sábado, 30 de janeiro de 2021

Com Câmara no bolso, Bolsonaro proclamará: “eu sou a Constituição!”. Artigo de Jeferson Miola

 

O colunista Jeferson Miola analisa a provável eleição do candidato de Bolsonaro à Presidência da Câmara, Arthur Lira: "Com a Câmara dos Deputados no bolso, com o PGR subjugado, o judiciário tutelado (...) Bolsonaro está a um passo de materializar a proclamação que fez em 20 de abril de 2020: 'eu sou a Constituição!'"


Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Por Jeferson Miola

A instalação do títere do Bolsonaro na presidência da Câmara dos Deputados tem duplo ganho para o regime dos generais.

Por um lado, representa um passo perigoso de hipertrofia e concentração do poder fascista-militar. Controlando a Câmara, o “Partido Militar” aperta o garrote sobre as instituições, controla abertamente outro poder de Estado e avança com sutileza e suavidade o processo de fechamento/tutela do Congresso.

Tudo feito de modo “asséptico”, sem precisar de “um soldado e um cabo” e, também, sem precisar disparar sequer um único tiro de fuzil. Para não parecer um golpe militar sobre o poder civil.

O segundo ganho é a blindagem do genocida do Planalto. Com seu títere na presidência da Câmara, o facínora ficará blindado tanto em relação à abertura de processo de impeachment por crimes de responsabilidade, como em relação à autorização para o STF julgá-lo por crimes chamados de “comuns” – genocídio, crimes contra a humanidade, contra a saúde pública etc.

Se Baleia Rossi não é nenhuma garantia de que o impeachment possa ser votado pelo Plenário da Câmara, Arthur Lira é a certeza de que esta urgência nacional terá nele um implacável adversário.

Bolsonaro enfrenta a conjuntura mais desfavorável desde que este ciclo de terror e horror iniciou, em 1º de janeiro de 2019.

Pela primeira vez, em todo este período, observa-se o descolamento, ainda que tímido, de setores e movimentos de direita e extrema-direita, ao mesmo tempo em que a oposição de esquerda e centro-esquerda se unifica em torno da bandeira do impeachment.

Manaus expôs sem filtros a natureza genocida e cruel do regime, abalou a legitimidade dos criminosos no poder e acendeu a luz de alerta para segmentos da oligarquia dominante.

A gestão criminosa e irresponsável do general-ministro da morte Eduardo Pazuello, um general ainda da ativa, abala ainda mais a imagem já emporcalhada do governo e das Forças Armadas.

Ao lado disso, com a derrota do Trump, a diplomacia pária-genocida se isola e enfrenta adversidades relevantes no cenário internacional. A agressão do lunático Ernesto Araújo à China é fonte permanente de instabilidade e crise para o governo, que depende totalmente da potência asiática para abastecer o Brasil com vacinas.

A Administração Biden não poupou recados e gestos de rechaço a Bolsonaro, que deverá ser humilhado antes de conseguir conversar com o presidente estadunidense. Os sinais são de que EUA – que se notabilizam por derrubar governos, apoiar ditaduras e impor regimes servis a seus interesses – não seriam empecilho à eventual destituição do cupincha tropical do Trump.

Por estes motivos, o controle da Câmara é fundamental para a governabilidade neste momento de dificuldades e de agravamento da crise de legitimidade do Bolsonaro e dos militares.

Segundo noticiado, o governo já investiu à vista R$ 20 bilhões na compra de deputados, e arrematou o passe de parlamentares venais com a promessa de “compra futura”, por meio da entrega de 3 ministérios para a farra de corrupção, apenas confirmada a eleição do Lira.

O general-ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, comanda esta orgia corrupta de compra parlamentar em distintas modalidades: no atacado, no varejo, à vista ou à prazo.

Com a Câmara dos Deputados no bolso, com o PGR subjugado, o judiciário tutelado, e contando com a conivência da oligarquia calhorda que jogou o país neste precipício fascista-militar, Bolsonaro está a um passo de materializar a proclamação que fez em 20 de abril de 2020, dia seguinte à participação dele no ato terrorista que pedia o fechamento do Congresso e do STF e a “intervenção militar com Bolsonaro no poder” em frente ao Quartel-general do Exército Brasileiro : “eu sou a Constituição!”.

O conhecimento liberta. Saiba mais

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