sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O enterro do ciclo neoliberal (já vai mais do que tarde) e o coveiro é Trump, por André Araújo



"O neoliberalismo moderno parte de uma FÉ, uma crença sectária, de que o mercado deixado solto resolve a maioria dos problemas econômicos. Trata-se de mera CRENÇA, não tem nada de cientifico e a História, mestre severa, se encarregou de desmistificar essa fé cega."



O enterro do ciclo neoliberal, o coveiro é Trump, por André Araújo
A ideia de que o mercado deixado livre resolve todos os problemas econômicos tem longas raízes, mas sua versão moderna foi posta a circular pelo cientista politico austríaco Friedrich von Hayek com seu livrinho “O Caminho da Servidão". Hayek também criou a Societé du Mont Pelerin, um clube de empresários, banqueiros e acadêmicos como Ludwig von Mises e Milton Friedman, a partir de uma reunião na Suíça em 1944, formalizando a entidade em 1947.
A nova linha é uma versão moderna da crença histórica de Adam Smith e seu enraizamento anterior ao mundo moderno é imprestável para a complexidade da economia e da sociedade que decorreu das grandes invenções do Século XIX que mudaram por completo o mundo, revirado do avesso pelas revolução, pelas guerras mundiais, pela implosão dos impérios após o Tratado de Versalhes e pelo advento de leis sociais e trabalhistas.
O “mercado resolve” de Hayek é mera crença de seita, não tem qualquer base cientifica, vale tanto como “o sangue de Jesus cura” dos superficiais pastores improvisados de novos cultos.
Sua legitimação para nosso dias veio de uma personalidade intrinsicamente má, nada generosa, egoísta até o último fiapo de cabelo, Margaret Thatcher, cuja desconstrução psicológica pela Deputada ao Parlamento Britânico Glenda Jackson, consagrada atriz de cinema e teatro, mostra uma Thatcher como espirito mesquinho, uma alma penada que deu inicio a uma era de trevas, de ode à ganancia, de abandono do pobre, que gerou o voto no BREXIT por aqueles que não se beneficiaram da globalização e dos ganhos do mercado financeiro.
O neoliberalismo moderno parte de uma FÉ, uma crença sectária, de que o mercado deixado solto resolve a maioria dos problemas econômicos. Trata-se de mera CRENÇA, não tem nada de cientifico e a História, mestre severa, se encarregou de desmistificar essa fé cega.
O MERCADO DEFENDE OS SEUS E SÓ ELES. O mercado não tem e nunca teve a capacidade de tornar a economia eficiente para todos os cidadãos, só para alguns deles. O mercado é a solução para os capitalistas mas não tem qualquer solução para os pobres e carentes, que são a maioria esmagadora das sociedades, inclusive dos países  ricos onde moram milhões de pobres, miseráveis e incapacitados em cada vez pior situação.
O CICLO NEOLIBERAL
A partir das ideias de Hayek, um personagem intelectualmente medíocre que fez seu nome a partir dos escombros da Segunda Guerra, o EGOISMO do mercado foi erigido em Deus “ex-machina”. Isso sempre foi uma ficção não abonada pela História. A civilização se estruturou desde os primórdios da vida organizada do homem pelo ESTADO ou pela RELIGIÃO, mercado é um espaço, uma invenção, posterior ao Estado e permitido por este, o mercado não foi um ente superior ao Estado, mas mera graça que o Estado concede em certos períodos. Hhá civilizações sem mercado, mas nenhuma sem Estado sob infinitas formas. O  mercado é uma organização medíocre e descartável, não é divino ou sábio nem tem o poder de organizar uma sociedade em bases civilizadas. O mercado é um condomínio de funções onde os agentes não se unem por um interesse maior, eles apenas se encontram para comerciar, nada os une, ao contrário, os interesses podem ser muito conflitantes. Só o Estado pode arbitrar porque está acima de uma mera praça de negócios. Como então dar poder à praça sobre o Estado?
O “mito” de que o mercado resolve os problemas econômicos e se auto regula IMPLODIU na História, o mercado entrou em parafuso e foi salvo pelo Estado com um simples gesto, o mercado implodiu completamente em fins de ciclos porque sempre foi um ator MUITO MENOR do que Hayek e Thatcher venderam, sua capacidade de resolver grandes problemas sociais é nula. A maior das sociedades de mercado, a americana, é grandiosa pelo fortíssimo Estado que a escora e nunca pelo mercado imperfeito dos fundos “hedge” de vigaristas de Wall Street, sucessores dos “robber barons” do Século XIX. Essa gente só se importa com seu lucro e nunca com o conjunto da economia e muito menos com a população.
Ms.Thatcher tinha como marca registrada a maldade do egoísmo, nunca foi uma criatura generosa e sua adoção e defesa do neoliberalismo teve tudo a ver com sua personalidade intrinsicamente egoísta, de má pessoa, que nunca foi solidária com os carentes de seu próprio Pais. Felizmente a revisão do ciclo “Thatcher” já se encarregou de colocar esses tempos terríveis em perspectiva histórica. Thatcher foi um horror, ela e a muleta Reagan por ela escorado plantaram a crise da desregulamentação financeira que gerou o “crash” de 2008.
Enquanto um Roosevelt sacrificou sua saúde em beneficio da humanidade, era uma alma generosa a despeito de erros cometidos, Mrs. Thatcher nunca foi vista como nada além de puro egoísmo, uma alma ruim, negativa, impiedosa. Desse espirito nasceu o ciclo neoliberal que desde então produziu maus resultados para os pobres do mundo, a começar de seu próprio País, o Reino Unido, dai propagando o “neoliberalismo” para o mundo, especialmente para países de sociedades frágeis, como os da América Latina e África. Mas não convenceu sociedades milenares fortes, como as da Ásia, mais sábias e experientes, estas aproveitaram a globalização, MAS não se deixaram dominar pelos mercados ocidentais, os mecanismos de defesa da economia japonesa, chinesa e dos tigres asiáticos são sólidos e lá não entram, por exemplo, bancos ocidentais, eles protegem seu mercado e invadem os outros.
A HISTORIA É CAÓTICA
Há uma crença nos acadêmicos de História dos Estados Unidos de que o mundo sempre evolui.
É falso. A História é um caos, cheia de avanços e recuos, não há racionalidade mecânica.
Quando o carrasco levou Luís XVI à guilhotina quem poderia pensar que o irmão do desgraçado Rei seria coroado menos de vinte anos depois, como monarca restaurado?
Quando Napoleão Bonaparte foi encarcerado para sempre na ilha de Santa Elena quem pesou ou poderia pensar que seu sobrinho seria coroado Imperador da França décadas depois?
Quando Getúlio foi deposto em dezembro 1945 porque os regimes fascistas caíram na Europa e Vargas era visto como parte desse clube, quem poderia pensar que o mesmo homem voltaria eleito cinco anos depois?
Quando Peron foi deposto e exilado em 1953, quem na Argentina ou no mundo poderia supor que esse caudilho voltaria ao poder 20 anos depois?
A História é um jogo caótico de idas e voltas, atalhos laterais, quedas abruptas, nada é muito racional ou de fácil explicação, só espíritos fracos podem acreditar em autos de fé.
A ideia de que o “mercado é mais eficiente” não responde à segunda pergunta, MAIS EFICIENTE PARA QUEM?
O mercado em todo o mundo, inclusive nos países ricos, mostrou ser mais eficiente PARA OS SEUS PARTICIPANTES e não para toda a população.
A ideia de que o mercado deixado livre é melhor para todos é uma crença ideológica.
O mercado é eficiente para alguns de seus participantes, MAS DEFINITIVAMENTE NÃO É EFICIENTE para toda a população.
O CICLO NEOLIBERAL E A CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA
A partir da desmontagem dos Estados de bem estar social nasceu o projeto da União Europeia, da globalização financeira e comercial irrestrita, da abertura das economias industriais, da lógica das “cadeias produtivas” e qual o resultado?
O número de bilionários no mundo aumentou 40 vezes de 1980 a 2015, as plataformas industriais nos grandes países foram em grande parte desmontadas e foram para países asiáticos, o desemprego e especialmente o subemprego aumentou brutalmente por todo mundo industrializado, nos EUA 20 milhões de famílias vivem em “trailers”, perderam as casas hipotecadas a bancos que foram retomadas e também não se vendem, há cemitérios de casas fechadas nos EUA, com isso aumentaram exponencialmente as doenças mentais, o consumo de drogas, loucos atirando em escolas, conflitos sociais rebrotaram.
Ao mesmo tempo fusões de empresas, muitas delas absurdas sob o ponto de vista do interesse público, continuaram a pleno vapor, com a logica de corte de custos e despedidas em massa de funcionários, em todas essas transações a única logica é criação de valor para acionistas, todos os demais atores perdem, os Estados, os empregados, os consumidores.
A NECESSIDADE DO ESTADO
O Estado é o ente que protege a imensa maioria da população que não é participante do mercado. A alegação de que o mercado sendo eficiente beneficia a todos é apenas uma ideologia, não há ciência alguma por trás do mantra, como comprovou a crise de 2008.
Nenhuma evidência empírica comprova essa crença. O mercado eficiente é eficiente para os donos de capital e só para eles, não beneficia sequer os seus empregados, prejudica imensamente a sociedade, o Estado e as finanças publicas.
O MITO DE FRIEDMAN
Propagandista da “eficiência dos mercados” foi o economista Milton Friedman. Mostrei em meu livro MOEDA E PROSPERIDADE, de 2005, portanto anterior à crise de 2008, como foi propagado o “monetarismo”, uma derivação das teses de Hayek. O CITIBANK bancou a maioria das palestras e a revista de Friedman, ajudou Friedman a construir o mito do “monetarismo”, imensamente benéfico aos bancos e péssimo para a sociedade. Desse mito nasceram teorias aberrantes como o das “metas de inflação”, teses, mitos e modelos destinados aos ganhos do mercado financeiro contra os interesse da população como um todo.
O fim do ciclo neoliberal teve seu desfecho por dois acontecimentos simultâneos, a saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump nos EUA. Ambos eventos sinalizadores do fracasso da globalização financeira e comercial para a imensa maioria da população dos dois países símbolos do capitalismo moderno e também os dois países onde nasceu o ciclo neoliberal dos anos 70. É, portanto, uma extraordinária ironia da História que esses dois sistemas econômicos, ao mesmo tempo, deram as costas ao modelo neoliberal que eles próprios criaram e, pelas mesmas razões, o ciclo prejudicou o grosso de suas populações.
Países imitadores como o Brasil, cujas elites mimetizam o que as elites das metrópoles pensam e fazem, não refizeram suas apostilas. Os conceitos neoliberais fracassados aqui continuam a ser os únicos nas cartilhas dos “economistas de mercado”, afinal eles fizeram seus cursos nos EUA e Inglaterra em pleno apogeu do neoliberalismo acadêmico e como são medíocres não conseguem reciclar a cartilha no meio da vida. Continuam a usar as apostilas já descartadas de Chicago, porque só conhecem essas e seu famoso “tripé macroeconômico”, não tem outra lição de casa, é só essa. Enquanto isso nos EUA o debate sobre ideias econômicas é intenso, com novos centros de pensamento em plena ebulição, como o Instituto para o Novo Pensamento Econômico de Nova York, escorado em três Prêmios Nobel de Economia, as lições da crise de 2008 aprendidas e refletidas, o jogo mudou.
O PAPEL DO MERCADO
O livre mercado de bens e serviços é um fantástico mecanismo de formação de preços e estimulo à capacidade empreendedora. Mas ele não é o exclusivo mecanismo de realização das aspirações humanas e de sua vivência civilizatória, há outros espaços que não são mercado por sua essência e mesmo por sua funcionalidade e eficiência, são espaços com outra lógica.
Há o espaço das causas públicas, da cultura e das artes, o espaço da pesquisa que pode beneficiar toda a sociedade e seus protagonistas no mais das vezes tem apenas a satisfação de ter auxiliado seu semelhante, há o espaço das organizações não governamentais e sem fins lucrativos de enorme importância em alguns países, especialmente naqueles lideres de “mercados” como Reino Unido e EUA, onde a maior parte dos museus, institutos de pesquisas, orquestras filarmônicas, companhias de ballet, entidades de amparo a drogados, velhos, meio ambiente, de incontáveis causas sociais não seguem o modelo de “mercado” ansioso por lucro a curto prazo, são outros modelos de vivencia e colaboração humana, fora do “mercado”.
Esta, portanto, não pode ser a base de toda a politica econômica, não pode ser o referencial de uma eleição presidencial, pretender colocar o Estado como dependente do mercado é um absurdo conceitual, o mercado é que depende do Estado e não vice-versa.
O erro é querer transformar tudo em mercado sob a alegação de que este é sempre eficiente.
A monumental crise financeira de 2008 com epicentro em Wall Street, mas que reverberou por todo o mundo, decorreu de um absurdo erro de concepção de instrumentos financeiros somada à ganancia incontrolável de executivos  de bancos em busca de bônus.
A crise levaria a quebra do maior banco, da maior seguradora e da maior empresa industrial americana, todas juntas e arrastando centenas de outras se não fosse o socorro do Tesouro dos EUA com um cheque de 780 bilhões de dólares e rápidas medidas de resgate.
O MERCADO FALHOU, onde está a autocritica dos neoliberais?  Nada, eles se fingem de mortos, esquecem que iriam implodir se não fosse o Estado salvador, NESSA HORA ELES NÃO PREGAM O ESTADO MINIMO, este deve ser mínimo  para os pobres mas deve ser SALVADOR PARA OS BANCOS e demais participantes do mercado, de pires na mão à porta do Tesouro.
QUANDO O MERCADO ERRA
A lendária eficiência dos mercados é isso mesmo, é só lenda. As grandes crises econômicas da Era Contemporânea, foram NOVE até a de 2008, ainda não resolvida, foram causadas pelo próprio mecanismo do mercado e não fora dele e as últimos quatro crises, a de 1929, a dos dois choques do petróleo e a financeira de 2008, foram resgatadas pelo Estado.
O mercado comete erros que prejudicam não só seus agentes e participantes, prejudicam toda a sociedade. O enorme vazamento de petróleo no golfo do México, na primeira década deste século, deu perdas por vários anos aos Estados costeiros e de 25 bilhões de dólares aos acionistas da British Petroleum. A implosão da barragem de contenção da mineradora SAMARCO, join ventures das duas maiores mineradoras do mundo, Vale e Billiton, ocorreu por uma estratégia de redução de custos até o limite, típica das grandes corporações, porque os bônus dos executivos dependem do lucro no trimestre, não interessa o longo prazo, interessa o balancete trimestral e ai cortam-se custos de manutenção que ninguém vê, chega-se ao limite do risco para aumentar o lucro. O erro do mercado custou caro à sociedade, às populações locais e aos próprios acionistas, a logica do mercado perfeito não funcionou.
Na escala micro o mercado erra muito, fundos nacionais e estrangeiros, os três maiores bancos privados  operando no Brasil investiram bilhões de Reais nos projetos fantasmagóricos de um especulador, Eike Batista, que não tinha histórico de ter antes operado alguma coisa concreta, ele sabia montar projetos e vender seu futuro róseo, era o que ele sabia fazer.
O “mercado” tão eficiente, com analistas formados nas melhores universidades americanas, entraram nessa aventura que provavelmente não convenceria um vendedor de pastel na praia, tal a falta de histórico, de consistência, de realidade nesses projetos.
Tampouco o Estado sempre é ineficiente, mas mesmo com suas ineficiências, o Brasil moderno é uma construção basicamente do Estado, todo o imenso parque hidroelétrico, o gigantesco complexo petróleo, gás e petroquímico, os sistemas de abastecimento de agua, os metrôs de seis cidades, pontes e rodovias, um enorme parque siderúrgico, foram criações do Estado brasileiro.
Os dois mais modernos empreendimentos dos últimos 50 anos no Brasil, a EMBRAER e o PRE-SAL iniciativas do Estado brasileiro e não dos “mercados”.
Sem essas realizações o Brasil teria hoje  a escala de uma grande Guatemala, um pais agrícola exportador e nada mais, foi o Estado que industrializou o Brasil e criou sua infra estrutura básica, então a pintura neoliberal não pode ser levada a sério, embora encontre milhares de propagandistas na mídia e entre os “economistas de mercado”.
UMA VISÃO DE PAÍS
Uma visão de pais escorada no que pensa o mercado financeiro é o que vemos hoje nas candidaturas presidenciais, é uma plataforma ridícula pela sua pequenes, os nossos colegas do BRICs tem uma visão de Pais de longo prazo, de projeção geopolítica e do interesse das gerações futuras que transcendem essas categorias micro de bolsa e cambio a que no Brasil se dá uma importância que não tem igual em nenhum outro grande País do mundo, é o rabo abanando o cachorro, a parte movendo o todo, o Brasil é grande demais para isso.



Nenhum comentário:

Postar um comentário