sexta-feira, 8 de março de 2019

Diplomata exonerado relata ao GGN o caos olavista e fundamentalista do Itamarati



Em entrevista ao GGN Paulo Roberto de Almeida, que foi cotado para assumir ministério das Relações Exteriores antes de Ernesto, mostra que decisão de afastá-lo está ligado às críticas que vem fazendo desde antes de Bolsonaro tomar posse. Ele conta que procurou orientar a equipe durante a campanha.

Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Jornal GGN – “Não é surpresa [que a minha demissão aconteceria], mas é surpresa no sentido de cair em uma segunda-feira de carnaval pela manhã”, ironiza o embaixador Paulo Roberto de Almeida, exonerado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipre), dia 4 de fevereiro.
Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, do GGN, o diplomata e também escritor ressalta que sempre manteve um posicionamento crítico aos governos, desde que iniciou sua carreira diplomática. Como anti-petista, chegou a “ficar na geladeira” do Itamaraty entre os anos 2003 e 2016, até que o ex-presidente Michel Temer lhe deu o cargo no Ipre.
Ainda em 2018, Almeida foi convidado pela equipe que formava o governo Bolsonaro para assumir o ministério das Relações Exteriores. “Recusei de imediato muitos meses antes que o chanceler olavista [Ernesto Araújo] fosse sequer cogitado”. Na ocasião, as tratativas estavam sendo feitas com a equipe econômica do atual governo e Almeida explicou que não era eleitor de Bolsonaro por considerá-lo “um candidato fraco”. Ele votou em João Amoedo.
Almeida conta ainda que chegou a mandar materiais para nortear a proposta de política externa do governo Bolsonaro. Mas quando leu o programa final, publicado entre agosto e setembro, considerou a proposta para política externa “um horror, sem fim”. “Muito medíocre. Critiquei isso e eles não gostaram. E nunca mais falaram comigo”, relembra.
Almeida conta ainda que chegou a mandar materiais para nortear a proposta de política externa do governo Bolsonaro. Mas quando leu o programa final, publicado entre agosto e setembro, considerou a proposta para política externa “um horror, sem fim”. “Muito medíocre. Critiquei isso e eles não gostaram. E nunca mais falaram comigo”, relembra.
Assim, mesmo sendo anti-petista e crítico às política econômicas keynesianas, Almeida não se aproximou dos grupos “bolsonaristas” e, antes das eleições de 2018, já considerava o “olavismo” (termo que remete às ideias do escritor Olavo de Carvalho), nocivo à política externa brasileira.
“Eu o conheço [Olavo de Carvalho] desde os anos 90, como polemista, um opositor ferrenho do petismo, marxismo vulgar, gramscismo acadêmico, dos filósofos da USP, todo aquele progressivismo dos nossos ‘intelectuais’ de academia, que ele desenhava (…) Mas eu não tinha nenhuma atividade com essa pessoa que julgava apenas um polemista oposto ao petismo”, destaca. Até que um dia foi convidado para uma entrevista-debate com a participação do escritor.
“Eles [entrevistadores] tinham definido os temas que estão na berlinda: globalismo e globalização. Eu disse o que eu pensava da globalização, o que é, digamos, o common sense [senso comum] entre os acadêmicos bem informados, e disse todo o mal que pensava dessa imbecilidade, dessa estupidez do globalismo, que é um monstro metafísico alimentado por illuminates e adeptos das teorias da conspiração que juntam George Soros com a esquerda”, pontua.
Após bater de frente com Olavo de Carvalho, ridicularizando sua principal teoria, Almeida tornou-se mais um desafeto do escritor.
“Hoje mesmo o Olavo de Carvalho disse que provou que eu era ignorante em matéria de globalismo. Isso ficou mais na opinião dele, evidentemente, não com base em nenhuma evidência empírica”, sorri.
O filósofo das massas de direita emplacou, pelo menos, dios ministros no governo Bolsonaro: além de Ernesto Araújo, Ricardo Vélez Rodríguez na pasta da Educação – o ministro que ganhou destaque recente por mais um escândalo do governo ao enviar para as escolas um e-mail pedindo vídeos de alunos e funcionários cantando o Hino Nacional, junto a leitura de uma mensagem, escrita por ele, finalizada com a frase “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Após a repercussão negativa, Vélez Rodríguez voltou atrás.
Já Ernesto Araújo é conhecido entre seus pares do Itamaraty como um crítico ferrenho do globalismo e do PT. Algumas das frases publicadas em seu blog, antes de assumir o novo cargo, causaram preocupação internacional como essa: “Ao longo do tempo […] a esquerda sequestrou a causa ambiental e a perverteu até chegar ao paroxismo, nos últimos 20 anos, com a ideologia da mudança climática, o climatismo”.

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