e Portugal voltou a crescer. Esse exemplo poderia ser adotado pelo governo brasileiro se a irracionalidade não pautasse de maneira tão evidente a familícia. Bolsonaro e seus filhos odeiam qualquer coisa que eles acreditem ser “o comunismo”. Uma política macroeconômica desenvolvimentista inspirada no keynesianismo seria por eles automaticamente descartada em razão de ser comunista. E para piorar, o presidente sente orgulho de dizer que não entende nada de economia. Ele se colocou totalmente à mercê de um banqueiro psicopata capaz de destruir o país para impor sua estranha versão de economia financeirizada que deprime a indústria e o comércio destruindo o mercado interno do qual eles dependem.
Enredado pela campanha antipetista da imprensa e conduzido para a urna como se fosse gado pelas Fake News espalhadas massivamente pela familícia, a maioria dos brasileiros foi enganada. Acreditando no atalho proposto pelo mito, dezenas de milhões de cidadãos ajudaram a tirar o Brasil do bom caminho que vinha sendo trilhado. A popularidade de Bolsonaro despencou, mas nada vai fazê-lo observar o sucesso de Portugal e abandonar os erros que ele está cometendo. Aplica-se aqui uma lição conhecida por Maquiavel:
“As palavras de um homem sábio podem facilmente fazer retornar ao bom caminho um povo perdido, entregue à desordem; contudo, nenhuma voz ousa elevar-se para esclarecer um príncipe mau; para ele só existe um remédio – a espada.” (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, editora UnB, Brasília, 3ª edição, 1994, p. 182)
O governo acabou. Com o dólar a R4 4,20 e os investidores fugindo do Brasil sire Jair Bolsonaro só pode escolher entre se jogar numa espada ou se arrastar até o fim do mandato. Mas a verdade é que o estrago está feito e se tornará irreversível assim que o governo desperdiçar as reservas internacionais acumuladas durante os governos do PT. O fato é que o mito finalmente esbarrou e desmanchou na realidade. A familícia e seu Ministro da Justiça não podem culpar o STF e Lula pelas escolhas que Jair Bolsonaro fez, mas isso não será capaz de salvar o país da depressão econômica que colocará nas ruas um povo desempregado, desesperado e esfomeado.
O desespero também está dominando a direita que ajudou a eleger Bolsonaro. Hoje o Estadão pediu a cabeça do Ministro da Educação. Se degolar Abraham Weintraub o presidente admitirá publicamente sua fraqueza. Se não fizer isso e dar ao Estadão o mesmo tratamento que deu à Folha ele ganhará mais um inimigo. Lula e o STF serão considerados culpados por que Weintraub adora ser grosseiro quando usa o Twitter?

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