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sábado, 7 de novembro de 2020

Luis Nassif sobre a diferença entre as instituições do Brasil e dos EUA em relação às tentativas de golpe (os militares nos EUA respeitam as instituições e a Constituição)

 

GGN:


Nos EUA não se ouviu uma voz sequer militar. Aliás, a única manifestação foi quando Trump tentou criar um evento em frente a uma Igreja, com a presença inadvertida de um chefe das Forças Armadas. Imediatamente ele se pronunciou contra a manobra. No Brasil, o chefe do Estado Maior se vangloriou com Bolsonaro do apoio que lhe deu.


Cada vez que se levanta a hipótese de Donald Trump melar as eleições americanas, vozes se levantam em todos os cantos para asseverar a importância das instituições.

Durante todo o século 20, o valor das instituições foi um dos pontos centrais do modo americano de se vender ao mundo. Em nome das instituições, Al Gore não rebateu a tentativa bem sucedida de George Bush Jr de ganhar as eleições nos tribunais.

Uma pequena comparação entre os EUA e o Brasil.

1.. Trump se insurgiu contra os resultados. As grandes redes de TV interromperam as transmissões, denunciando a mentira. Próceres republicanos criticaram o presidente. No Brasil, Aécio Neves denunciou os resultados das eleições de 2014. Mereceu ampla cobertura e nenhuma voz do sistema rebatendo.

2. Nos tribunais americanos, as tentativas de Trump tem sido derrubadas. No Brasil, houve direcionamento da análise das contas de Dilma e do PT para um Ministro anti-PT e, durante um mês, tentativa de escandalizar qualquer irregularidade contábil da campanha – até o enquadramento incorreto de máquinas de picar papel em bens duráveis (deveria ser semi-duráveis uo vice-versa). Cada informação, por mais irrelevante, merecia ampla cobertura escandalizada da mídia.

3. Mesmo com o ativismo e o conservadorismo da Suprema Corte, não há sinais de que endosse qualquer tentativa de golpe judicial contra as eleições. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal endossou o golpe do impeachment até o limite da infâmia, de tentar impedir entrevistas de Lula.

4. Com exceção do trumpismo, mídia, políticos, instituições combatem os movimentos de rua e a violência difusa. No Brasil, a mídia conclamou a população a ir para as ruas acelerar o impeachment.

5. Nos EUA não se ouviu uma voz sequer militar. Aliás, a única manifestação foi quando Trump tentou criar um evento em frente a uma Igreja, com a presença inadvertida de um chefe das Forças Armadas. Imediatamente ele se pronunciou contra a manobra. No Brasil, o chefe do Estado Maior se vangloriou com Bolsonaro do apoio que lhe deu.



quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Xadrez do papel dos radicais de esquerda (ante o perigo da cadela do fascismo), por Luis Nassif


Dizem os radicais – e com razão – que foi a tentativa de composição, as concessões feitas pelos governos petistas, sua falta de ambição em conduzir mudanças estruturais que levaram ao golpe do impeachment.
Os radicais do PT (atenção: não utilizo essa palavra pejorativamente) se levantam contra a ideia do pacto nacional com o centro-direita, contra o milicianismo que ameaça o país.
Não conseguirão deter o rumo das águas, mas essa radicalização será essencial no segundo tempo do jogo, na hipótese dessa coalizão esquerda-centro direita ser vitoriosa.
Há diversas razões para sustentar que o pacto é inevitável, como única alternativa às tentativas continuadas de golpe pelas milícias lideradas por Bolsonaro.
A maior delas, é que qualquer radicalização será contra a esquerda. O único fator de mobilização do fascismo fundamentalista brasileiro, para fora de sua bolha, é a suposta ameaça das esquerdas. A ultradireita também dispõe de capacidade de mobilização popular e está profundamente infiltrada nos poderes de Estado e nas organizações criminosas – tanto nas milícias quanto no PCC.
Outra razão é que a maioria dos movimentos populares organizados aprendeu a atuar em ambiente democrático. O que mais desejam é o aprofundamento da democracia e a descriminalização de sua atuação.
O radicalismo, de não aceitar nenhuma forma de aliança, é praticado basicamente por YouTubers de esquerda, alguns livre atiradores cujo ato de “causar” faz parte de seu marketing, e parte da base que não consegue avaliar com clareza questões como correlação de forças.
Dizem os radicais – e com razão – que foi a tentativa de composição, as concessões feitas pelos governos petistas, sua falta de ambição em conduzir mudanças estruturais que levaram ao golpe do impeachment.
É evidente que qualquer novo governo não poderá mais tentar o mesmo do mesmo.
A questão central é como se conduzir na hipótese de uma coalizão esquerda-centro direita sair vitoriosa – e aí o papel da militância será fundamental. A maior arma do PT é sua militância e seus votos. Virá dela a pressão para que não se tergiverse em pontos essenciais, nos quais haverá maior divergência com os futuros aliados, as chamadas cláusulas pétreas do acordo:
  1. Um novo modelo fiscal, que taxe os ganhos financeiros e seja efetivamente progressivo (isto é, taxando proporcionalmente mais quem ganha mais).
  2. Restabelecimento constitucional dos patamares mínimos de gastos sociais, em educação, saude e segurança, com recuperação da educação e da saude públicas.
  3. Aprofundamento da democracia, com o fortalecimento de conselhos de participação em todas as áreas, das áreas econômicas (abrindo espaço para participação empresarial) às áreas sociais.
  4. Recuperação do conceito constitucional de função social da propriedade, impulso à reforma agrária, reconhecimento dos direitos de índios, quilombolas e sem teto..
  5. Democratização da mídia, com a instituição de legislações similares a de países desenvolvidos para evitar a cartelização e permitir diversidade e regionalização da produção.
  6. Enquadramento dos órgãos de controle nos estritos limites da lei.
Por outro lado, há que se contemplar as demandas legítimas do meio empresarial:
  1. Ampliação dos programas de desburocratização.
  2. Uso do mercado de capitais, delimitando claramente seu espaço e o dos bancos públicos.
  3. Discussão aberta sobre o novo modelo de legislação trabalhista, que contemple as mudanças estruturais na economia e garanta a proteção social.De lado a lado, os partidos políticos terão que se abrir para o meio social. Acabaram os tempos em que o partido definia sozinho políticas de compensação e entregava aos grupos sociais como um presente.
  4. Partidos modernos terão que operar como plataformas, permitindo que cada grupo associado formule suas próprias políticas setoriais, mantendo suas identidades. Às executivas, democratizadas, caberá apenas garantir que cada proposta se enquadre nos princípios partidários.
    Estamos no início de uma longa caminhada, da mais fundamental batalha política da história, a luta que colocará definitivamente o país no rumo da modernidade, ou de volta ao período mais obscurantista da história.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Luis Nassif: O Supremo e as histórias não contadas sobre o impeachment a partir da leitura de "Os Onze o O STF, seus bastidores e suas crises", de Felipe Recondo e Luiz Weber






Estou no meio da leitura de “Os Onze – o STF, seus bastidores e suas crises”, de Felipe Recondo e Luiz Weber. É um clássico sobre as mudanças do Supremo Tribunal Federal (STF), devido à abrangência das análises.
Há uma série de narrativas superpostas de forma competente:
  • O processo gradativo de usurpação dos poderes pelo Supremo, culminando com o novo constitucionalismo de Luis Roberto Barroso.
  • A popularização da cobertura, com a ampliação dos setoristas da imprensa, as transmissões ao vivo e o poder político conferido ao Supremo, após o mensalão.
  • O poder individual de cada Ministro, com a ampliação da abrangência das decisões monocráticas, erodindo as decisões colegiadas, e sua nova condição de celebridade política.
  • A pressão externa da mídia, das ruas e das redes sociais sobre as votações.
  • A disputa pelo novo espaço, no qual o notório saber é substituído por frases de efeito que transformam medíocres em celebridades, juristas em influenciadores digitais, casos mais notórios de Ayres Britto e Carmen Lúcia.
Sobre esse cenário, o livro vai desenhando, através de pequenos episódios, o caráter dos personagens, com suas fraquezas e idiossincrasias, observando-se uma implicância saudável com caráteres fracos. E também como os Ministros vão se preparando para os novos tempos, substituindo a jurisprudência por frases de efeito, para se comunicar melhor com a galera – recurso ao qual recorrem especialmente Carmen Lúcia, Ayres Britto e Luis Roberto Barroso.
Provavelmente não há similar de um poder nacional dissecado com tamanha abrangência e acuidade.

Egos em transe

É esse i trajeto do Supremo para o século 21: o fim da privacidade, a publicização total de seus atos e, consequentemente, sua exposição à mídia e às redes sociais, estimulando a apoteose mental de alguns Ministros, e inibindo a atuação anti-cíclica dos Ministros mais responsáveis.
Senhores formais, que se formaram em ambientes formais, de repente se viram alvos de escrachos, meramente por episódios menores, no qual reconheciam direitos mínimos dos acusados. Do outro lado, se tornavam celebridades instantâneas com suas frases banais sendo celebradas em manchetes ou em chamadas de jornais televisivos, como os versos de Ayres Brito, as frases de efeito de Carmen Lúcia.
No dia em que Carmen bradou “onde um juiz for destratado, eu também sou”, se tornou a fada madrinha do Judiciário. Com o grito “Cala a boca, já morreu!”, imediatamente foi alçada pela Globo ao posto de presidenciável.
O grande inspirador de Carmen foi Petrônio Augusto Carvalho Oliveiri Filho, nomeado assessor especial nível CJ3 na Assessoria Processual do STF e titular do blog “O Pensador” cujo conteúdo mais relevante são frases, frases e frases, divididas em tópicos atraentes como “Frases Curtas”, “Frases Lindas”, “Frases Românticas”, “Frases inteligentes”, “Frases da Vida”, um tipo de frase para cada estado de espírito.
Que Canotilho, Ferrajoli, Roxin, Bandeira de Mello! Nos tempos de redes sociais, Petrônio se tornou a referência.
Antes delas, frases poéticas de Ayres Brito sacudiram os umbrais:
“A silhueta da verdade só assenta em vestidos transparentes”.
“Ao contrário da roupa no tanque ou nas pedras do rio, quanto mais se torce a verdade mais ela encarde”.
“O pior juiz é o que faz de sua caneta um pé-de-cabra”.
“Quando um povo pega o touro da corrupção a unha, monta relâmpago em pelo e não cai”.
É com esse chicote-cenoura que a mídia direcionou as decisões do Supremo. Qualquer fuga do script, matérias estimulando os escrachos. Qualquer adesão, premiações com prêmios ou manchetes laudatórias. Qualquer crítica aos seus métodos, demonização, transformação do crítico em petista.

O impeachment recontado

Em sua coluna de hoje, Bernardo Mello e Franco, de O Globo, menciona a denúncia do ex-PGR Rodrigo Janot contra o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em dezembro de 2015, como indicação de que ainda falta ser contada a história do impeachment. Apenas depois do impeachment, o relator Teori Zavascki tirou-a da gaveta, sinal mais que evidente de que a prioridade era o impeachment. Tivesse se dado antes, não teria ocorrido o impeachment. Como também não teria ocorrido se Lula pudesse assumir o cargo de Ministro da Casa Civil.
São episódios centrais – como foi o da prisão do ex-senador Delcídio do Amaral -, que precisam ser devidamente contextualizados.
Conforma relato de Os Onze, em um dos momentos em que procurou conter abusos da Lava Jato, o Ministro Teori Zavascki e sua família sofreram campanhas que chegaram até às escolas de seus netos. Provavelmente foi o fato foi celebrado pelo Ministro Luiz Fux, em mensagem a Deltan Dallagnol, conforme revelaram os diálogos divulgados pela Vaza Jato.
O próprio Fux se tornou um defensor intimorato da Lava Jato logo após ameaças de seu nome entrar nos inquéritos sobre o ex-governador Sérgio Cabral, seu mais notório padrinho político. Foi o que provocou a famosa crise de choro, e a menção à mãe, relatada também no livro de Rodrigo Janot e, posteriormente, sua adesão incondicional à Lava Jato – que, pelo visto, poupou seu aliado, impedindo a auditoria no celular de Eduardo Cunha.
Em todos esses episódios, foi essencial a campanha sistemática de ódio alimentada pela mídia desde 2005, que transformou a disputa política em uma guerra implacável, na qual o inimigo teria que ser eliminado. Esse foi o fermento do qual a Lava Jato se alimentou.

Os episódios centrais

A partir desse processo de intimidação, de convocação das turbas – pela Lava Jato, através das redes sociais, mas, fundamentalmente, pela Globo – desequilibrou-se totalmente o jogo no Supremo, com a intimidação dos constitucionalistas. Havia um Supremo, agora exposto pelo excesso de visibilidade.
É por aí – e também pelas ligações políticas de Ministros – que se entende melhor o tal algoritmo do Supremo, uma sucessão de sorteios de casos em que, em todos os momentos cruciais, caíam com um Ministro que já se sabia, de antemão, favorável ao impeachment.
O livro não envereda por essa seara. Menciona auditorias independentes feitas por algumas universidades. Probabilisticamente, nada explica a sucessão de sorteios do STF, sempre colocando questões essenciais nas mãos de Ministros dos quais se sabia, antecipadamente, o posicionamento político.  É um tema anda em aberto. Como está em aberto a morte de Teori Zavascki.
Dele se sabe, apenas, que pouco antes do acidente fatal, planejava ingressar em nova fase, extirpando abusos da Lava Jato.
Fonte do Texto: Jornal GGN



sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Aloysio Nunes garante: Lava Jato manipulou golpe contra Dilma. Por Eduardo Guimarães citando a Folha de São Paulo




Um dos defensores do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) agora considera que houve uma “manipulação política do impeachment” pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sergio Moro, atual ministro do governo Jair Bolsonaro (PSL).



Foto: Lucas Seixas/Folhapress

Um dos defensores do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) agora considera que houve uma “manipulação política do impeachment” pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sergio Moro, atual ministro do governo Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo o tucano, isso ficou provado após a divulgação de mensagens trocadas entre procuradores da operação, obtidas pelo site The Intercept Brasil por meio de fonte anônima e também analisadas por outros veículos, entre eles a Folha.
No ano seguinte ao impeachment, Aloysio se tornou ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer (MDB). Neste ano, passou a chefiar a Investe SP (agência de fomento de São Paulo) no governo João Doria (PSDB), mas deixou o cargo em fevereiro, após ser alvo de busca e apreensão na 60ª fase da Lava Jato, a Ad Infinitum.  ​
Na mesma fase, foi preso preventivamente Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, suspeito de ser operador do PSDB. No último mês, também foi revelado que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro relatou, em sua proposta de acordo de delação, que Aloysio teria pedido propina a campanhas do PSDB em troca da liberação de recursos de obras em São Paulo.
À Folha Aloysio diz que após as revelações das mensagens de procuradores ficou “profundamente chocado com o que aconteceu na Lava Jato”.
Ele afirma que a divulgação de telefonema entre a então presidente Dilma e o ex-presidente Lula em 2016, que resultou em decisão do Supremo Tribunal Federal que barrou a posse de Lula como chefe da Casa Civil do governo, impediu o governo petista de recompor sua base e barrar o impeachment.
As conversas que estavam mantidas em sigilo enfraqueceram a hipótese adotada na época por Moro de que a nomeação de Lula como ministro tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo seu caso de Curitiba para o STF.
As conversas interceptadas naquele dia e relevadas agora mostram que Lula relutou em aceitar o convite, só aceitou ser ministro após sofrer pressões de aliados e estava empenhado em buscar reaproximação com o PMDB para evitar o impeachment de Dilma.
“Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave”, afirma Aloysio. Na entrevista, ele também falou sobre a fase da Lava Jato na qual foi alvo, em fevereiro.
Que avaliação o sr. faz da Lava Jato até o momento? Acho que os diálogos divulgados pelo Intercept e por vários veículos, entre os quais a Folha, carimbam muitos desses procedimentos de absoluta ilegitimidade. Não é possível, em um processo judicial, em um país civilizado, um juiz e os procuradores se comportarem da forma como se comportaram. Processo judicial exige um juiz independente, imparcial, que dê iguais oportunidades tanto à defesa quanto ao Estado provarem seus argumentos.
É um processo viciado por essa relação promíscua entre o juiz e os procuradores, imbuídos de um projeto político, que vai além do processo judicial. São janízaros liderados por um vizir que quer ser o próximo califa no lugar do califa atual.
Em 2016, o sr. disse que ninguém poderia barrar a Lava Jato. Continua com essa opinião? Verdade. Depois das revelações, eu fico profundamente chocado com o que aconteceu na Lava Jato. Acho que o Supremo tinha que tomar providências, uma vez que o Conselho Nacional de Justiça não sei se tomará.
Foi uma surpresa? O PT sempre criticou o viés político [da operação]. Quando você fala na divulgação do diálogo de Lula com a Dilma, evidentemente você tem uma manipulação política do impeachment. Quando você tem a divulgação da delação de [Antonio] Palocci nas vésperas da eleição presidencial, você tem uma manipulação política da eleição presidencial. Isso feito de caso pensado, como os diálogos revelaram.
Não é uma coisa por inadvertência, foi de caso pensado. Então, isso para mim torna, não todos, porque não conheço todos, esses casos em que esse tipo de procedimento se verificou, nulos, porque atingiu um princípio fundamental do Estado de Direito, que é a garantia que a existência de um juiz imparcial dá ao direito de defesa.
Principalmente na época do impeachment, o PSDB explorou muito essa divulgação de diálogos. Não só o PSDB. O Supremo Tribunal Federal acabou por barrar a posse do Lula [como ministro de Dilma] com base em uma divulgação parcial de diálogo, feita por eles, Moro e seus subordinados, do Ministério Público. Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave.
O sr., na época do impeachment, era uma das principais lideranças a favor. Eu fui a favor do impeachment. Nós, da bancada do Senado, não tínhamos o mesmo entusiasmo da bancada [do PSDB] da Câmara. Éramos mais prudentes em relação ao que estava acontecendo. Diante do fato de que a presidente Dilma não conseguiu ter sequer 173 votos a favor dela para barrar o processo de impeachment na Câmara, ficou evidente que ela tinha perdido as condições de governar.
Além, evidentemente, do desvario na condução da política econômica e da política fiscal. Como uma presidente não consegue ter 173 votos para barrar o impeachment, que praticou atos que, à luz da própria legislação, constituiu crime de responsabilidade, não havia como a manter no poder.
Houve um peso político na divulgação dos áudios? Eles [autoridades da Lava Jato] manipularam o impeachment ao barrar a posse do Lula. Se Lula tivesse ido para a Casa Civil, não seria capaz de recompor a base política do governo? Lula, que dizem que foi um governo socialista, governou com a direita. Teria rapidamente condições de segurar a base política. Porque o impeachment é um processo jurídico —crime de responsabilidade—, e político. Ele, pelo menos em relação à questão política, talvez tivesse condição de recompor. Foi exatamente por isso que eles procuraram barrar, como conseguiram, a posse de Lula.
O sr. é a favor da lei de abuso de autoridade? Não pode restringir investigações importantes? Sou a favor. Prender alguém sem base legal, é evidentemente abuso de autoridade, claro. Restringir direito de defesa, manter a pessoa presa além do que a lei permite, é abuso de autoridade.
Como é abuso de autoridade, fazer o que fazem frequentemente: expor uma pessoa, que às vezes nem começou a ser investigada, à execração pública, como se tivesse sido condenada. Eu tive helicóptero sobrevoando a minha casa e imprensa na porta, para apreender um cartão, emitido em 2007, que eles sabiam que tinha sido cancelado. Isso não é abuso de autoridade?
O sr. então acha que a Lava Jato incorreu nisso várias vezes. Claro que sim. Várias vezes. Não é uma questão de Lava Jato ou não. São garantias que devem ocorrer para a lisura de um procedimento. Acho que contribui para manter as balizas do respeito ao contraditório, aos direitos individuais.
Da FSP